Quão longe o conhecimento nos leva?

texto sobre autoconhecimento de Sri Chinmoy, traduzido por Patanga Cordeiro

Quão longe o conhecimento nos leva?

Caros buscadores, caros irmãos e irmãs, com o conhecimento, quão longe podemos ir? Com sua bondosa permissão, falarei sobre o tema do ponto de vista rigorosamente espiritual.

O que é conhecimento? Conhecimento é informação. O que é informação? Informação é o interesse voraz do homem no mundo-som.

O que é conhecimento? Conhecimento são as descobertas da mente. Essas descobertas podem estar na mente central, no vital e no corpo. Para a mente, o conhecimento na mente é algo rígido, fixo e complicado. O conhecimento no vital é algo dinâmico, ou então agressivo e destrutivo. O conhecimento no corpo, no físico grosseiro, é algo obscuro e não inspirador.

O que é conhecimento? O conhecimento é o desejo exterior de auxiliar a humanidade, e também seu desejo secreto de se agradar de toda forma possível. O conhecimento é algo que mantem o conhecedor e o conhecido separados. O conhecedor faz o papel de mestre; o conhecido faz o papel de escravo.

O conhecimento é o irmão mais novo da sabedoria. O irmão mais velho, a sabedoria, nos ensina a ser inseparável e eternamente um com a Realidade suprema, com a Realidade Transcendental. O irmão menor, o conhecimento, sente que a Realidade suprema será sempre algo distante. Portanto, ele quer se satisfazer com a realidade menor. O conhecimento quer medir a realidade menor, e por fim ela quer distribuir a realidade menor ao mundo todo de forma infinitesimal.

O que é o conhecimento menor? O conhecimento menor é o conhecimento terra-limitado. O conhecimento menor é o conhecimento que nos diz que pertencemos à noite-ignorância e servimos a noite-ignorância. O conhecimento nos diz que tudo é matéria, dentro e fora de nós. Quando abraçamos o conhecimento da matéria, ansiamos e tentamos, tentamos e ansiamos por nos satisfazer no mundo da busca dos prazeres. Conscientemente ou inconscientemente chafurdamos nos prazeres do pântano-ignorância. Assim como há um conhecimento terra-limitado, também há um conhecimento Céu-liberto. Quando o conhecimento Céu-liberto desperta nas nossas cabeças devotadas e corações entregues, proclamamos como fez o Salvador: “Eu e meu Pai somos um.”

Quão longe o conhecimento nos leva? Não muito longe. Quando começamos com o conhecimento-terra, não podemos nem conseguimos olhar adiante. Estamos presos sempre no ponto de partida. Não podemos caminhar pela estrada da Infinidade e Eternidade. Não podemos caminhar no reino do Espírito Transcendental. Todavia, quando começamos com sabedoria divina e tentamos caminhar pela estrada da Eternidade, vemos que a Margem Dourada está sempre nos chamando e que a distância está sempre diminuindo.

Quão longe o conhecimento nos leva? Quando começamos  com o conhecimento humano, entramos no mundo do lugar-nenhum. Quando começamos com a sabedoria divina, entramos no mundo do todo-lugar. O conhecimento humano é a risada selvagem do possuir. O conhecimento divino é a doce, iluminador e preenchedora canção da libertação e perfeição.

O conhecimento é nosso bom senso. O conhecimento é nosso Divino senso. Com nosso conhecimento humano declaramos que o nosso corpo é tudo, que o físico é tudo. Com nosso conhecimento divino proclamamos Deus como o Todo da nossa Eternidade. Proclamamos Sua constante Auto-Transcendência como o nosso Todo.

O conhecimento humano é a educação do ego-eu consciente ou inconsciente do finito. A sabedoria divina é a educação do Eu-Deus no Infinito. Conhecimento humano pertence ao mundo-desejo, e o mundo-desejo nada é senão um mundo-frustração.

O conhecimento humano nos leva a clamar:

Asato ma sad gamaya
Tamaso ma jyotir gamaya
Mrtyor mamrtam gamaya

Conduza-me do irreal para o Real.

Conduza-me da escuridão para a Luz.

Conduza-me da morte para a Imortalidade.

O conhecimento divino nos inspira a proclamar:

Anandaddhyeva khalvimani butani jayante
Anandena jatani jivanti
Anandam prayantyabhisamvisanti

Viemos do Deleite.

No Deleite crescemos.

Ao fim da nossa jornada ao Deleite nos retiramos.

O conhecimento-Deus nos diz que cada buscador deve sentir sua unicidade inseparável com seu Piloto Interior. Em sua unicidade interior, ele proclama ao mundo todo que é o amante divino da Eternidade e que Deus, seu Piloto Interior, é o Amado Supremo da Eternidade.

