Como começar na jornada espiritual

Como começar na jornada espiritual

Trechos de uma palestra de Sri Chinmoy

As pessoas começam sua jornada espiritual com uma boa postura. Elas querem Deus, Verdade, Luz. Mas, depois de trilhar por dois, três ou seis meses, sentem que o caminho é árido. Percebem que não estão ficando famosos ou conhecidos ou que não estão operando milagres. Então desistem e seguem outro caminho, como o da kundalini. Esse caminho é bem fácil porque logo que obtém algo, você pode mostrar todos os seus poderes milagrosos ao mundo e sentir que é alguém importante. Mas esse poder nunca lhe trará sequer uma gota de paz de espírito. Primeiro de tudo, você será mal compreendido por muitos, porque o uso de poderes ocultos não eleva de forma alguma a consciência de ninguém. Como um mágico, você mostra algo que cria excitação que dura alguns minutos ou uma hora. Então você e aqueles que ficaram animados sentem-se miseráveis, porque sabem que isso não durará para sempre, que há realidades mais elevadas e verdades mais elevadas. Vocês dizem então: “Viemos ao mundo buscando paz, amor, alegria, felicidade, satisfação. Onde está a satisfação que desejamos?” E então entram para a vida espiritual de verdade, onde kundalini não é necessário. O que é necessário é apenas um anseio interior pela Verdade, Luz e Deleite. Uma vez que obtiver Verdade, Luz e Deleite, não se interessará pelo poder kundalini. É como uma criança que tem cinco centavos. Ela sabe que poderá distribuir os cinco centavos entre cinco crianças da sua idade. Mas, quando descobre que seu pai tem milhares de dólares, ela não se interessará mais pelos cinco centavos. Os milhares de dólares aqui representam o poder espiritual verdadeiro.

Se quiser se satisfazer com um pouco de poder kundalini, medite por algumas horas por dia, por seis ou sete anos, o que não é nada. Já realizar Deus leva diversas encarnações, a não ser que tenha um bom Mestre espiritual. …

Emoção: nossa inimiga ou amiga?

Emoção: nossa inimiga ou amiga?

O que é a emoção, como transformá-la, como saber se é algo elevado ou algo superficial, o choro interior e o choro exterior.

 

Sri Chinmoy ofereceu a seguinte palestra da série Dag Hammarskjold nas Nações Unidas, aqui resumida.

 

A emoção é nossa amiga e inimiga. Há muitos planos de consciência, mas costumamos lidar com dois planos: o físico e o espiritual. No plano físico, a emoção começa doce, mais doce, dulcíssima. Então chega a hora em que essa emoção é seguida pela frustração, e a frustração é seguida pela destruição. Por que é assim? Isso acontece precisamente porque a emoção em jogo no físico é ainda obscura, não iluminada e impura. No plano físico, a emoção nada é além de autoexposição, consciente ou inconsciente, sob compulsão ou espontânea.

Há um tipo de emoção no plano espiritual, no coração, ou existência psíquica. Essa emoção é sempre Auto-iluminadora e Deus-preenchedora. No mundo espiritual, no mundo interior, a emoção é verdade-expansão, divindade-expansão e perfeição-manifestação. Naturalmente, podemos incluir também “Deus-satisfação”, pois a Deus-satisfação só cresce na verdade-expansão, divindade-expansão e perfeição-manifestação.

No plano humano há diversas forças não divinas que nos atacam e forçam a nos render ou utilizar a raiva, ansiedade, preocupações, apego, pena de si e auto-imolação.

O que é a raiva? Ela é uma força que não nos permite estarmos conscientes da nossa realidade-unicidade com os demais, que são nossa realidade estendida, expandida. …

Como superamos a raiva? Um Mestre espiritual pode lhe sugerir manter a mente calma e silenciosa, e orar a Deus e meditar em Deus. Seremos capazes de nos libertar da selvagem raiva que há em nós. O conselho do Mestre espiritual está absolutamente certo. Mas, se quiser superar a raiva na hora, a forma mais fácil e efetiva é repetir o Nome de Deus tão rápido quanto o possível a cada inspiração de ar que tomamos…

Como conquistamos serenidade? Como alcançamos equanimidade? Conseguimos equanimidade mental quando não vivemos na mente, mas em outro lugar. Que lugar é esse? É o coração. … E o que é serenidade? É um tipo de emoção divina. Não é excitação. Obtemos essa serenidade quando nos identificamos com o Infinito, o Eterno, o Imortal.

O medo é outro tipo de emoção que cumpre seu papel ao nos separar da nossa vasta realidade-unicidade. A dúvida é quase igual. …

O apego é uma forma de emoção. Assim como o apego é uma forma de emoção, também o desapego é uma forma de emoção. Quando há apego, vemos um cabo-de-guerra entre dois exércitos. Ele nos prende para nos gratificar. O apego nos faz sentir que nenhum indivíduo é completo…

O desapego também é uma forma de emoção… O desapego não é indiferença. Ele é a nossa verdadeira existência, que vive em nossa realidade verdadeira – seja a realidade-Céu ou a realidade-Terra. Desapego é emoção, mas ele não é afetado pelos acontecimentos, incidentes e experiências da realidade que enxerga; está sempre um centímetro acima em consciência. …

Sinceridade e insinceridade também são emoções. Com sinceridade voamos, voamos no vasto e ilimitado céu. Com a insinceridade entramos numa pequena caverna para escapar. Com a sinceridade tentamos espalhar nossas asas e dar ao mundo o que temos e o que somos. Com a insinceridade escondemos nosso mundo-realidade, que consideramos apenas nosso.

