Qual é a melhor forma de meditar?

Qual é a melhor forma de meditar?

Sri Chinmoy: A melhor forma de meditar é sentir que você veio da Fonte. Essa Fonte é o Deleite. Quando meditar, sinta que veio dessa Fonte e que está retornando a Ela vitorioso e triunfante. Aqui na terra você cumpre seu papel e então retorna para a Fonte. As escrituras indianas dizem:

“Viemos do Deleite,

Nos tornamos o Deleite.

Ao fim da nossa jornada

Retornamos ao Deleite.”

Essa é a melhor forma de meditação.

Como encontrar paz de espírito?

meditacao trabalho

Qual a melhor forma de encontrar paz de espírito na mente?

Sri Chinmoy: Não temos paz de espírito na mente porque sentimos que somos as pessoas mais importantes do mundo. Sentimos que, se não fizermos isto e não dissermos aquilo, o mundo desaará ou tudo dará errado imediatamente. Podemos encontrar paz de espírito se pudermos sentir de forma consciente que não somos importantes, não somos indispensáveis. Quando sinceramente sentimos que Não somos indispensáveis, não teremos de ir a qualquer lugar para termos paz, pois a paz virá a nós imediatamente. Se sentimos que o nosso dever é servir o mundo, isso é bom. Mas se sentíssemos que nosso dever é iluminar o mundo e que, se não iluminássemos o mundo ele continuaria repleto de escuridão, isso não seria a coisa certa a se fazer. Eu não sou indispensável. Você não é indispensável. Apenas Deus é indispensável.

Outra forma fácil para encontrar paz de espírito é sentir que nada é importante além do seu valor. Se perdemos algo, devemos sentir que aquilo não é importante em nossa vida, que ela não será arruinada apenas porque perdemos essa coisa. Tudo no mundo pode nos abandonar, contanto que nós não abandonemos Deus e Deus não nos abandone. Deus nunca nos abandonará, pois Ele é todo Compaixão. E, mesmo que tentemos com todas as forças, não conseguiremos abandonar Deus, pois Ele é onipresente. Portanto, não precisamos nos preocupar com nada neste mundo. Não precisamos ficar irritados ou agitados por causa de qualquer coisa na Terra.

Temos de saber e sentir que, exceto por Deus e nosso clamor interior pela Verdade, nada no mundo é indispensável. Se tivermos o anseio interior, conseguiremos Deus. Uma vez que tivermos Deus conscientemente como parte de nós, teremos tudo. As pessoas comuns não oram, não meditam. Deus é apenas uma ideia vaga para elas. Elas sabem que Deus existe, mas onde está Ele, quem é Ele e o que Ele está fazendo? Elas não conseguem responder essas perguntas. Apenas as pessoas espirituais sabem que Deus está dentro do coração, que Ele é todo Amor e que Ele está fazendo o Seu Jogo divino em nós e através de nós. Para pessoas espirituais, Deus é uma Realidade, uma Realidade constante.

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Outros textos relacionados à paz de espirito:

Sri Chinmoy fala sobre a mente e o coração

Como esvaziar a mente

O coração e a mente: meditação e psicologia

Textos de Sri Chinmoy traduzidos e compilados por Patanga Cordeiro, servidor público, ultramaratonista, voluntário. Instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004.

Como superar o medo através da meditação

Como superar o medo? É possível superar o medo com a meditação?

Pergunta: Como superar o medo através da meditação?

Sri Chinmoy: Meditação é a única forma de superar o medo. Não há outra forma. Não importa quantas injeções recebamos dos médicos, o medo não nos deixará. Por que a meditação nos auxilia a superar o medo? Na meditação, nos identificamos com a Vastidão, com o Absoluto. Quando tememos alguém ou algo, tememos porque não sentimos que aquela pessoa ou coisa é parte de nós. Mas, quando estabelecemos unicidade consciente com o Absoluto, com a Vastidão infinita, então todos e todas as coisas são partes de nós. Como poderíamos ter medo de nós mesmos?

A meditação nos relaxa e então nos expande. Se não meditamos, ficamos separados. Então surge a destruição ou extinção. O propósito da meditação é unir, expandir, iluminar e imortalizar a nossa consciência. Quando meditamos, entramos no nosso Divino. Quando conversamos com nossos amigos ou passeamos, não estamos conscientes da nossa Divindade. Mas, quando meditamos, tentamos conscientemente ficar cientes da nossa Divindade mais interior. O Divino não precisa temer o humano. Longe disso! O Divino possui poder infinito. A humanidade, em comparação com o Divino, não tem poder. Quando possuímos acesso livre à Divindade, quando nossa existência completa, interior e exterior, fica carregada do Poder infinito e ilimitado do Divino, como podemos ter medo da humanidade? É impossível!