Sri Chinmoy, The oneness of the Eastern heart and the Western mind, part 2, Agni Press, 2004

Frases sobre autoconhecimento

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Aforismos sobre autoconhecimento de Sri Chinmoy, traduzidos por Patanga Cordeiro

Frases sobre autoconhecimento

 

A minha aspiração me diz

            O que é a compaixão.

A compaixão me diz

            O que é auto-conhecimento.

O auto-conhecimento me diz

            O que é mestria-de-si.

A mestria-de-si me diz

            O que é auto-suficiência.

Auto-suficiência me diz

            O que é unicidade.

Sri Chinmoy, The Wings of Light, part 19, Agni Press, 1974

Auto-conhecimento

É a completa libertação

Da exigência-ignorância.

Do livro Ten Thousand Flower-Flames, part 51

A paz não pode ser encontrada

Antes do auto-conhecimento conquistado.

Do livro Four Hundred Blue-Green-White-Red Soul-Birds, part 1

Você chama isso de auto-conhecimento,

Mas eu chamo de auto-conquista.

Você chama isso de auto-conquista,

Mas eu chamo de banquete-deleite.

Você chama de banquete-deleite,

Mas eu chamo de Ninho-Deus.

Do livro Ten Thousand Flower-Flames, part 7

O conhecimento é bom. A sabedoria é infinitamente melhor. Auto-oferecimento ao Senhor Supremo é o melhor de tudo.

Do livro Seventy-Seven Thousand Service-Trees, part 13

A partir da auto-observação

Você descobre

Que você e a sua mente

São surpreendentemente imperfeitos.

A partir do auto-conhecimento,

Você descobre

Que você e a sua alma

São surpreendentemente e constantemente

Perfeitas.

Do livro Ten Thousand Flower-Flames, part 29

Se você não sabe

O que fazer consigo,

Tente duas coisas simples

Que lhe proporcionarão alegria ilimitada:

Pense na beleza

Do seu auto-conhecimento,

Pense no dever

Do seu conhecimento-Deus.

Do livro Ten Thousand Flower-Flames, part 12

Você diz que não tem nada a fazer.

Eu lhe digo:

Estude o livro do auto-conhecimento.

Você se tornará a mente-grandeza

E

O coração-bondade.

Do livro Ten Thousand Flower-Flames, part 13

Assim como a educação não progrediu muito em alguns grupos retrógrados, também o cultivo do Auto-Conhecimento não fez muito progresso na humanidade obscura.

Sri Chinmoy, Eternity’s Breath, Sri Chinmoy Lighthouse, New York, 1972

 

Três caminhos para o autoconhecimento

Aqui estão são três das posturas mais comuns que observamos nos caminhos e métodos que levam ao autoconhecimento. Em alguns caminhos, elas não são excludentes. Um buscador pode usar o autoconhecimento, a devoção e o serviço concomitantemente para chegar na sua meta. Em outros caminhos, um foco claro é dado a um tipo, a ponto de minimizar a importância dos demais aspectos na busca. Por fim, o seu caminho será o melhor para si, e não deve ser comparado com os demais.

Três caminhos ou métodos para o autoconhecimento

Em particular, há três métodos, formas ou caminhos de yoga (ou ioga) que são encontradas nas religiões e caminhos espirituais: jnana yoga (ir além da mente), bhakti yoga (devoção), karma yoga (ação).

Hoje em dia, yoga é comumente associada com uma série de exercícios físicos, buscando equilíbrio dos nervos e proporcionando saúde. Mas quando se fala em espiritualidade, yoga não está relacionada com exercícios físicos. É uma questão de busca interior, de prática espiritual (como a oração e a meditação). Os exercícios físicos são agrupados de maneira geral como hatha yoga e servem para trazer saúde e estabilizar nosso sistema nervoso. Mas, por si só, não levam o ser humano à sua meta. É necessário exercitar nossa aspiração e transcender limitações internas e externas, através dos tipos de yoga tradicionais.  Hatha yoga e os tipos de yoga espiritual são complementares.

Os três métodos de autoconhecimento: BHAKTI YOGA, KARMA YOGA E JNANA YOGA

Texto de Sri Chinmoy, do livro Yoga e A Vida Espiritual

Bhakti Yoga

Peça a um homem para falar sobre Deus, e a sua resposta será interminável. Peça a um Bhakta para falar sobre Deus, e ele dirá apenas duas coisas: Deus é todo Afeição, Deus é todo Doçura. O Bhakta vai até um passo adiante e diz: “Eu posso tentar viver sem pão, mas eu não posso nunca viver sem a Graça do meu Senhor.”

A oração de um Bhakta é muito simples; “Ó meu senhor Deus, entre em minha vida com Vosso Olho de Proteção e com Vosso Coração de Compaixão.” Esta oração é a maneira mais rápida de bater à Porta de Deus e também o caminho mais rápido para ver Deus abrir a Porta.