Puereza e impureza. Pureza é a nossa Auto-expansão, e impureza é a nossa Auto-imolação. Com cada alento-pureza que respiramos, aumentamos a nossa realidade-Deus. E, com cada alento-impureza que respiramos, rendemos nossa existência às mandíbulas da morte.

Pureza e sinceridade são dois atributos divinos que devem ser aplicados por todos os buscadores no dia a dia. A emoção deve ser disciplinada sinceramente na mente central. Quando a mente se torna sincera ela se abre conscientemente, devotadamente e com toda alma à Vastidão. …

A pureza é do coração e está no coração, mas ela vive para a alma. A alma é a representante consciente de Deus dentro de nós. O coração de pureza é o coração que descobre Deus conscientemente. O coração de pureza é consciente Deus-revelação e Deus-manifestação.

Por fim, todas as nossas emoções dão lugar a lágrimas, sejam lágrimas terrenas ou lágrimas divinas. As lágrimas terrenas são o resultado do fracasso, frustração e falta de satisfação. As lágrimas divinas são as lágrimas de gratidão oferecidas à Fonte, ao Amado Supremo, o Piloto Interior, o Amigo Eterno….

 

 

Como aprender mais sobre os sonhos

textos de Sri Chinmoy, volume XII

Sonhos

Sri Chinmoy

 

Como podemos ter sonhos espirituais?

Se quiser ter sonhos doces, sonhos inspiradores, você deverá meditar com toda alma de manhã cedo – às três, quatro ou mesmo cinco horas. Se você costuma acordar as cinco, levante-se às quatro horas. Tome uma ducha adequada e medite por pelo menos meia hora. Após a meditação, sente-se ou deite-se e se concentre no seu umbigo. Não pense em sonhos. Tente sentir que o seu chakra umbilical está se abrindo. Imagine que uma roda está girando bem rápido lá. Porque você meditou por meia hora, não precisará se preocupar com o fato de estar entrando nesse chakra, mesmo se tratando do chakra vital. Volte a dormir por meia hora ou quarenta minutos. Se a sua meditação foi boa e genuína, se veio das profundezas do seu coração, quaisquer sonhos que tenha depois dela serão divinos, dinâmicos, belos, coloridos e repletos de alma. Serão sonhos sobre anjos e deuses, ou sobre a sua vida espiritual. Ou então você verá algumas coisas inspiradoras, encorajadoras. …

Se você quer ter sonhos dos mundos superiores e não dos mundos inferiores, antes de dormir medite por pelo menos cinco minutos no centro umbilical e nos centros abaixo do umbigo. Você fará isso para trancar as portas que levam a esses centros. E medite por cinco minutos no seu centro cardíaco e nos centros acima do coração. Você fará isso para destrancar as portas que levam a esses centros. Enquanto tranca as portas do centro umbilical e dos centros inferiores, tente sentir a energia dinâmica e vulcânica de um herói-guerreiro. Enquanto destranca o centro do coração e os centros superiores, tente sentir a alegria e o deleite de uma criança. Se puder fazer isso, sem falha você terá sonhos dos mundos superiores.

Eu deveria orar para não ter sonhos ruins, ou seria melhor simplesmente deixar que os sonhos que vierem venham?

Primeiro medite no coração e sinta a verdadeira presença da luz. Então pegue essa luz e lance-a no escuro abismo do umbigo para sua purificação. Você não terá sonhos ruins porque o seu vital estará purificado.

Por que é que eu tenho uma meditação maravilhosa e durante a noite tenho sonhos vitais impuros?

Quando você tem sonhos vitais, isso quer dizer que o seu vital deve ser purificado. Se deixar o seu quarto bagunçado, você não pode esperar entrar no quarto e de repente encontrar tudo espontaneamente limpo. Você tem de entrar no quarto e tentar limpar a bagunça, colocando algo de lado e jogando fora outras coisas.

Durante a sua meditação, você está recebendo luz. Quando essa luz entra no seu ser, ela pode mostrar que o seu vital necessita de purificação.

Se você entrar num quarto escuro sem uma luz, não enxergará nada e talvez ache que está tudo certo. Mas uma vez que ligar a luz, verá que nada está certo, que todos os tipos de forças destrutivas estão no quarto. Isso é bom, porque então você estará em posição para transformar essas forças. Quando obtém paz, luz e deleite da sua meditação, você tem a possibilidade de entrar no seu vital e purificá-lo. Quando tiver uma meditação poderosa, tente trazer a luz da sua meditação para o vital. Os sonhos serão purificados pelo poder da sua meditação.

Como podemos obter mais controle sobre a pureza no estado de sonho?

…  Se você puder meditar em pureza com toda a alma e se puder ser perfeito na sua vida interior durante o dia, eu lhe asseguro que também será perfeito mesmo enquanto dorme profundamente. Uma vez que tenha pureza nos sonhos, ficará muito satisfeito, pois sonho representa realidade, e realidade representa sonho. O que você sonha é realidade em algum outro mundo, num mundo superior ou num mundo inferior. Se puder ter certa mestria sobre a impureza no mundo físico, eu lhe asseguro que no mundo dos sonhos também você terá mestria sobre a sua impureza.

Pergunta: Como posso continuar a minha aspiração durante o sono?