Através da meditação, o medo interior e exterior devem nos deixar. O medo interior é infinitamente mais difícil de afastar. Mas, com o auxílio da meditação, o nosso medo interior nos deixará. Agora você teme o medo. Você é vítima do medo porque não sabe expandir a sua consciência. É por isso que a todo momento você está à mercê do medo. Mas, quando tomar refúgio no Divino, com o auxílio da meditação, o medo o deixará, pois sentirá que está batendo à porta errada. Agora você está indefeso, mas o medo ficará indefeso quando ver que através da meditação você está em contato com algo poderoso, muito poderoso.

Como superar o medo no emocional

Se quisermos superar o medo no vital, devemos nos concentrar no nosso próprio ser interior. Mas isso é difícil para iniciantes. Se quiserem conquistar o medo no vital, digo que devem tentar expandir o verdadeiro vital que há em si. Temos dois tipos de vital. Um é agressivo, e o outro é dinâmico. Todos os dias utilizamos o vital agressivo, com sua capacidade de luta. Mas o vital dinâmico deseja criar algo em breve e de forma divina, iluminiada. Portanto, se pudermos nos concentrar ou focar nossa atenção nesse vital, no vital dinâmico, expandiremos nossa consciência lá. Não poderá então haver medo no vital.

Como superar o medo no coração

Para superar o medo no coração não-aspirante, precisamos tomar auxílio direto da alma. Quantos de nós vimos ou sentimos a alma? Quando meditamos no centro do coração, devemos saber se realmente estamos meditando no coração. A seguir, a cada momento, ou a cada respiração, cavamos fundo. Não é uma escavação violenta, não! É um sentimento divinamente intensificado que há dentro do seu coração de que você está indo fundo, muito fundo dentro de si. A cada vez que respira, sinta que está mergulhando fundo. Alguns meses depois, você sentirá um leve toque; ouvirá um som minúsculo. Quando ouvir o som, tente verificar se ele é causado por algo ou não. Quando ouvimos um som, normalmente é porque duas palmas se batem ou dois objetos se chocam. Mas esse som na alma não é resultado de nada, é espontâneo. Assim, quando sentir esse som em seu interior, como um gongo celestial, você superará o medo no coração não-aspirante.

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Textos de Sri Chinmoy traduzidos e compilados por Patanga Cordeiro, servidor público, ultramaratonista, voluntário. Instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004. Outros textos:

Como aprender mais sobre os sonhos

Meditação e o significado de fazer promessas na vida espiritual

 

Progresso espiritual e compreensão intelectual

Nosso progresso espiritual é auxiliado pela compreensão intelectual das coisas?

Sri Chinmoy: Não é nada necessário compreender algo intelectualmente. Muitos gigantes espirituais não usaram a mente; usaram o coração ao invés. Através da unicidade do seu coração com Deus, eles sentiram e realizaram tudo. Compreensão é uma palavra muito enganosa. Quando hoje entendemos algo de uma forma particular, essa compreensão pode não nos satisfazer amanhã. Podemos desenvolver outro tipo de compreensão e ver que a compreensão de ontem foi completamente inútil. Portanto, utilizar o intelectio não é o caminho correto.

Mas o intelecto pode se entregar à unicidade do coração e dizer: “Eu não tenho satisfação duradoura ao compreender de forma intelectual. Tentarei obter alegria através da minha identificação com a Realidade altíssima.” As decisões da mente estão mudando constantemente, e portanto nunca conseguimos encontrar certeza verdadeira e satisfação no caminho da mente. Mas, se seguirmos o caminho do coração, veremos que o coração imediatamente se identifica com a Realidade – não importa o que seja a substância ou essência dessa Realidade.

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Textos de Sri Chinmoy traduzidos e compilados por Patanga Cordeiro, servidor público, ultramaratonista, voluntário. Instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004.

Aprenda a parar a mente

Aprendendo como parar a mente

Tem horas que minha mente não para, e me pergunto “como parar a mente”? A resposta de Sri Chinmoy tem sido a solução constante. Ela exige prática e determinação, mas funciona perfeitamente.

No dia 18 de março de 1977, Sri Chinmoy respondeu a uma série de perguntas do United Nations Meditation Group em Genebra, Suíça.