Um Karma iogin e um Jnana iogin podem sofrer um momento de dúvida sobre a existência de Deus. Mas um Bhakta não tem sofrimento dessa espécie. Para ele, a existência de Deus é uma verdade axiomática. Mais do que isso, é o sentimento espontâneo do seu coração. Mas, ora, ele também tem de passar por uma espécie de sofrimento. É dele o sofrimento da separação do seu Bem-amado. Com as lágrimas do seu coração de devoção, ele chora por restabelecer sua união dulcíssima com Deus.

A mente racional não encanta o devoto Bhakta. Os fatos duros da vida falham em chamar a sua atenção, falham em tentar absorvê-lo. Ele quer viver constantemente em um mundo onde esteja embriagado por Deus.

Um devoto sente que quando caminha em direção a Deus, Deus corre em direção a ele. Um devoto sente que quando pensa em Deus por um segundo, Deus chora por ele por uma hora. Um devoto sente que quando vai a Deus com uma gota do seu amor para aplacar a sede incessante Dele, Deus o envolve no mar do Seu Amor ambrosíaco.

A relação entre um devoto e Deus nunca pode ser sentida, nunca descrita. O pobre Deus pensa que nenhum homem na Terra é capaz de capturá-Lo, pois Ele não tem preço e não pode ser avaliado. Mas ora, Ele esqueceu que já concedeu devoção ao Seu Bhakta. Para Sua maior surpresa, para Sua alegria mais profunda, A devoção entregue do seu devoto é capaz de capturá-Lo.

Há pessoas que zombam do Bhakta. Elas dizem que o Deus do Bhakta nada mais é do que um Deus pessoal, um Deus infinito com Forma, um ser humano glorificado. Para eles eu digo: “Por que não pode um Bhakta sentir isso?” Um Bhakta sente sinceramente que ele é uma gota pequenina e que Deus é o Oceano infinito. Ele sente que o seu corpo é uma porção infinitesimal de Deus, o Todo ilimitado. Um devoto pensa em Deus e ora a Deus à sua própria imagem. E ele está absolutamente certo em fazê-lo. Apenas entre na consciência de um gato e você verá que a sua idéia de um Ser onipotente toma a forma de um gato – apenas numa forma gigante. Entre na consciência de uma flor e você verá que a idéia da flor sobre algo infinitamente mais belo do que ela mesma toma a imagem de uma flor também.

O Bhakta faz o mesmo. Ele sabe que é um ser humano e sente que o seu Deus deveria ser humano em todos os sentidos do termo. A única diferença, ele sente, é que ele é um ser humano limitado, e Deus é um Ser humano ilimitado.

Para um devoto, Deus é ao mesmo tempo cheio de bem-aventurança e misericordioso. A alegria do seu coração o faz sentir que Deus é pleno de bem-aventurança, e as dores do seu coração o fazem sentir que Deus é misericordioso.

Um pássaro canta. Um homem canta. Deus também canta. Ele canta Suas canções dulcíssimas do Infinito, da Eternidade e da Imortalidade através do coração do seu Bhakta.

 

Karma Yoga

Karma Yoga é ação sem desejo realizada por amor ao Supremo. Karma Yoga é aceitação genuína, pelo homem, da sua existência terrena. Karma Yoga é a marcha destemida do homem através do campo de batalha da vida.

O Karma Yoga não vê com os mesmos olhos daqueles que sustentam que as atividades da vida humana não têm importância. O Karma Yoga reivindica que a vida é uma oportunidade divina para servir a Deus. Esse Yoga em particular não é apenas o Yoga da ação física; ele inclui também a vida interior e moral do aspirante.

Aqueles que seguem esse caminho oram por um corpo forte e perfeito. Eles também oram por uma vida longa. Essa vida longa não é apenas o mero prolongamento da vida em termos de anos. É uma vida que aspira pela descida da Verdade, Luz e Poder divinos ao plano material. Os Karma iogins são os verdadeiros heróis na cena terrena, e deles é a vitória divinamente triunfante.

Um Karma iogin é um perfeito estranho às ondas do desapontamento e desespero na vida humana. O que ele vê na vida e nas suas atividades é um propósito divino. Ele sente que é o próprio hífen entre as obrigações terrenas e as responsabilidades do paraíso. Ele tem muitas armas para conquistar o mundo, mas o seu desapego é a mais poderosa. O seu desapego desafia tanto os golpes esmagadores do fracasso quanto os vagalhões de gratificação do ego do sucesso. O seu desapego está muito além tanto das armadilhas das dores excruciantes do mundo quanto do abraço da alegria embargada do mundo.