Sri Chinmoy: Antes de dormir, medite com toda alma e sinta que essa meditação é como seu guia consciente, que o levará até a sua meta. Você segue o guia. Ele o carregará durante o sono e o colocará no seio do acordar.

Qual é a diferença entre sonhos humanos e o Sonho de Deus?  

Há uma grande diferença entre os sonhos humanos e o Sonho divino de Deus. Os sonhos humanos são apenas fantasias mentais. Na maior parte do tempo, são apenas pensamentos fortes, ideias ou invenções. Por vezes nos tornamos vítimas de forças hostis que nos fazem sonhar todo tipo de coisas horríveis. Ou criamos as nossas próprias fantasias, que podem aparecer como sonhos durante a noite. O Sonho de Deus é o Sonho divino que é precursor da Realidade. …

Qual é a melhor forma de sabermos o significado dos nossos sonhos?

É muito difícil dar o valor certo aos sonhos. Assim como há sete mundos superiores e sete mundos inferiores, também há muitos mundos dos sonhos. Se alguém tem um sonho num mundo particular, o seu significado será um e, se o tiver num mundo de sonhos mais elevado, o significado será totalmente diferente. Cada plano deve ser conhecido e compreendido corretamente. Cada plano oferece a verdade de uma maneira particular.

Muitos livros foram escritos sobre sonhos. Cada um tem a sua maneira própria de explicar os sonhos. Se você ler livros sobre a interpretação dos sonhos, cada livro mostrará um significado diferente para um mesmo evento similar. Não é possível existir uma explicação padrão dos sonhos porque se deve conhecer de que plano o sonho está vindo. …

Eu senti que estava subindo uma colina muito íngreme com uma grama verde e bela. Estava ficando muito íngreme, e eu fiquei com medo, mas continuei subindo com a ajuda de uma pessoa não identificada. Quando eu estava prestes a chegar ao topo, fui distraído por algumas monjas oferecendo flores.

Eu gostaria de dizer que o caminho espiritual é muito árduo e muito íngreme. Quando você tem de subir, é muito difícil. Os seres que você viu não eram monjas; eram anjos. Mas você sentiu no sonho que eram monjas porque a sua mente física estava operando. A sua mente física não queria que você visse anjos, porque não queria que você sentisse tanta alegria. A mente é assim. Ela destrói tudo. Com o seu coração, você foi muito alto, mas a sua mente quis diminuir a sua alegria e fez com que você os visse como monjas. Se a mente não tivesse interferido, você teria ficado muito feliz em ver anjos com flores.

Durante várias manhãs eu ouvi um pássaro cantando uma bela música durante o meu sono, como uma flauta. Mas, quando eu acordo, não consigo me lembrar da música.

 Esse pássaro é a sua alma, e a música está vindo da sua alma. Quando você está dormindo, a sua consciência possui um livre acesso à sua alma. Mas quando acorda e volta à vida comum, não consegue manter esse livro acesso, pois a sua consciência física não está em contato com a sua alma. Se tiver uma meditação bem poderosa antes de ir para a cama, será capaz de manter a consciência da alma na manhã seguinte. Durante a sua meditação, tente sentir que você não é o corpo, mas sim a alma, e, ao mesmo tempo, que você existe para a alma. Então facilmente conseguirá se lembrar da música do seu pássaro-alma.

 

Textos compilados de Meditação Brasil – Sonhos Espirituais

Meditando com o coração, meditando na alma

Coração e alma

Se você meditar no coração, meditará onde está a alma. É verdade que a luz e a consciência dela permeiam o corpo todo, mas existe um lugar onde a alma mora a maior parte do tempo: o coração. Se você quiser iluminação, precisa consegui-la por meio da alma, que está dentro do coração. Quando sabe o que quer e onde conseguir, o mais sensato é ir até o lugar certo. Senão, será como ir até a loja de ferragens para comprar legumes.

Há uma grande diferença entre o que pode ser obtido com a mente e o que pode ser obtido através do coração. A mente é limitada. O coração é ilimitado. Nas suas profundezas, você é paz, luz e bem-aventurança infinitas. Conseguir uma quantidade pequena é uma tarefa fácil. Meditar na mente pode lhe proporcionar isso. No entanto, você poderá conseguir infinitamente mais se meditar no coração. Digamos que você tem a oportunidade de trabalhar em dois lugares. Num deles, o salário é de duzentos dólares. No outro, quinhentos. Se for sábio, não desperdiçará o seu tempo no primeiro lugar.

Enquanto tiver uma tremenda fé na mente, que complica e confunde tudo, é certo que ficará decepcionado com a sua meditação. As pessoas comuns pensam que complicação é sabedoria. Mas as pessoas espirituais sabem que Deus é muito simples. É na simplicidade, e não na complexidade, que habita a verdadeira realidade.

Não estou dizendo que a mente é sempre má. Nem sempre é isso. Mas ela é limitada. No máximo, o que você pode conseguir dela é inspiração, que também é limitada. Para uma aspiração verdadeira, você precisa ir até o coração. A aspiração vem do coração porque a iluminação da alma está sempre lá presente. Ao meditar nele, você não só consegue a aspiração, mas também alcança o a satisfação dessa aspiração: a paz, a luz e a bem-aventurança infinitas da alma.