Pergunta: Como paramos a mente?

Sri Chinmoy: Há diversas formas para parar a mente. Uma maneira é repetindo o Nome de Deus e perder-se dentro da repetição do Nome. Ou pode-se repetir um mantra, que é uma palavra sagrada ou cântico. Quando se repete um mantra ou o Nome de Deus, há um fluxo contínuo. Se for “Deus, Deus, Deus,” dentro da repetição devemos nos perder. Então a mente pára.

Há outra forma ainda. Deve-se encarar a mente como um objeto material. Podemos pegar um objeto material e colocá-lo em qualquer lugar que quisermos, ou lançá-lo muitíssimo longe, de acordo com a nossa força. Ou seja, podemos pegar a mente como um objeto material e jogá-la longe, ou podemos colocar a mente onde quer que desejemos. Se uma criança levada nos indomoda, levamos essa criança levada para um canto e a ameaçamos, deixando-a lá. Pode-se fazer isso com a mente também.

Uma terceira maneira é esquecer completamente da existência da mente. Ignore a mente e sinta-se apenas o coração. Não basta dizer “eu tenho um coração.” Deve-se dizer “eu sou o coração, eu sou o coração.” Então as qualidades do coração permearão o ser por completo, e a mente pára automaticamente. Há muitas outras formas, mas essas três são suficientes para qualquer indivíduo, e pode-se escolher qualquer uma das três para parar a mente.

A mente possui uma vontade própria; ao mesmo tempo, ela pode ser vítima de forças hostis ou se render às forças mais elevadas. Vontade limitada todos nós temos. Quando não usamos nossa vontade limitada, permitimos que Deus nos conquiste ou que a força-ignorância nos conquiste. Mas, se utilizarmos a mente corretamente, não nos entregaremos às forças não divinas que nos atacam. …

 

Pergunta: Como podemos silenciar a mente na meditação?

Sri Chinmoy: Tente inspirar tão silenciosamente e lentamente quanto o possível, de forma que, se você colocasse um fino fio diante do seu nariz, ele não se moveria. Então você verá que a sua meditação será profunda e a sua mente ficará calma e silenciosa.

Então imagine algo muito vasto, e também calmo e silencioso. Quando começar a meditar, sinta que dentro de você há um vasto oceano, e que você mergulhou fundo adentro. Lá no fundo tudo é tranquilidade, uma enxurrada de tranquilidade.

 

Como podemos silenciar a mente na meditação?

Como silenciar a mente na meditação? Mantra e japa

 

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Textos de Sri Chinmoy traduzidos e compilados por Patanga Cordeiro, servidor público, ultramaratonista, gosta de brincar como criança. Instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004.

A meditação pode melhorar a liderança?

A meditação pode melhorar a liderança?

Trechos do discurso de Sri Chinmoy no Auditório Dag Hammarskjold em 12 de Setembro de 1974, na sede da ONU.

A meditação pode aumentar a liderança? A resposta é afirmativa. A meditação consegue e melhora a liderança. Mas devemos saber o que queremos dizer com meditação. Se meditação quer dizer uma vida de reclusão, se a meditação é apenas um triunfo individual sobre si, essa meditação nunca aumentará a capacidade de liderança. … Apenas quando há duas pessoas é que a liderança é importante ou necessária. Eu tomo a frente, ou outra pessoa toma a frente.

Mas, se meditação é uma expansão da nossa consciência, se na meditação somos para todos e de todos – que somos da nossa divindade interior e existimos pela humanidade aspirante – nossas qualidades de liderança estão destinadas a aumentar. Se encararmos a liderança como algo qualitativo, devemos sentir que a luz da meditação fará com que a qualidade vá do luminoso ao mais luminoso e ao luminosíssimo. Se encaramos a liderança como algo quantitativo, podemos dizer que a luz da meditação nos permitirá transformar o muito em muito mais, e o muito mais no máximo.