Muitos aspirantes sinceros sentem que os sentimentos devocionais de um Bhakta e o olho penetrante de um Jnani não têm lugar no Karma Yoga. Nisso eles estão muito errados. Um verdadeiro Karma iogin é aquele cujo coração tem uma fé implícita em Deus, cuja mente tem uma consciência constante de Deus e cujo corpo tem um amor genuíno por Deus na humanidade.

É fácil para um Bhakta esquecer o mundo e para um Jnani ignorar o mundo. Mas o destino de um Karma iogin é diferente. Deus quer que ele viva no mundo, viva com o mundo e viva pelo mundo.

 

Jnana Yoga

Deus tem três olhos. Seus nomes são Bhakti, Karma e Jnana. O Bhakti quer viver na Verdade muitíssimo íntima do seu Pai. Karma quer viver na Verdade universal que tudo permeia do seu Pai. Jnana quer viver na verdade transcendental do seu Pai.

O homem de devoção precisa da proteção de Deus, O homem de ação precisa da direção de Deus. O homem de conhecimento precisa da instrução de Deus.

A fé do Bhakta em Deus e o amor do Karma iogin pela humanidade não interessam ao Jnana iogin, muito menos o inspiram. Ele não quer nada, apenas a mente. Com seu poder mental ele se esforça pelas experiências pessoais da Verdade mais elevada. Ele pensa em Deus como a Fonte do Conhecimento. Ele sente que é através da mente que ele alcançará a sua meta. No início do seu caminho, ele sente que nada é tão importante quanto a satisfação da mente. Finalmente ele percebe que deve transcender a mente se quiser viver no Supremo Conhecimento.

A vida é um mistério. Assim também é a morte. Um Jnana iogin quer perscrutar esses dois mistérios aparentemente insolúveis da criação de Deus. Ele também quer transcender tanto a vida quanto a morte e estabelecer-se no Coração da Realidade Suprema.

O homem vive no mundo dos sentidos. Ele não sabe se esse mundo é real ou irreal. Um homem comum está satisfeito com a sua própria existência. Ele não tem sequer a capacidade de pensar nem o sincero interesse em entrar no significado mais profundo da vida. Ele quer escapar dos problemas da vida e da morte.

Desafortunadamente, não há fuga. Ele tem de nadar no mar da ignorância. Um Jnana iogin, sozinho, pode ensiná-lo como nadar através do mar da ignorância e entrar no Mar do Conhecimento e da Luz.

Um Jnana iogin declara: Neti, neti. “Isso não, isso não.” O que ele quer dizer? Ele quer dizer que há um mundo superior do que o mundo dos sentidos, uma verdade mais elevada do que esta verdade atada à Terra. Ele diz, num certo sentido, que há dois partidos opostos. Um partido consiste da falsidade, da ignorância, da morte. O outro partido consiste da Verdade, do Conhecimento e da Imortalidade. Enquanto proclama: “Neti, neti”, ele pede ao homem para rejeitar a falsidade e aceitar a Verdade, para rejeitar a ignorância e aceitar o Conhecimento, para rejeitar a morte e aceitar a Imortalidade.

Psicologia, autoconhecimento e meditação

Psicologia, autoconhecimento e meditação

textos sobre autoconhecimento de Sri Chinmoy, traduzidos por Patanga Cordeiro

 

Existe um método espiritual de autoanálise?

Sri Chinmoy: Não, não há. A forma psicológica de autoanálise, do ponto de vista mais elevado, é incorreta. Na autoanálise, utilizamos a mente para examinar nosso passado obscuro e nosso subconsciente. Na autoanálise dizemos “fiz a coisa certa” ou “fiz a coisa errada.” Sempre há positivo e negativo. Mas devemos ir além do positivo e negativo. Nos Upanishads é dito que temos de aceitar a ignorância e o conhecimento, e então ir além de ambos, onde tudo é sabedoria divina. Quando praticamos auto-análise, num momento estamos em conhecimento, e no outro momento estamos em ignorância. Constantemente nos identificamos com o conhecimento ou ignorância e nossa dúvida mental. Mas quando entramos numa meditação espiritual profunda, quando estamos muito avançados na vida espiritual, estamos acima da ignorância e conhecimento. Ansiamos apenas por Paz infinita, Luz infinita e Deleite infinito.

Se o buscador estiver constantemente se estudando com sua mente, haverá sempre uma forte atração por parte das forças negativas na mente. Elas nos atrairão como ímãs, mesmo se com a nossa mente estejamos tentando afastar tudo que sentimos que seja incorreto. A dificuldade é que não utilizamos a luz da alma para fortalecer nossa força de vontade durante a autoanálise. Quando tentamos fazer a coisa certa, isso  não quer dizer que seremos capazes de fazê-la. As tendências mais baixas e as forças impróprias possuem um poder tremendo, que vem como tentação. Se cedermos a essa tentação, estaremos completamente perdidos.

