Religião, espiritualidade e meditação

O que é meditação?

Sri Chinmoy: Meditação é a percepção consciente de Deus. Somos todos buscadores. Quando somos buscadores, nosso dever é sermos conscientes de Deus vinte e quatro horas por dia. Se acreditamos em Deus, naturalmente sentiremos que ele existe. Mas esse sentimento não é espontâneo; ele não dura vinte e quatro horas por dia. Quando meditamos, chega a hora em que sentimos e percebemos vinte e quatro horas por dia que somos de Deus e existimos por Deus. A percepção constante e consciente de Deus – Sua Verdade, Luz e Deleite – é chamada de meditação.

Como podem as diferentes religiões melhor respeitar e valorizar umas às outras?

Sri Chinmoy: Cada religião deve sentir que não é nada mais senão um ramo. Se há um ramo, deve haver uma árvore. Essa árvore é o amor pela verdade. A verdade encontra a sua satisfação apenas quando abraça a Vastidão como parte de si. Cada religião deve sentir a necessidade, para a sua própria satisfação, para a sua própria perfeição, de abraçar as outras religiões. Ela nunca ficará satisfeita sozinha, nunca ficará perfeita sozinha. Duas mãos são necessárias para gerar um som. Igualmente, duas ou mais coisas serão necessárias para criar algo belo, repleto de alma e frutífero. Mas, quando mergulhar fundo, verá que não são duas ou três coisas: verá uma única coisa operando através de muitas formas, muitas ideias, muitos ideais e realizações.

É possível alguém alcançar o estado de realização-Deus praticando a própria religião devotadamente?

Sri Chinmoy: Sim, praticando a religião, pode-se realizar Deus. Mas é precisa saber que há algo mais elevado e mais profundo do que a religião, que é o anseio interior constante. A religião nos dirá que Deus existe. Ela nos dirá que temos de ser bons, gentis, simples, sinceros e puros. Isso a religião será capaz de nos oferecer. Essa é a religião geral. Mas há também a religião espiritual, que é mais elevada e profunda. Ela nos dirá que não basta apenas saber que Deus existe. Temos de ver Ele, senti-Lo e devemos nos tornar Deus. Isso fazemos através da oração e meditação.

Porque a referência a Deus ou religião deixa tantas pessoas desconfortáveis?

Sri Chinmoy: As pessoas se tornaram muito sofisticadas; o que têm agora é uma consciência como a de uma máquina. Tudo aquilo que não lhes traz satisfação no plano físico, vital ou mental, ou qualquer coisa que não exista diante dos seus narizes, eles sentem ser irreal, vergonhoso. E qualquer coisa que não conheçam ou não consigam conhecer imediatamente, ou qualquer coisa de que não precisem imediatamente em suas vidas, a essas coisas não dão valor.

(…)

Você poderia explicar a diferença entre “fervor religioso” e “Deleite”? Eles se complementam?

Sri Chinmoy: Não. O fervor religioso pode ser no vital, na mente ou em outra parte da nossa existência. Ele pode nos satisfazer apenas no nível vital ou mental. O fervor, a alegria religiosa obtemos principalmente no nível vital. Mas quando vivenciamos Deleite, ele permeia nosso ser por completo. O Deleite é algo infinitamente mais elevado do que o fervor religioso. É através da nossa unicidade com o Supremo Absoluto, ou através da nossa dedicação completa à Sua Vontade, que obtemos Deleite. O Deleite age na nossa própria existência interior imorredoura e inata, para a manifestação plena do divino dentro de nós. Portanto, são coisas diferentes.

A religião é indispensável para a realização-do-Eu?

Sri Chinmoy: Tudo dentro de nós que é bom é responsável pela realização-do-Eu. Mas se você perguntar o que é indispensável, eu direi que apenas uma coisa é indispensável, que é o nosso clamor interior, o nosso clamor constante e mais profundo.

Fui criada na tradição católica romana, mas quando cresci parei de ir à igreja. Agora que estou novamente interessada na vida espiritual, minha mãe não consegue compreender por que eu não quero voltar a frequentar a igreja. Como eu poderia explicar isso para ela?

Sri Chinmoy: Você pode dizer à sua mãe que você estudou naquela escola e não se interessou muito. Agora você está estudando em outra escola, gosta do professor, gosta dos alunos e gosta do que está sendo ensinada. A igreja católica ensina Verdade, Luz, Paz e Deleite. Você também está buscando trazer à tona a Verdade, Luz, Paz e Deleite, de uma maneira diferente. Se enxergar a igreja católica romana como uma escola e a nossa organização espiritual como outra escola, terá todo o direito de dizer que gosta mais de uma escola do que da outra, e que é por isso que frequenta essa escola.

Como a disciplina religiosa difere da disciplina espiritual?

Sri Chinmoy: A disciplina religiosa não espera que você ore e medite a cada segundo da sua vida. A disciplina religiosa pode lhe sugerir ir à igreja uma vez na semana e orar para Deus. Isso basta para a disciplina religiosa. Mas se for uma disciplina espiritual, ilha de dirá que deve estar consciente de Deus vinte e quatro horas por dia e orar e meditar pelo menos duas vezes por dia – de manhã e à noite. A disciplina espiritual é um processo constante, consciente. Ela é infinitamente mais importante do que a disciplina religiosa, pois, quando se pratica disciplina espiritual, tenta-se ser um instrumento vivo consciente e constante de Deus, para que Deus possa Se manifestar em a através de nós da Sua própria Maneira. Quando seguimos uma disciplina espiritual, ao fim da estrada descobrimos que estamos nos tornando a Imagem de Deus. Seguindo uma disciplina religiosa, ao fim da estrada diremos que viemos e vimos a meta. A disciplina religiosa irá, no máximo, levá-lo até a meta, ao passo que a disciplina espiritual ou iogue não apenas o levará até a meta, mas também fará com que sinta que você é a própria meta.