Quando encontramos liderança, o físico em nós se rende, porque está ciente das suas limitações… O vital em nós enxerga a liderança como uma espécie de desafio do mundo interior ou exterior. Após aceitar o desafio, o vital quer conquistar e dominar o mundo a seu redor… Na liderança mental, percebemos que o mundo ao nosso redor é todo imperfeição e que apenas o nosso mundo mental é perfeito…. Mas há um outro tipo de liderança, a liderança psíquica, a liderança do coração. Ela é totalmente diferente da liderança mental e vital. A liderança psíquica é fundada na percepção e unicidade interior com a realidade como um todo. Aquele que lidera no coração é o verdadeiro líder. Não se trata de uma liderança autoinventada. Essa liderança é o reconhecimento da unicidade inseparável com o resto da humanidade. Um é por todos, e todos são por um. …

No mundo exterior, o líder é aquele que tem mais capacidade do que um ou muitos outros indivíduos. Se a sua capacidade é muito maior, ele se torna o líder. Mas na vida espiritual é diferente. Na vida espiritual, a verdadeira liderança depende da consciência que se tem da realidade e a aceitação constante dessa realidade como parte integrante de si. Se alguém consegue aceitar a realidade ao seu redor como parte de si a despeito das imperfeições, limitações e amarras, ele é o verdadeiro líder – e não aquele que possui um pouco mais de capacidade do que outro ou do que o resto do grupo. Aquele que considera seus irmãos e irmãs parte de si, aquele que aceita o desafio da ignorância e se coloca diante da noite-ignorância determinado a conquistá-la e transformá-la numa enchente de Luz – esse é o verdadeiro líder. Na vida espiritual, liderança é o nosso desejo consciente de ser um instrumento escolhido do Supremo.

 

O significado de Namastê, Gruss Gott, Graças a Deus

O significado de Namastê, Gruss Gott, Graças a Deus

por Patanga Cordeiro

Graças a Deus

Recentemente, tive umas boas meditações e, como sempre, o resultado no dia a dia é claro. Falando com as pessoas, de repente alguém fala um “Graças a Deus”, e o significado literal me salta aos olhos. Sim, é graças a Deus mesmo que essas coisas acontecem. Não é só uma figura de linguagem. É uma realidade sólida, muito mais sólida e muito mais realidade que qualquer outro fato do nosso cotidiano.

… A graça divina está constantemente descendo sobre nós. Aqueles que estão aspirando sinceramente são conscientes desta Graça divina, mas aqueles que não estão aspirando estão mantendo a sua porta do coração permanentemente fechadas. Se nós sentimos que o Supremo é a Graça, então nós devemos ver Suas infinitas qualidades, Paz, Luz e Bem-Aventurança, estão prontas no processo de entrar em nós, continuamente seguindo em e através de nós e tornando-se parte e parcela de nossa vida interior e exterior. Nós temos somente que permitir o fluxo da Graça nos carregue para dentro da Fonte, que é o Supremo.
A Graça de Deus é como os raios de sol. O sol está sempre lá, mas o que nós fazemos? Nós acordamos tarde. Ao invés de acordar as cinco e meia ou às seis horas, nós acordamos às oito ou às nove horas. Então nós não temos a benção do sol da manhã. E quando nós levantamos, nós mantemos as portas e janelas todas fechadas e não permitimos que a luz do sol entre na nossa sala….” -Sri Chinmoy, Deus É

Namastê

Namastê literalmente significa “curvo-me diante de Ti”; a palavra provém do sânscrito namas, “curvar-se”, “fazer uma saudação reverencial”, e (te), Ti. A intenção é que você revência a Deus que habita dentro da outra pessoa. O hóspede é sagrado no oriente, e mesmo se você estiver fazendo um “favor” à outra pessoa, você está ciente de que Deus na outra pessoa está lhe dando a oportunidade de servi-Lo diretamente.

“…do ponto de vista espiritual, é muito importante tentar ver Deus dentro dos seus filhos. Quando falarem com eles, vocês têm que sentir que estão oferecendo o seu amor ao Piloto Interior nelesdentro deles. Quando estiverem lhes dando sabedoria, têm que sentir que entre vocês há alguém que é uma ponte, e esse é Deus. Vocês estão amando aos seus entes queridos, precisamente porque Deus, o Amor eterno, está dentro de vocês e dentro deles. Vocês mostram compaixão a eles porque a Fonte eternamente compassiva está dentro de vocês.” – Sri Chinmoy, O Coração e os Sonhos de uma Criança

Gruss Gott

Por coincidência conversei recentemente no telefone com colegas que falam alemão, e eles me atendem costumeiramente com “Gruss Gott!”, “Que Deus (dentro de si) seja bem-vindo!”

Grüß Gott é a forma abreviada das expressões Grüße dich Gott (“Saudações a Deus”) …em gaélico a saudação popular é Dia dhuit (‘Deus com você’), semelhante ao ‘adeus’ em português, uma contração de ‘Deus fique com você’;… Situação semelhante pode ser verificada na expressão formal catalã Adéu-siau (“Fique com Deus” em catalão arcaico). Por outro lado, a origem religiosa ainda é evidente no adieu francês, no adiós espanhol, no addio italiano, no ‘adeus’ português, e no adeu catalão (“A Deus”, provavelmente uma contração de “Confio-vos a Deus”). Fonte

Usar vídeos do Youtube para meditar é bom?