Se uma pessoa espiritual quer alcançar o reino da mais alta Paz e infinita Luz, onde não há tentação, ela deve ir além da análise mental. Ela deve aspirar. Se, no entanto, uma pessoa não entrou para a vida espiritual, é melhor que ela utilize a autoanálise do que se comportar como um animal selvagem. Até certo ponto, será bom. Se ela não usar seu poder de autoanálise, não haverá diferença entre luz e escuridão. Mas se você quiser a forma mais rápida e convincente de transformar a sua natureza numa natureza divina, você tem de aspirar. A aspiração é a única solução final para os problemas da limitação humana.

Pergunta: Os problemas sempre podem ser resolvidos psicologicamente através de análise ou isso deve ser sempre feito espiritualmente?

Sri Chinmoy: Qualquer problema, se for resolvido espiritualmente, estará completamente solucionado. Mas se você resolver um problema psicologicamente, a solução fica toda na mente, que é uma esfera muito limitada. Quando respondemos uma pergunta a partir de uma Verdade espiritual mais elevada, podemos sentir que a resposta é verdadeira e completa. Obteremos a maior satisfação apenas quando a pergunta for respondida de um ponto de vista espiritual.

Embora tenhamos o corpo, o vital e a mente, se resolvermos os problemas a partir dessas perspectivas diferentes com as diferentes capacidades da mente, do vital ou do corpo, as respostas não satisfarão completamente as nossas necessidades. Com a mente resolvemos o problema imediato. Mas essa solução não será permanente. O problema simplesmente tomará outra forma e virá a nós como uma outra dificuldade. Nós pensamos: “Eu resolvi aquele problema com a minha mente analítica”, mas infelizmente, se formos profundamente dentro de nós, veremos que aquele mesmo problema, agora tomou uma outra forma e voltou a nos atormentar. Mas uma vez resolvamos o problema espiritualmente, veremos que ele realmente se foi. E como resolver um problema espiritualmente? Através do nosso progresso interior, da experiência e da luz da nossa alma.

Sri Chinmoy, Mind-confusion and heart-illumination, part 1, Agni Press, 1974

Perguntas sobre autoconhecimento

Perguntas sobre autoconhecimento

por Patanga Cordeiro

Na vida comum, cada pessoa possui milhões e milhões de perguntas a fazer, perguntas sobre autoconhecimento, sobretudo. Na sua vida espiritual, chega o dia em que ela sente que há apenas uma questão que vale a pena perguntar: “Quem sou eu?” A resposta das respostas é: “Não sou o corpo; sou o Piloto Interior.”

Como é possível para um homem não se conhecer, visto que é algo que deveria ser a mais fácil dentre as suas tarefas? Ele não se conhece justamente porque se identifica com o ego, e não com o seu Eu verdadeiro. O que o obriga a se identificar com esse pseudo-eu? É a ignorância. O que diz a ele que o verdadeiro Eu não é e nunca será o ego? É seu Auto-questionamento. O que enxerga nos mais profundos recônditos do seu coração é o seu verdadeiro Eu, seu Deus. E, por fim, esse enxergar deve se transformar em se tornar.

Sri Chinmoy, Yoga and the spiritual life. The journey of India’s Soul., Tower Publications, Inc., New York, 1971

A pergunta das perguntas: “Quem sou eu?”

A pergunta sobre autoconhecimento “quem sou eu?” é uma experiência diária para todos nós. Mesmo que você não esteja conscientemente se perguntando isso, você o faz com suas ações. Tudo que você faz é uma forma de buscar se descobrir, buscar descobrir o Eu verdadeiro por trás de todas as coisas. Ao amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, tudo isso são pistas para descobrirmos quem somos e como o Criador está manifestado na criação. Até mesmo o anseio do alcoólatra pela bebida é, na verdade, o anseio do buscador pelo Divino, apenas que direcionado de forma não-produtiva. Cedo ou tarde isso frutificará com experiências, e o buscador será direcionado melhor para a sua próxima empreitada no caminho do autoconhecimento.

Você tem muitas perguntas?
Mas quem pode responder
É o seu coração amante do silêncio.
-Sri Chinmoy

Mas, ainda assim, é melhor buscar de forma consciente. Consciente quer dizer com todo o ser, não apenas com a mente. A mente, sozinha será muito árida, cirúrgica, para lhe fazer compreender algo tão vasto quanto a realidade que está dentro de si e ao seu redor. É necessário usar todas as partes do ser, e focar nas mais elevadas, mais vastas e capazes, como o nosso ser interior.