 

A meditação no coração

É melhor meditar no coração do que na mente. A mente é como a Times Square, em Nova Iorque, na véspera do Ano Novo. O coração é como uma caverna solitária no Himalaia. Se você meditar na mente, talvez seja capaz de meditar por cinco minutos. Desses cinco minutos, talvez durante um só medite poderosamente. Depois, você vai sentir que a sua cabeça inteira está ficando tensa. Primeiro, você obtém alegria e satisfação. Em seguida, poderá sentir um deserto árido. Entretanto, se você meditar no coração, vai adquirir a capacidade de se identificar com a alegria e a satisfação que está recebendo. Assim ela será permanentemente sua.

Se você meditar na mente, não vai se identificar. Você procurará entrar em alguma coisa. Se quiser entrar na casa de alguém para pegar o que ele tem, você precisará quebrar a porta ou implorar para que o dono da casa a abra. Implorando, você se sentirá como um estranho, e o proprietário também achará a mesma coisa. Então, ele pensará: “Por que eu deveria deixar que um estranho entre na minha casa?” No entanto, se você usar o coração, imediatamente as qualidades de suavidade, doçura, amor e pureza virão à tona. Quando o dono da casa perceber que você é todo coração, imediatamente o próprio coração dele se tornará um com o seu, e ele o deixará entrar. Ele vai sentir a sua unicidade e dirá: “O que você quer da minha casa? Se precisa de paz, pode pegá-la. Se precisa de luz, pode pegá-la também”.

Mais uma coisa: se entrar na casa com a sua mente, verá alguns frutos deliciosos e no mesmo instante tentará pegá-los. Você ficará satisfeito ao consegui-los, mesmo que não seja capaz de comer tudo. Mas, se usar o coração, verá que o seu grau de receptividade é ilimitado. Usando a mente, você tentará selecionar. Você dirá: “Este fruto é melhor. Este outro é pior”. Todavia, se entrar na casa com o seu coração, sentirá que tudo ali é seu e aproveitará tudo. O centro do coração é o centro de unicidade. Primeiro, você se identifica com a verdade. Depois, através da sua identificação, transforma-se na verdade.

 

Deus e a meditação

Deus e a meditação

textos de Sri Chinmoy

O que é meditação?

Sri Chinmoy: Meditação é a percepção consciente de Deus. Somos todos buscadores. Quando somos buscadores, nosso dever é sermos conscientes de Deus vinte e quatro horas por dia. Se acreditamos em Deus, naturalmente sentiremos que ele existe. Mas esse sentimento não é espontâneo; ele não dura vinte e quatro horas por dia. Quando meditamos, chega a hora em que sentimos e percebemos vinte e quatro horas por dia que somos de Deus e existimos por Deus. A percepção constante e consciente de Deus – Sua Verdade, Luz e Deleite – é chamada de meditação.

O que é Deus? Onde Ele está?

Sri Chinmoy: Deus está em todo lugar. Mas se não O vermos ou sentimos dentro dos nossos corações, não seremos capazes de vê-Lo em qualquer lugar. Primeiro devemos vê-Lo dentro de nós e falar com Ele dentro dos nossos corações. É quando fizermos isso que seremos capazes de ver Deus em todo lugar também. Se não temos Deus em nosso coração, não seremos capazes de falar com Deus ou nos relacionar com Ele.

Quem é Deus? Deus é sem forma e com forma. Ele é energia pura e, ao mesmo tempo, Ele é a mais luminosa forma. Ele é energia sem começo e energia sem fim. Ele é também a forma mais luminosa. Deus é água e gelo. Algumas pessoas gostam de água, e outras, de gelo. Às vezes as pessoas querem beber água, e às vezes querem gelo.

Depende do buscador e do que ele procura. Ele pode querer ver Deus de forma humano – mas absolutamente divino, supremo, perfeito. Ele sente que se houver uma forma será mais fácil reconhecer Deus ou realizar Deus. E então prefere ver o Deus personificado. Mas se alguém quer ir além do Deus pessoal, além da forma, além da dualidade e ficar sempre na Paz, Luz e Deleite infinitos, isso também pode acontecer. Além disso, o mesmo buscador pode de manhã buscar pelo Deus com formas e atributos e, de noite, ansiar pelo Deus como uma energia sem forma, ilimitada.

A meditação é para todos, independentemente se uma pessoa está buscando Deus conscientemente?

Sri Chinmoy: Sim, a meditação é para todos, quer a pessoa esteja buscando Deus conscientemente ou não. O que se deve saber é o quão longe deseja ir. Alguém pode estudar no jardim de infância. Alguém pode ir para o ensino médio, universidade, mestrado ou doutorado. Mas esse é o conhecimento exterior. A meditação nos dá sabedoria interior.

Você pode estar satisfeito com uma gota de sabedoria interior. Mas você pode perceber que só ficará satisfeito com Paz, Luz e Deleite ilimitados. Depende de onde o buscador quer chegar. Assim como vamos para a escola para obter conhecimento exterior, devemos meditar para termos sabedoria interior. Se o buscador quer ficar satisfeito com apenas uma fração de Paz, Luz e Deleite, ele a terá. Se ele quiser ilimitadas Paz, Luz e Deleite, ele também as terá, contanto que continue a meditar regularmente, devotadamente, com alma, sem reservas e incondicionalmente.

Textos curtos sobre espiritualidade e meditação

Textos curtos de Sri Chinmoy sobre espiritualidade e meditação

Silêncio

Quando você medita e mergulha fundo, entra no reino de silêncio, silêncio verdadeiro. Nesse silêncio a Realidade nasce. Mas quanto está em silêncio profundo, silêncio real, silêncio espiritual, você também vê que a verdade nasce, o amor nasce, a beleza nasce. Tudo nasce e cresce e floresce. No silêncio verdadeiro, a Realidade se torna constantemente diversas formas e modos.