Usar vídeos do Youtube para meditar é bom?

por Patanga Cordeiro, numa interpretação pessoal baseada nos ensinamentos de Sri Chinmoy

Usando o computador, telefone celular ou equivalente, a sua mente vai ficar mais ativa, mais informada, mais inquieta. Para meditar, o que você precisa é de uma mente vazia, um coração aberto e um anseio interior genuíno. Nenhuma dessas coisas você vai encontrar na internet, seja no site que for ou no formato de mídia que for.

A simplicidade é uma das qualidades importantes para aprendermos a meditar bem.

Quanto mais informação você tiver, mais difícil ficará meditar, principalmente se for informação de diversas fontes – e a internet/Youtube/Google é feito com o propósito explícito de dar toda essa informação (da qual o seu Eu verdadeiro não precisa) continuamente a você, sendo programada para fazer isso da forma mais eficiente e viciante possível.

Isso sem falar na possibilidade de exploração comercial do conteúdo que você usar. Por exemplo, alguém que não sabe meditar de verdade e nem ensinar meditação de verdade pode usar a sua ingenuidade para ganhar dinheiro com a monetização das propagandas dos sites através de conteúdo com palavras chamativas.

E mais: imagine-se fazendo a sua meditação por algumas semanas ou meses e pela primeira vez começa realmente a ter uma meditação de verdade, profunda. Você fica surpreso ao perceber o mundo que há dentro de você. Então o vídeo/áudio/aparelho pausa sozinho e começa uma propaganda de automóvel (ou qualquer outra coisa) com uma música muito mais alta do que o do vídeo que estava assistindo (as propagandas costumam ser assim, não é verdade?), arruinando semanas de prática e a oportunidade única que culminaram naquele momento.

Os seres humanos meditaram bem por dezenas de milhares de anos, aprendendo uns com os outros ou com os livros dos Mestres realizados e sua orientação direta – será que algo que surgiu de repente poucos anos atrás vai mudar esse processo que foi bem-sucedido por mais de dez milênios? O ser humano que acessa a internet diariamente buscando informação ou entretenimento é tão diferente ao ser humano de entre trinta anos atrás e dez mil anos atrás, que lia livros e conversava com as pessoas e praticava com simplicidade?

Sri Chinmoy tem alguns dos seus videos disponíveis para assistir, mas a ideia nunca é substituir a presença, mas sim apenas como uma forma das pessoas encontrarem algo e então se dedicarem presencialmente.

Religião, espiritualidade e meditação

Religião, espiritualidade e meditação

O que é meditação?

Sri Chinmoy: Meditação é a percepção consciente de Deus. Somos todos buscadores. Quando somos buscadores, nosso dever é sermos conscientes de Deus vinte e quatro horas por dia. Se acreditamos em Deus, naturalmente sentiremos que ele existe. Mas esse sentimento não é espontâneo; ele não dura vinte e quatro horas por dia. Quando meditamos, chega a hora em que sentimos e percebemos vinte e quatro horas por dia que somos de Deus e existimos por Deus. A percepção constante e consciente de Deus – Sua Verdade, Luz e Deleite – é chamada de meditação.

Como podem as diferentes religiões melhor respeitar e valorizar umas às outras?

Sri Chinmoy: Cada religião deve sentir que não é nada mais senão um ramo. Se há um ramo, deve haver uma árvore. Essa árvore é o amor pela verdade. A verdade encontra a sua satisfação apenas quando abraça a Vastidão como parte de si. Cada religião deve sentir a necessidade, para a sua própria satisfação, para a sua própria perfeição, de abraçar as outras religiões. Ela nunca ficará satisfeita sozinha, nunca ficará perfeita sozinha. Duas mãos são necessárias para gerar um som. Igualmente, duas ou mais coisas serão necessárias para criar algo belo, repleto de alma e frutífero. Mas, quando mergulhar fundo, verá que não são duas ou três coisas: verá uma única coisa operando através de muitas formas, muitas ideias, muitos ideais e realizações.

É possível alguém alcançar o estado de realização-Deus praticando a própria religião devotadamente?