Para iniciar sozinho no caminho do autoconhecimento, é necessário ter um Mestre espiritual que lhe oriente da forma exata, de acordo com o seu estágio interior preciso e necessidades reais. Se não tiver um Mestre, você pode começar a praticar meditação e leitura de livros escritos por Mestres espirituais realizados. Para começar a meditar, separe cinco minutos de manhã cedo, antes de começar o seu dia. Tente sentir o seu coração. Gradualmente, vá incorporando uma técnica mais específica.

E lembre-se que existem outros caminhos além do autoconhecimento. O autoconhecimento é apenas uma forma de se descobrir. Também há o caminho da devoção e da entrega espirituais, por exemplo, onde você enxerga o Divino não apenas dentro de si, mas também em todas as coisas. Ou o caminho do serviço dedicado, onde sentimos nossa unicidade com o divino em tudo se o servimos com todo nosso ser.

 

“Meu Senhor, existe algo que,

Uma vez conquistado, nunca pode ser perdido?

“Sim, Minha criança, isso existe.

Tal coisa existe, e você já a tem.”

“Eu a tenho, mas não sei o que é.

Meu Senhor, pelo Amor de Deus, não torture

A minha curiosidade.

Conte-me o que é isso

Que eu tenho e nunca será perdido.”

“Minha criança supremamente tola, você nunca,

Nunca perderáo seu auto-conhecimento, auto-realização.”

Sri Chinmoy, My Lord’s Secrets revealed, Herder and Herder, 1971

O Mestre espiritual e a meditação

 

Abaixo trechos de uma entrevista na rádio com Sri Chinmoy, em particular os trechos que falam sobre a relação que buscadores espirituais podem ter com a figura do Mestre espiritual, no caso Sri Chinmoy.

sri chinmoy jornal

Donna Halper: Mas as pessoas não o procuram para saber o que é Deus?

Sri Chinmoy: Elas me procuram por isso, mas são apenas as pessoas que acreditam em Deus que vêm até mim. Os ateus completos não vêm até mim. Para eles, Deus é outra coisa. O Deus de que falamos, para eles não é Deus. Mas eu tenho um profundo respeito pelo Deus deles. Se eles dissessem que Deus não existe, eu responderia “Tudo bem.” Contanto que acreditem em algo, eu sinto que esse algo é Deus, pois Deus é onisciente, onipresente e onipotente.

 

Donna Halper: Sri Chinmoy, quando as pessoas o procuram, o que elas estão buscando encontrar?

Sri Chinmoy: Normalmente elas buscam paz de espírito. Elas esperam uma melhor compreensão da vida. Elas esperam um êxtase interior.

 

Donna Halper: Você as proporciona isso?

Sri Chinmoy: Eu ofereço isso a elas, e elas recebem de acordo com sua receptividade.

 

Donna Halper: Há tantas pessoas buscando, tentando descobrir mais sobre religião. Elas não se sentem satisfeitas com a religião organizada, digamos, e por isso procuram você. Como essas pessoas saberiam se você é o Mestre espiritual certo para elas?

Sri Chinmoy: Elas serão capazes de descobrir em poucos minutos. Assim que me virem, se eu for o Mestre certo para elas, sentirão uma espécie de vibração ou sentimento de familiaridade. Elas não precisam conversar comigo. Essas pessoas sentirão uma comunicação interior. Elas verão e sentirão em mim um amigo, um amigo verdadeiro e eterno.

 

Donna Halper: E, com respeito à pessoa que vem até você e é muito cética, você também é um amigo para essa pessoa?

Sri Chinmoy: Certamente serei seu amigo, mas ela se sentirá desconfortável. Essa pessoa deverá buscar outro com quem se sinta confortável e que será capaz de orientá-la de uma maneira diferente.

 

Donna Halper: Estamos falando sobre música, meditação e religião. Continuando no tópico de religião, Guru, há tantas pessoas chamando-se de gurus nesses dias, tantas pessoas que se consideram messias, reivindicando possuírem a resposta. Como alguém que levasse a sua busca a sério poderia saber quem é um Mestre espiritual verdadeiro e quem não é?

Sri Chinmoy: Há diversas formas de se saber se um Mestre é genuíno ou não. Se o Mestre disser que poderá lhe dar a realização da noite para o dia, ele é um falso mestre. Se disser que, caso lhe dê uma quantia de centenas ou milhares de dólares, ele será capaz de lhe auxiliar a alcançar um plano superior de consciência e adquirir Paz, Luz e Deleite, esse é um falso mestre. Um Mestre verdadeiro sempre dirá ao buscador que ele, o Mestre, não é Deus; ele não é nem mesmo o Guru. Deus é o verdadeiro Mestre. O Mestre humano está apenas a serviço de Deus dentro dos buscadores. Ele não é o Guru. O verdadeiro Guru é Deus. Se um buscador quiser saber quem é um Mestre verdadeiro, com essas orientações ele normalmente será capaz de discernir o verdadeiro do falso.

