textos de Sri Chinmoy, volume VIII

Estória: o buscador desesperado

Sri Chinmoy

Estes escritos são apenas amostras dos seus ensinamentos, não sendo a sua filosofia completa sobre o tema

 

Cerca de cinquenta anos atrás, viveu na América um Mestre espiritual que tinha cerca de quarenta ou cinquenta discípulos. Esse Mestre estava sempre disposto a conceder entrevistas a seus discípulos e outros buscadores sinceros que vinham até ele buscando orientação espiritual.

Certo dia ele foi visitado por um jovem escritor que havia escrito ao Mestre em uma ocasião anterior sobre seus problemas. Naquele dia, ele tinha um problema em particular que gostaria de discutir com o Mestre.

“Mestre, por favor, me ajude,” disse o jovem rapaz. “Pelas últimas duas semanas, mal consegui dormir. Nunca meditei muito. Eu sempre achei que atividades mentais eram mais satisfatórias. Mas agora, quase todas as noites eu acordo com um sentimento desesperado em meu coração. De repente, sinto que estou precisando desesperadamente da espiritualidade. Tentei em vão tentar compreender esse sentimento. Minha mente não parece capaz de analizá-lo. Mas, já que não consigo enxergar claramente com a minha mente o que está acontecendo comigo, fico preocupado de poder estar sofrendo de algum delírio. Você poderia me ajudar? Esse sentimento desesperado que tenho é perigoso para a minha saúde mental?”

O Mestre respondeu: “Não, não é perigoso. Você está clamando pela satisfação do seu choro interior. Você não está chorando com a mente. Você está chorando dos mais profundos recônditos do seu coração. O coração interior possui capacidade infinita. Ele não é limitado como a mente. Não é preciso abordar a Verdade altíssima com a mente. Portanto a saúde mental não faz parte da questão.

“Mas por que eu estou sentindo esse anseio, Mestre? O que estou realmente ansiando por?”

“Quando ansiamos em nossas profundezas,” o Mestre disse, “é porque conhecemos a necessidade de Paz, Luz e Deleite. Quando temos esse tipo de anseio interior, essas qualidades vem à tona a partir do interior ou baixam a partir das alturas. Digo aos meus discípulos que podem desenvolver o clamor interior ao dar mais importância para aquilo que eles realmente precisam nas suas vidas. Quando damos importância para nossas necessidades reais, automaticamente o nosso anseio interior, a nossa sinceridade interior está fadada a aumentar. Quanto mais sentimos que precisamos desesperadamente de Paz, Luz e Deleite, mais cedo o nosso anseio anterior aumenta.

“Como podemos satisfazer essa necessidade?” perguntou o buscador.

“No mundo exterior, quando temos fome, tentamos satisfazer a nossa fome. Se não há comida em casa, vamos a um restaurante ou para a casa de um amigo. De forma similar, a vida espiritual quando estamos verdadeiramente famintos por Paz, Luz e Deleite, iremos a um Mestre espiritual que pode satisfazer nossa fome. Primeiro de tudo ele aumentará a nossa fome interior e então ele a satisfará.”

“Mas e a minha falta de sono? Ela é prejudicial ou detrimental para a minha saúde?”

O Mestre explicou: “Se tivermos Paz. Luz e Deleite dentro de nós, essas qualidades divinas não prejudicarão a nossa saúde. Pelo contrário, elas fortalecerão o físico. O físico terá uma nova sinceridade, uma nova fé para satisfazer o divino em nós. A palavra ‘sinceridade’ é muito importante. Se quisermos alcançar Paz, Luz e Deleite a ferro e fogo, se tentarmos usar a força do físico ou do vital, se tentamos forçar ou exagerar, traremos problemas desnecessários para a nossa mente. Contudo, se dependermos do anseio interior, nossa sinceridade nos transportará para o Altíssimo. Nessa hora, a proteção divina estará presente. Ela não permitirá que tenhamos quaisquer problemas mentais.”

“Como posso me tornar verdadeiramente sincero, Mestre? Como posso saber se sou sincero?”

O Mestre o assegurou: “No seu caso, você tem sinceridade. Mas, às vezes, apesar de sermos sinceros, ainda tentamos forçar algo. Tentamos acelerar o nosso progresso com a nossa energia vital ao invés de depender da nossa própria sinceridade interior. Quando temos um anseio interior sincero, descobrimos que é o ser interior que está ansiando dentro de nós e por nós. E quando o ser interior anseia, nossa mente exterior não precisa e pode não ser afetada. É apenas quando tentamos alcançar algo com a mente exterior é que ela será afetada, porque ela não está pronta para receber essas qualidades de uma maneira divina.”

“Mestre, posso fazer uma última pergunta? A paciência também é uma qualidade divina. Tenho medo de que com este sentimento de desespero, a impaciência virá.”

“Se você sabe o que é paciência,” o Mestre diz, “é muito fácil ter paciência. Se você sente que pode ser paciente por um certo tempo, ficará impaciente quando o tempo acabar. Se você pensa que em dois dias você realizará Deus, mas se Deus ainda estiver se escondendo de você após dois dias, dois meses, dois anos, você ficará impaciente.”

“Como podemos cultivar paciência?” perguntou o escritor.

“Você deveria sentir ‘eu realizarei Deus na Hora escolhida por Ele. Meu papel é orar e meditar, e o papel de Deus é me conceder realização quando sentir que a hora chegou.’ Se você sentir isso, a paciência virá. Você é responsável apenas pela sua oração e meditação, e dá a responsabilidade pelo resultado a outra pessoa, que é Deus. Deus apenas pediu que você orasse e meditasse; Ele não fixou uma hora para você ir visitá-Lo. Cada um de nós deve cuidar das próprias coisas. O tempo pertence a Eles, mas a oração pertence a vocês. Desta forma, você pode ser divinamente paciente.”

“Mestre,” disse o jovem, curvando-se com toda a humildade, “você não apenas respondeu todas as minhas perguntas hoje, mas também me deu a resposta para as perguntas de toda a minha vida. A partir de hoje, o clamor interior do meu coração será a minha outra realidade.”

Sri Chinmoy, do livro “Is God Really Partial”, 3 de novembro de 1973