Sri Chinmoy: Sim, praticando a religião, pode-se realizar Deus. Mas é precisa saber que há algo mais elevado e mais profundo do que a religião, que é o anseio interior constante. A religião nos dirá que Deus existe. Ela nos dirá que temos de ser bons, gentis, simples, sinceros e puros. Isso a religião será capaz de nos oferecer. Essa é a religião geral. Mas há também a religião espiritual, que é mais elevada e profunda. Ela nos dirá que não basta apenas saber que Deus existe. Temos de ver Ele, senti-Lo e devemos nos tornar Deus. Isso fazemos através da oração e meditação.

Porque a referência a Deus ou religião deixa tantas pessoas desconfortáveis?

Sri Chinmoy: As pessoas se tornaram muito sofisticadas; o que têm agora é uma consciência como a de uma máquina. Tudo aquilo que não lhes traz satisfação no plano físico, vital ou mental, ou qualquer coisa que não exista diante dos seus narizes, eles sentem ser irreal, vergonhoso. E qualquer coisa que não conheçam ou não consigam conhecer imediatamente, ou qualquer coisa de que não precisem imediatamente em suas vidas, a essas coisas não dão valor.

(…)

Você poderia explicar a diferença entre “fervor religioso” e “Deleite”? Eles se complementam?

Sri Chinmoy: Não. O fervor religioso pode ser no vital, na mente ou em outra parte da nossa existência. Ele pode nos satisfazer apenas no nível vital ou mental. O fervor, a alegria religiosa obtemos principalmente no nível vital. Mas quando vivenciamos Deleite, ele permeia nosso ser por completo. O Deleite é algo infinitamente mais elevado do que o fervor religioso. É através da nossa unicidade com o Supremo Absoluto, ou através da nossa dedicação completa à Sua Vontade, que obtemos Deleite. O Deleite age na nossa própria existência interior imorredoura e inata, para a manifestação plena do divino dentro de nós. Portanto, são coisas diferentes.

A religião é indispensável para a realização-do-Eu?

Sri Chinmoy: Tudo dentro de nós que é bom é responsável pela realização-do-Eu. Mas se você perguntar o que é indispensável, eu direi que apenas uma coisa é indispensável, que é o nosso clamor interior, o nosso clamor constante e mais profundo.

Fui criada na tradição católica romana, mas quando cresci parei de ir à igreja. Agora que estou novamente interessada na vida espiritual, minha mãe não consegue compreender por que eu não quero voltar a frequentar a igreja. Como eu poderia explicar isso para ela?

Sri Chinmoy: Você pode dizer à sua mãe que você estudou naquela escola e não se interessou muito. Agora você está estudando em outra escola, gosta do professor, gosta dos alunos e gosta do que está sendo ensinada. A igreja católica ensina Verdade, Luz, Paz e Deleite. Você também está buscando trazer à tona a Verdade, Luz, Paz e Deleite, de uma maneira diferente. Se enxergar a igreja católica romana como uma escola e a nossa organização espiritual como outra escola, terá todo o direito de dizer que gosta mais de uma escola do que da outra, e que é por isso que frequenta essa escola.

Como a disciplina religiosa difere da disciplina espiritual?

Sri Chinmoy: A disciplina religiosa não espera que você ore e medite a cada segundo da sua vida. A disciplina religiosa pode lhe sugerir ir à igreja uma vez na semana e orar para Deus. Isso basta para a disciplina religiosa. Mas se for uma disciplina espiritual, ilha de dirá que deve estar consciente de Deus vinte e quatro horas por dia e orar e meditar pelo menos duas vezes por dia – de manhã e à noite. A disciplina espiritual é um processo constante, consciente. Ela é infinitamente mais importante do que a disciplina religiosa, pois, quando se pratica disciplina espiritual, tenta-se ser um instrumento vivo consciente e constante de Deus, para que Deus possa Se manifestar em a através de nós da Sua própria Maneira. Quando seguimos uma disciplina espiritual, ao fim da estrada descobrimos que estamos nos tornando a Imagem de Deus. Seguindo uma disciplina religiosa, ao fim da estrada diremos que viemos e vimos a meta. A disciplina religiosa irá, no máximo, levá-lo até a meta, ao passo que a disciplina espiritual ou iogue não apenas o levará até a meta, mas também fará com que sinta que você é a própria meta.

Dicas para meditação 51 – como retomar a prática sincera

Pergunta: Existe algo que podemos fazer para manter a inspiração que tínhamos no começo do ano? Geralmente em março já desisti da minha promessa de ano novo.