 

Donna Halper: Então a pessoa que diz ter a resposta mágica provavelmente não é a pessoa que deve ser levada a sério?

Sri Chinmoy: O progresso espiritual não é como preparar café solúvel. O progresso espiritual é lento e consistente. Lenta, gradualmente e certamente devemos trilhar a Estrada da Eternidade para alcançarmos a Meta da Infinidade.

 

Donna Halper: Se alguém o procurar e decidir que você é a pessoa certa com quem deveria estudar, o que deveria fazer?

Sri Chinmoy: Há algumas regras e orientações que os buscadores deverão seguir se eu os aceitar como meus alunos. Para começar, pedirei que sejam muito simples, muito sinceros, humildes e puros. Eu recomendo uma vida muito simples.

 

Donna Halper: Lemos nos jornais sobre diversos movimentos que são bastante austeros, onde os homens e mulheres não podem ter contato mútuo. Eles não podem comer carne e, basicamente, ficam dentro dos seus lugares meditando o tempo todo. Esse é o tipo de vida que os seus discípulos têm?

Sri Chinmoy: Não, eu não advogo a austeridade. Eu não quero que meus discípulos vivam nas cavernas nas montanhas dos himalaias. Advogamos a aceitação da vida. Temos de aceitar a vida e então temos de transformar a vida. Há diversas coisas na vida humana as quais não conseguimos apreciar. Elas são as nossas tristes imperfeições. E por isso tentamos iluminar essas fraquezas. Não evitamos a vida. Aceitamos a vida, mas transformamos o que deve ser transformado.

 

Donna Halper: Além da meditação, os seus discípulos praticam cânticos ou algo desse tipo?

Sri Chinmoy: Sim, às vezes eles entoam cânticos. Eu escrevi diversas melodias para versos dos Vedas, Upanishads e Bhagavad Gita. Fiz música para vários deles, e os meus alunos às vezes os entoam.

A queda do homem

Pergunta: Como você explicaria a queda do homem?

Sri Chinmoy: Todos os dias somos atacados pela dúvida; todos os dias somos inspirados e energizados pela fé. Quando somos atacados pela dúvida, percebemos que a nossa consciência baixa. Não conseguimos expandir. Duvidamos da nossa própria capacidade, mesmo da nossa própria existência. Quando a dúvida entra na nossa mente de manhã cedo, fica impossível sairmos do nosso pequeno quarto mental. Contudo, quando somos inspirados e energizados pela fé, sentimos que o mundo inteiro nos pertence.

Cada ser humano aqui possui dúvida e fé. Quando usa o seu instrumento dúvida, ele sente que tudo na sua vida fica circunscrito. O seu progresso é sobrestado. Mas, quando usa o outro instrumento, a fé, ele sente que está voando no mais alto plano de consciência e cantando a canção do sempre-transcendente Além.

Todos os dias podemos nos limitar ou nos libertar. Cantamos a canção das amarras consciente ou inconscientemente quando alimentamos a dúvida abundante dentro de nós. Caímos da árvore-realidade seguidamente quando brincamos com a nossa amiga-dúvida. E, quando mergulhamos fundo e trazemos à tona a nossa fé coração-iluminadora e alma-manifestadora, escalamos alto, mais alto, altíssimo na árvore-realidade.

O que foi perdido? A busca espiritual

Pergunta: Você nos chama de “buscadores”. O que foi perdido?

Sri Chinmoy: O que foi perdido? A nossa unicidade consciente com o Supremo Absoluto foi perdida. Através da nossa busca interior estamos tentando obter ou reconquistar a nossa unicidade consciente inseparável com Ele. Estamos buscando a Verdade e a Luz. Houve um tempo em que fomos possuidores dessa Luz e Verdade infinitas. Mas, infelizmente, fizemos amizade com a noite-ignorância e perdemos a nossa unicidade inseparável com a Luz e Deleite da Infinidade. É através de uma procura consciente – nossa busca interior consciente e anseio interior ascendente – que, na Hora escolhida de Deus, reencontraremos a nossa riqueza interior.

Como podemos ter harmonia?

Pergunta: Como podemos ter harmonia em nosso ser quando há movimentos conflitantes em nosso interior?

Sri Chinmoy: Para adquirir harmonia, é preciso de paz de espírito. Para ter paz de espírito, é preciso orar e meditar o com toda a sinceridade no Piloto Interior, que criou a necessidade de harmonia interior. Se orar corretamente, a paz de espírito e harmonia serão refletidas em todos os seus movimentos externos. Quando a mente tem paz, sempre há harmonia em todas as atividades que acontecem no ser.