Sinceridade

Deus nos concede sinceridade apenas quando sentimos que seremos para sempre Seus filhos divinos. Todos são sinceros de acordo com sua percepção da sinceridade, mas um buscador deve ser sincero a todo momento no que ele diz e faz para se tornar a imagem de Deus. Sua sinceridade deve ser constante e contínua. Sua vida não deve se separar da sinceridade mesmo por um segundo.

Adoração da Alma

A adoração da alma é sempre para o Supremo. Essa adoração divina a alma recebeu do Supremo, e a alma sente a satisfação altíssima quando retorna ao Supremo as suas próprias conquistas.

A adoração da alma é a coisa mais doce na criação de Deus. No dia em que Deus criou a adoração da alma, Deus sentiu que criou algo do qual Ele pode realmente se orgulhar.

Supremo

Pense no Supremo. Você sentirá que a sua vida possui algum significado.

Medite no Supremo. Você sentirá que Deus precisa de você.

Ofereça-se ao Supremo. Você sentirá que o Supremo já lhe ofereceu o Seu alento-vida e a Sua própria existência a você, ao aspirante dentro de si, ao buscador que há em você, por toda a Eternidade.

Entrega

Na vida espiritual, quando nos entregamos, rendemos a nossa vida inferior conscientemente à nossa vida superior. Entregamos a nossa vida inferior porque sentimos que a nossa parte superior é realmente nossa. A verdadeira entrega é a aceitação consciente da vontade e sabedoria do Infinito pelo finito.

Temos de nos entregar apenas Àquele em quem temos uma fé perfeita. Não nos renderemos aos pensamentos, vontades, ordens ou exigências dos outros, mesmo se forem superiores em termos de idade ou posto. Nada disso. Nos entregaremos apenas a Ele em quem temos uma fé perfeita, à Realidade, ao Piloto interior, onde teremos nossa verdadeira satisfação.

Vontade

A vontade física dura um fugaz segundo. A vontade do vital muitas vezes cumpre o papel da destruição. A vontade mental cedo ou tarde descobre satisfação ao se contradizer. A vontade psíquica, a vontade da alma, não apenas encontra satisfação, mas também um sentimento de completude ao se identificar com a Vontade de Deus. A vontade psíquica obtém sua iluminação e sua mensagem de perfeição através da entrega incondicional à Vontade universal.

Sabedoria

O que queremos dizer com a palavra ‘sabedoria’? Normalmente quer dizer algo superior ao conhecimento, algo mais profundo. No mundo espiritual, a palavra ‘sabedoria’ não é utilizada com essa conotação. Aqui a sabedoria significa Luz, Luz iluminadora, Luz transformadora. Aquilo que ilumina a nossa consciência obscura é sabedoria. Aquilo que transforma a consciência fininha na Consciência infinita é chamado de sabedoria.

Realidade

A realidade física é quase um sonho. A realidade espiritual é Eternidade, Infinidade e Imortalidade. Se você concentrar-se diariamente na verdade, sentirá unicidade com a sua própria realidade. Esta é a sua vida real. E o que é a sua própria Realidade, a Realidade última? A Realidade última é o divino satisfeito e manifestado que um dia a humanidade se tornará.

Paciência

Paciência é uma força divina. Muitas vezes as pessoas comuns não conhecem o significado da paciência. Elas sentem que é algo feminino, uma forma de covardia ou uma maneira relutante de aceitar a verdade. Sentem que, porque não há outra forma, devemos ser pacientes. Mas se pudermos ser conscientes de forma consciente, fortaleceremos a nossa vontade interior e ampliaremos o escopo da nossa manifestação divina.

Unicidade

Unicidade com pessoas não aspirantes é jantar com a morte. Unicidade com pessoas aspirantes é dançar com Deus.

Aspiração

A aspiração incipiente de hoje não apenas é a realização satisfatória, mas também a realização satisfeita do amanhã.

Despertar

Na vida espiritual, o despertar da alma não é o suficiente. Muitas pessoas são despertas para a verdade, para a vida interior. Mas, depois de ser desperto, deve-se mergulhar, correr, voar. Deve-se mergulhar no mais íntimo, correr ao mais longínquo, voar para o altíssimo. Apenas então o despertar do buscador pode desabrochar numa flor de realização.

Filosofia, meditação e espiritualidade

textos de Sri Chinmoy, volume VII

 

Filosofia, meditação e espiritualidade

Sri Chinmoy

Esses escritos são apenas amostras dos seus ensinamentos, não sendo a sua filosofia completa sobre o tema.                      

 

É importante que cada ser humano tenha uma filosofia pela qual viva?

Sri Chinmoy: Sim, mas não a filosofia da mente. Se encarar a filosofia como uma forma de viver, essa maneira de viver deve vir da sua aspiração interior e orientação interior. Quando o seu guia interior lhe disser algo, encare aquilo como algo muito importante em sua vida. O seu guia interior lhe dirá como viver na Terra e servir a Deus e à humanidade.

Se tomar a palavra filosofia e colocá-la dentro do seu coração, você verá que a filosofia do coração, a filosofia interior, é absolutamente necessária e extremamente importante.

 

Você concorda que algumas pessoas são levadas à espiritualidade primeiramente através da filosofia?