Sri Chinmoy: Ao invés de uma promessa, você pode ter doze projetos. Agora é janeiro. Neste mês, sinta que vai cumprir um projeto, não a ferro e fogo, mas com sua maior aplicação, sua maior aspiração. No fim do mês, se não tiver sucesso, esqueça-o totalmente. Sinta que aquele mês não existiu na sua vida. Se pensar: “Já que eu falhei em janeiro, não há esperança de sucesso em fevereiro”, ficará totalmente perdido. Se falhar em janeiro, sinta que esse mês não existiu no seu calendário. Isso não é auto-engano; isso é sabedoria. Qualquer coisa que não o deixe correr o mais rápido possível em direção à meta é inimiga sua. Todavia, se você tiver sucesso, pode ser sábio e falar: “Cumpri a promessa em janeiro. Agora, também preciso cumpri-la em fevereiro”.

            Perfection and Transcendence, p. 42-43

    Sri Chinmoy: Vocês podem retomar a intensa aspiração, que todos vocês possuíam quando aceitaram a vida espiritual, através de dois sentimentos. Primeiro devem sentir que o que conquistaram ou receberam até o presente momento não é nada se comparado com o que de fato necessitam de seus interiores ou das alturas. Sim, você alcançou ou recebeu algo; tem feito uma ótima, excelente meditação. E é tudo verdade. Mas em termos do que você ainda receberá ou se tornará, não é nada, nada, nada. Você lembra do que possuía e o que era há dez anos atrás. Agora você possui algo, e se tornou alguma coisa. Mas seja sincero! O objetivo está bem em frente ao seu nariz ou ainda é uma meta distante? Ainda é uma meta distante.  É suficiente o que você recebeu? Se for sincero, dirá que é quase nada se comparado com a infinita Luz que você busca. É um mínimo, absolutamente nada. Se tiver este tipo de sentimento, a sua sede cresce.

    No entanto, ao sentir que o que tem é mais do que o suficiente, uma postura complacente se cria. Talvez pense que meditou muito bem muitas vezes nesta encarnação e que já fez isto ou aquilo pelo Centro, e mesmo se não fizer nada mais, Deus se agradará com você. Quando os discípulos têm esta postura, sentindo que fizeram o suficiente por esta encarnação, não há movimento de avanço. Somente ao dizer que não fizeram nada se comparado com o que podem fazer, é que surge um clamor interior. O que possuem até o momento está entre vocês e seu Guru, entre vocês e Deus. Mas devem saber que o que ainda não receberam é infini-tamente mais importante do que o que já possuem. Dessa maneira, ao sentirem que ainda há algo infinitamente mais valioso, naturalmente buscarão read-quirir a sua aspiração e almejar por tal coisa.

    Antes de aceitar a vida espiritual, quando estava na vida-desejo, quando primeiro pensou em entrar para a vida de aspiração, você sentiu que esta vida de aspiração era algo que realmente traria satisfação. Por fim, você deixou a vida de desejo e entrou para a vida de aspiração. No entanto, deve sentir que esta vida-aspiração não é o suficiente. Somente a vida de realização lhe dará iluminação e satisfação. Quando estava na vida-desejo, você pensava que a vida-aspiração era tudo. E estava certo, absolutamente certo. Porém, agora você deve sentir que aspiração não é tudo. De outra forma, estará aspirando por um dia e por outros dez dias não estará. Agora a vida de realização é a sua única meta.  Se tiver a vida de realização, apenas então poderá alcançar satisfação constante. Quando estava na vida de desejo, você pensava: “Aqui não há satisfação adequada.” Então, quando tinha uma gota de aspiração, obteve uma gota de satisfação. Contudo, se deseja satisfação duradoura, a realização deve se fazer conhecida.

    Sinta que havia um clamor que o compeliu a saltar das margens do desejo para as margens da aspiração. Para retomar a intensa aspiração com a qual iniciou a sua jornada, pense que deve desenvolver o mesmo tipo de clamor e saltar da margem-aspiração para a margem-realização. Senão, não lhe será possível alcançar a margem-realização. Uma vez você clamou e saltou. Agora, para ser capaz de saltar você deve clamar novamente. No entanto, caso sinta que o primeiro salto foi suficiente, naturalmente não sentirá a necessidade de seguir em frente. E, se não seguir em frente, nunca ficará satisfeito. O que há de real e verdadeiro em você não ficará satisfeito.