Experiências no caminho do autoconhecimento

Experiências de autoconhecimento

Quanto tentamos enxergar fundo dentro de nós, quanto tentamos viver uma vida interior, podemos encontrar muitas dificuldades. Dizemos, “Veja, Deus, agora que nos voltamos a Você, temos de passar por tantos testes!” Não encontrando saída, ficamos perturbados. Mas por que deveríamos? Não nos falham a memória as tristezas da vida. Antes de entrarmos para a vida espiritual, o sentimento de vazio era nosso companheiro constante. Agora estamos numa posição melhor já que temos a capacidade de reconhecer o tigre feroz da mundanidade. Encaremos a inquietação e fraqueza como testes.”

Sri Chinmoy, Yoga and the spiritual life. The journey of India’s Soul., Tower Publications, Inc., New York, 1971

Hoje estava terminando meu horário de meditação. Alguns pensamentos me atrapalhavam muito. Eram coisas que me deixavam irritado.

De repente, por qualquer milagre que tenha ocorrido, me lembrei do texto acima, que havia lido uns dois dias antes. E tive a experiência. Eu olhei para mim mesmo e percebi que não era eu quem estava incomodado, mas sim minha mente ou emoções, meu ego, ou algo afim. Senti a luminosidade dos escritos.

Nesse momento, me dissociei um pouco, como quem pensa “grande coisa se você gosta disso ou não gosta daquilo. A realidade é maior do que isso que você enxerga.” Senti uma serenidade, e minha visão até mudou o foco. Tudo ficou mais bonito, como se estivesse num lugar que eu gostava muito de estar. E estava. Estava no meu altar de meditação, olhando para a foto do meu Mestre, com uma moldura nova dourada, em cima da mesa que meu pai me fez, meu nome espiritual escrito nela, o livro de orações aberto em frente, o incenso que me presentearam aceso.

Parte da série sobre autoconhecimento

Insights sobre o homem

Pergunta: Como você explicaria a queda do homem?

Sri Chinmoy: Todos os dias somos atacados pela dúvida; todos os dias somos inspirados e energizados pela . Quando somos atacados pela dúvida, percebemos que a nossa consciência baixa. Não conseguimos expandir. Duvidamos da nossa própria capacidade, mesmo da nossa própria existência. Quando a dúvida entra na nossa mente de manhã cedo, fica impossível sairmos do nosso pequeno quarto mental. Contudo, quando somos inspirados e energizados pela fé, sentimos que o mundo inteiro nos pertence.

Cada ser humano aqui possui dúvida e fé. Quando usa o seu instrumento dúvida, ele sente que tudo na sua vida fica circunscrito. O seu progresso é sobrestado. Mas, quando usa o outro instrumento, a fé, ele sente que está voando no mais alto plano de consciência e cantando a canção do sempre-transcendente Além.

Todos os dias podemos nos limitar ou nos libertar. Cantamos a canção das amarras consciente ou inconscientemente quando alimentamos a dúvida abundante dentro de nós. Caímos da árvore-realidade seguidamente quando brincamos com a nossa amiga-dúvida. E, quando mergulhamos fundo e trazemos à tona a nossa fé coração-iluminadora e alma-manifestadora, escalamos alto, mais alto, altíssimo na árvore-realidade.

Pergunta: Como podemos ter harmonia em nosso ser quando há movimentos conflitantes em nosso interior?

Sri Chinmoy: Para adquirir harmonia, é preciso de paz de espírito. Para ter paz de espírito, é preciso orar e meditar o com toda a sinceridade no Piloto Interior, que criou a necessidade de harmonia interior. Se orar corretamente, a paz de espírito e harmonia serão refletidas em todos os seus movimentos externos. Quando a mente tem paz, sempre há harmonia em todas as atividades que acontecem no ser.

É melhor meditar na natureza ou na cidade?

Donna Halper: Com relação à meditação (e tenho certeza de que há muitas pessoas interessadas em saber o mesmo), tenho pensado nisto: qual é a diferença entre o que se pode chamar de meditação secular – ou seja, simplesmente ir para algum lugar afastado que seja agradável e tranquilo, guardando bons pensamentos – e a meditação que você faz com o seu tipo de música e coisas desse tipo? Há alguma diferença entre elas, ou são ambas simplesmente passos pelo mesmo caminho?

Sri Chinmoy: Se algumas pessoas sentem paz de espírito vivendo em áreas mais rurais e tendo vidas mais tranquilas, isso lhes é bom. Outras pessoas podem querer vivenciar uma vida mais disciplinada. Elas sentem que a meditação é algo muito sagrado; não é algo casual. Para essas pessoas, é recomendável que meditem com máxima concentração e numa sala de meditação. Se é numa cidade ou numa zona mais rural, isso não importa. Essas pessoas certamente farão progresso mais rápido que aquelas que vão para o campo e apreciam a beleza e pensam bons pensamentos. Mas ambas as estradas levam ao mesmo destino.