Sri Chinmoy: Certamente. Não somente algumas pessoas receberam uma promoção para a espiritualidade vindas da filosofia, mas eles finalmente se tornaram gigantes espirituais. O próprio Sri Aurobindo disse que ele começou como um poeta, então se tornou um filósofo, um aspirante espiritual e, por fim, um grande Mestre espiritual. Vivekananda também estava profundamente imerso em filosofia. Em seus dias de aluno ele estudou filósofos ocidentais em profundidade. Ele costuma discutir longamente com as pessoas baseado em seu conhecimento e sabedoria filosóficos. Então ele se voltou para a espiritualidade. De forma similar, muitos que tinham uma base filosófica no início adentraram a espiritualidade e se tornaram grande personalidades espirituais.

No meu caso, a poesia, filosofia, espiritualidade e yoga* – tudo – caminharam juntos, e me tornei um faz-tudo, mas mestre de nada! Quando eu era jovem, a poesia adentrou a minha vida. Aos vinte e dois ou vinte e três anos, eu já havia estudado quase todos os filósofos ocidentais. Aos vinte e cinco eu conhecia bem a filosofia ocidental. Mas hoje eu oro a Deus para que remova da minha mente mesmo o pouco de filosofia ocidental que ainda lembro. Agora eu oro a Deus: “Tire a filosofia da minha cabeça. Mantenha apenas a espiritualidade.”

*N.d.T.: quando Sri Chinmoy se refere a yoga, ele quer dizer a busca ou realização da unicidade com Deus, e não os exercícios físicos dos diferentes tipos de hatha yoga

 

Quais as melhores qualidades da filosofia ocidental, quando comparado com a filosofia oriental?

Sri Chinmoy: A filosofia oriental, principalmente a filosofia indiana, nos diz: “Mergulhe fundo. Você descobrirá um trampolim. Se pular no trampolim, será capaz e ir muito alto. Mergulhe fundo para descobrir como subir alto, mas alto, altíssimo.” Esse é o modo da filosofia oriental.

A filosofia ocidental não nos instiga nesse caminho. Ela é como uma tropa de soldados marchando. Ela nos diz: “Siga em frente, em frente.” A filosofia ocidental começa com a forcá física, vital e mental. Mas a filosofia oriental, a filosofia indiana, começa com algo mais profundo. Você pode chamar isso de coração ou de alma.

Portanto, a filosofia oriental mergulha fundo para subir algo, mais alto, altíssimo. A filosofia ocidental nos instiga seguir em frente ou, em raros casos, subir. Mas ela não mergulha fundo como a filosofia oriental. Essa é a grande diferença.

 

Há uma única resposta filosófica que responde todas as perguntas?

Sri Chinmoy: Se usarmos a abordagem de Ramana Maharshi, podemos dizer “Quem sou eu?” Essa é a pergunta mais importante e, ao mesmo tempo, a resposta mais importante. Para mim, “Quem sou eu?” não é apenas a pergunta das perguntas, mas também a resposta das respostas. Quando você pergunta aos grandes Mestres espirituais “Quem sou eu?”, a pergunta já está respondida. A filosofia de Ramana Maharshi era sempre perguntar, “Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu?”

“Quem sou eu?” é uma pergunta. E “Quem sou eu?” também é a resposta, porque imediatamente a resposta vem: “Quem eu não sou?” O positivo e negativo sempre andam juntos. A pergunta vem com um desafio, mas dentro da pergunta está a resposta: há algo que eu não seja? Há alguém que eu não sou?

Por fim, todas as perguntas que a filosofia faz podem ser reduzidas a “Quem sou eu?” A resposta vem espontaneamente: “Quem eu não sou?” A pergunta e a resposta podem ser encontradas no mesmo lugar.

 

Qual é a filosofia para a humanidade no próximo milênio?*

*N.d.T.: o terceiro milênio

Sri Chinmoy: A filosofia para novo milênio será: não veja os defeitos na vida de ninguém, não veja os defeitos na sua própria vida. Apenas se force a ver todas as coisas boas que você fez, todas as coisas boas que você está planejando fazer e todas as boas coisas que os outros fizeram. No próximo milênio, a meta da filosofia será apenas enxergar a luz em si mesmo e a luz nos outros. Apenas então você será capaz de acelerar a chegada da paz mundial e unicidade mundial.

 

Qual é a diferença entre a filosofia da mente e a filosofia do coração?

Sri Chinmoy: A filosofia da mente é: estamos aqui, mas Deus está em outro lugar.

A filosofia do coração é: Deus está lá, no alto, nos céus. Mas Deus também está aqui, dentro do coração da Sua criação.

A Filosofia de Deus é apoiar tudo e todos que estão na Sua criação. A Filosofia de Deus é apoiar todas as filosofias que o homem puder imaginar.

 

Existe um perigo de se perder na filosofia?

Sri Chinmoy: Sim, há um grande perigo de se perder na filosofia. Muitas, muitas pessoas perderam sua espiritualidade por se envolver demais nos malabarismos mentais da filosofia.

 

… A minha filosofia é a aceitação absoluta da vida. A vida deve ser aceita. Nesta vida está o Alento vivo de Deus. Deus não está apenas no Céu, mas também dentro de nós. Deus e a Sua criação nunca pode ser separados. …

Estória: o buscador desesperado

textos de Sri Chinmoy, volume VIII

Estória: o buscador desesperado

Sri Chinmoy

Estes escritos são apenas amostras dos seus ensinamentos, não sendo a sua filosofia completa sobre o tema

 

Cerca de cinquenta anos atrás, viveu na América um Mestre espiritual que tinha cerca de quarenta ou cinquenta discípulos. Esse Mestre estava sempre disposto a conceder entrevistas a seus discípulos e outros buscadores sinceros que vinham até ele buscando orientação espiritual.

Certo dia ele foi visitado por um jovem escritor que havia escrito ao Mestre em uma ocasião anterior sobre seus problemas. Naquele dia, ele tinha um problema em particular que gostaria de discutir com o Mestre.

“Mestre, por favor, me ajude,” disse o jovem rapaz. “Pelas últimas duas semanas, mal consegui dormir. Nunca meditei muito. Eu sempre achei que atividades mentais eram mais satisfatórias. Mas agora, quase todas as noites eu acordo com um sentimento desesperado em meu coração. De repente, sinto que estou precisando desesperadamente da espiritualidade. Tentei em vão tentar compreender esse sentimento. Minha mente não parece capaz de analizá-lo. Mas, já que não consigo enxergar claramente com a minha mente o que está acontecendo comigo, fico preocupado de poder estar sofrendo de algum delírio. Você poderia me ajudar? Esse sentimento desesperado que tenho é perigoso para a minha saúde mental?”

O Mestre respondeu: “Não, não é perigoso. Você está clamando pela satisfação do seu choro interior. Você não está chorando com a mente. Você está chorando dos mais profundos recônditos do seu coração. O coração interior possui capacidade infinita. Ele não é limitado como a mente. Não é preciso abordar a Verdade altíssima com a mente. Portanto a saúde mental não faz parte da questão.

“Mas por que eu estou sentindo esse anseio, Mestre? O que estou realmente ansiando por?”

“Quando ansiamos em nossas profundezas,” o Mestre disse, “é porque conhecemos a necessidade de Paz, Luz e Deleite. Quando temos esse tipo de anseio interior, essas qualidades vem à tona a partir do interior ou baixam a partir das alturas. Digo aos meus discípulos que podem desenvolver o clamor interior ao dar mais importância para aquilo que eles realmente precisam nas suas vidas. Quando damos importância para nossas necessidades reais, automaticamente o nosso anseio interior, a nossa sinceridade interior está fadada a aumentar. Quanto mais sentimos que precisamos desesperadamente de Paz, Luz e Deleite, mais cedo o nosso anseio anterior aumenta.

“Como podemos satisfazer essa necessidade?” perguntou o buscador.

“No mundo exterior, quando temos fome, tentamos satisfazer a nossa fome. Se não há comida em casa, vamos a um restaurante ou para a casa de um amigo. De forma similar, a vida espiritual quando estamos verdadeiramente famintos por Paz, Luz e Deleite, iremos a um Mestre espiritual que pode satisfazer nossa fome. Primeiro de tudo ele aumentará a nossa fome interior e então ele a satisfará.”

“Mas e a minha falta de sono? Ela é prejudicial ou detrimental para a minha saúde?”

O Mestre explicou: “Se tivermos Paz. Luz e Deleite dentro de nós, essas qualidades divinas não prejudicarão a nossa saúde. Pelo contrário, elas fortalecerão o físico. O físico terá uma nova sinceridade, uma nova fé para satisfazer o divino em nós. A palavra ‘sinceridade’ é muito importante. Se quisermos alcançar Paz, Luz e Deleite a ferro e fogo, se tentarmos usar a força do físico ou do vital, se tentamos forçar ou exagerar, traremos problemas desnecessários para a nossa mente. Contudo, se dependermos do anseio interior, nossa sinceridade nos transportará para o Altíssimo. Nessa hora, a proteção divina estará presente. Ela não permitirá que tenhamos quaisquer problemas mentais.”

“Como posso me tornar verdadeiramente sincero, Mestre? Como posso saber se sou sincero?”

O Mestre o assegurou: “No seu caso, você tem sinceridade. Mas, às vezes, apesar de sermos sinceros, ainda tentamos forçar algo. Tentamos acelerar o nosso progresso com a nossa energia vital ao invés de depender da nossa própria sinceridade interior. Quando temos um anseio interior sincero, descobrimos que é o ser interior que está ansiando dentro de nós e por nós. E quando o ser interior anseia, nossa mente exterior não precisa e pode não ser afetada. É apenas quando tentamos alcançar algo com a mente exterior é que ela será afetada, porque ela não está pronta para receber essas qualidades de uma maneira divina.”

“Mestre, posso fazer uma última pergunta? A paciência também é uma qualidade divina. Tenho medo de que com este sentimento de desespero, a impaciência virá.”

“Se você sabe o que é paciência,” o Mestre diz, “é muito fácil ter paciência. Se você sente que pode ser paciente por um certo tempo, ficará impaciente quando o tempo acabar. Se você pensa que em dois dias você realizará Deus, mas se Deus ainda estiver se escondendo de você após dois dias, dois meses, dois anos, você ficará impaciente.”

“Como podemos cultivar paciência?” perguntou o escritor.

“Você deveria sentir ‘eu realizarei Deus na Hora escolhida por Ele. Meu papel é orar e meditar, e o papel de Deus é me conceder realização quando sentir que a hora chegou.’ Se você sentir isso, a paciência virá. Você é responsável apenas pela sua oração e meditação, e dá a responsabilidade pelo resultado a outra pessoa, que é Deus. Deus apenas pediu que você orasse e meditasse; Ele não fixou uma hora para você ir visitá-Lo. Cada um de nós deve cuidar das próprias coisas. O tempo pertence a Eles, mas a oração pertence a vocês. Desta forma, você pode ser divinamente paciente.”

“Mestre,” disse o jovem, curvando-se com toda a humildade, “você não apenas respondeu todas as minhas perguntas hoje, mas também me deu a resposta para as perguntas de toda a minha vida. A partir de hoje, o clamor interior do meu coração será a minha outra realidade.”

Sri Chinmoy, do livro “Is God Really Partial”, 3 de novembro de 1973

O mundo interior e o mundo exterior Sri Chinmoy

Um compilado de textos de Sri Chinmoy. Esses escritos são apenas amostras dos seus ensinamentos, não sendo a sua filosofia completa sobre o tema.                      Fonte: www.srichinmoylibrary.com

O mundo interior nos diz que amar Deus é a nossa responsabilidade suprema, nossa única responsabilidade e nosso dever. O mundo exterior nos diz que servir a Deus, a Autoridade Suprema, é o nosso dever.

Se vivemos no mundo exterior e não aspiramos, seremos perseguidos por muitas perguntas. A primeira e mais importante é: “Quem é Deus?” A resposta será dada pelo mundo interior, mas não a ouviremos. A resposta do mundo interior é: “Quem não é Deus?” Essa é a resposta certeira que obteremos do mundo interior. Apesar de também ser uma pergunta, dentro dela mora está a resposta: todos são Deus, Deus no processo de auto-preparação, auto-revelação e auto-manifestação.

Há buscadores maduros e buscadores imaturos. Há pessoas aspirantes na Terra e há pessoas não aspirantes na Terra. As pessoas não aspirantes nos dirão que a vida interior é inútil. Elas dirão que os buscadores espirituais estão buscando uma meta vazia. Não há objetivo: é tudo fantasia mental, alucinação e autoengano. As pessoas aspirantes que não são maduras de tempos em tempos tentam fazer os outros sentir que são maduras. Elas oferecem sua própria sabedoria e julgamento, dizendo que o mundo exterior nada é senão um elefante enfurecido, que a agressão é o que reina, a destruição é o que reina. Essas pessoas sentem que não há alma, objetivo, realidade, mas sim apenas um elefante enlouquecido ou um tigre devorador que está destruindo o mundo exterior.

Mas os buscadores da Verdade suprema que possuem uma certa luz sabem com uma certeza que o mundo interior e o mundo exterior são ambos criações de Deus. Quando pensamos sobre o mundo interior, somos lembrados de Deus, a criação. O Criador e a criação devem ser vistos juntos. Deus sente que Ele é completo e perfeito precisamente porque Ele possui a criação dentro de Si, Consigo, a Seu redor e por Ele. A criação sente que é perfeita porque Deus, que é todo Perfeição, é a sua Fonte. Sem o auxílio e capacidade do mundo interior, não é possível progredir; ficamos cegos. A pessoa precisa de luz para caminhar pela estrada da perfeição, ou não conseguirá alcançar o seu destino, que está muito, muito distante. E, caso não dê o valor adequado às capacidades do mundo exterior, não fará progresso, pois não terá pernas. Tanto os olhos quanto as pernas são precisos; tanto o mundo interior quanto o mundo exterior são necessários para a perfeição. O mundo interior incorpora a visão, que é a realidade verdadeira. O mundo exterior incorpora o poder, o poder dinâmico, que também é indispensável. A luz é necessária e indispensável para a realização no mundo-silêncio interior, e o dinamismo é necessário e indispensável para a manifestação no mundo-som.

O mundo interior e o mundo exterior. O Aquele que deseja se tornar a Vida do Infinito, a Realidade da Eternidade e a Beleza da Imortalidade deve prestar a atenção devida a ambos os mundos. Ambos os mundos são de importância fundamental: o mundo-semente interior e o mundo-fruto exterior. É dá semente que obtemos o fruto, e do fruto que obtemos a semente. No mundo interior Deus nos reivindica e eternamente nos guarda como parte de Si. No mundo exterior tentamos e choramos para reivindicar Deus como parte de nós e reciprocar o Amor de Deus por nós.

Quando oramos e meditamos, quando mergulhamos fundo nos mais íntimos recessos do nosso ser, não apenas sentimos que estamos no mundo interior, mas também sentimos que somos o próprio mundo interior. Quando transformamos a nossa existência exterior aqui, ali e acolá numa mão que auxilia, num coração que serve e numa vida que ama, nos tornamos uma existência tudo-amorosa – e não apenas vivemos no mundo exterior, mas nos tornamos um com o mundo exterior em toda a sua realidade.

No mundo interior há um tesouro inestimável, que é o clamor constante por conhecer o Altíssimo e se tornar o Absoluto. No mundo exterior também há um tesouro imortal, inestimável, que é o sorriso, o sorriso iluminador. O buscador sorri para a vasta criação de Deus. Seu sorriso é a unicidade-identificação da sua própria existência-realidade com a criação inteira de Deus. Tanto no seu mundo interior e exterior, o buscador chora e sorri devotadamente, repleto de alma e incondicionalmente. Ele chora por alcançar a Altitude absoluta da maneira de Deus, à Hora escolhida por Deus. Ele sorri para ver, sentir e manifestar Deus. Ele enxerga Deus, sente Deus e manifesta Deus, a Realidade Suprema, da maneira que Deus quer que ele O veja, sinta e manifeste.

Sri Chinmoy, Self-discovery and world-mastery