    Você desenvolve esse intenso clamor apenas ao sentir um vazio sincero. Sinta que o que possui não é nada e que você não é nada em comparação com o que possuirá ou se tornará. A sua mente física lhe dirá que você fez muito progresso pois aceitou a vida espiritual. Porém, se você recebe tanto, meditando apenas de vez em quando, então receberá muito mais ao meditar constantemente e conscientemente. Até mesmo a ganância humana lhe dirá que você possui bastante, ainda que sem ter meditado de maneira irrestrita, consciente e devotada, e portanto, se o fizer devotadamente, receberá muito mais paz, luz e alegria.

    Diga a si mesmo: “Apesar de ser letárgico, apesar de ser um instrumento imperfeito, recebi tanto meditando e orando de forma desorganizada. Caso aspirasse consciente, regular e devota-damente, eu receberia muito mais.” Há muita verdade nessa abordagem humana. No entanto, a maneira divina é: “Sou muito rico, mas e daí? Deus lida com Sua infinita, imortal, eterna riqueza. O que me tornei não é nada, nada, nada em comparação com o que eu posso me tornar ou com o que me tornarei.”

    Trabalhando duro, você ganha cem dólares. Tendo estes cem dólares, pode novamente trabalhar bastante e receber um milhão de dólares. Essa é a gananciosa abordagem humana. A outra abordagem é sentir que não importa o quanto recebeu, mesmo que seja um milhão de dólares, Deus possui muito mais. A mais vasta quantidade não é nada ao Olho de Deus, porque Deus possui infinita Paz e Luz. Deus sempre lida com a Infinidade. Um milhão pode ser contado, já a Infinidade não pode. Precisamos da Infinidade, mas o que temos agora não é nada quando comparada com ela.

    Este modo divino de abordar a Infinidade de Deus é o modo indiano. Na Índia, as pessoas clamam Deus como sendo delas. Aqui no ocidente, infelizmente vocês têm medo de clamar a Deus. Sentem que, já que cometeram um pecado, como podem clamar a Deus como sendo de vocês? Na filosofia indiana não existe pecado. E mesmo se existisse, nós temos fé em nosso Pai e Mãe divinos. Toda a nossa poeira e sujeira irá embora no momento que formos até Eles. Eles nos lavarão. Uma criança clama a sua mãe e seu pai como seus. Onde está a capacidade de sentir de culpa? Não há culpa.

    Retornando à sua pergunta, você pode começar com a gananciosa abordagem humana de forma a aumentar a sua aspiração. Se quiser se tornar o Shylock* do século vinte, tudo bem. Junte tanta riqueza espiritual quanto puder. Verá então a sabedoria despertando em você. Mesmo se tentar separar a Infinidade do finito, verá que é impossível. O finito e o Infinito sempre caminham juntos.

(*Usurário judeu e antagonista de Antonio em “O Mercador de Veneza”, de Shakespeare.)

          Perfection in the Head-World, p. 30-34

A meditação é para todos?

A meditação é para todos?

texto de Sri Chinmoy

A meditação é para todos, independentemente se uma pessoa está buscando Deus conscientemente?

Sri Chinmoy: Sim, a meditação é para todos, quer a pessoa esteja buscando Deus conscientemente ou não. O que se deve saber é o quão longe deseja ir. Alguém pode estudar no jardim de infância. Alguém pode ir para o ensino médio, universidade, mestrado ou doutorado. Mas esse é o conhecimento exterior. A meditação nos dá sabedoria interior.

Você pode estar satisfeito com uma gota de sabedoria interior. Mas você pode perceber que só ficará satisfeito com Paz, Luz e Deleite ilimitados. Depende de onde o buscador quer chegar. Assim como vamos para a escola para obter conhecimento exterior, devemos meditar para termos sabedoria interior. Se o buscador quer ficar satisfeito com apenas uma fração de Paz, Luz e Deleite, ele a terá. Se ele quiser ilimitadas Paz, Luz e Deleite, ele também as terá, contanto que continue a meditar regularmente, devotadamente, com alma, sem reservas e incondicionalmente.

Trabalho, riqueza mundana e a Verdade Absoluta

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Trabalho, riqueza mundana e a Verdade Absoluta

Esses escritos são apenas amostras dos ensinamentos de Sri Chinmoy, não sendo a sua filosofia completa sobre o tema.

 

Para um homem não aspirante,

o trabalho é uma punição,

trabalho é uma tortura.

Para um homem aspirante,

o trabalho é uma bênção,

o trabalho é uma alegria.

Sri Chinmoy

 

Há alguma contradição na busca da riqueza mundana e da Verdade Absoluta?
Sri Chinmoy: Sempre haverá uma triste contradição entre as duas. Quando você clama por fama, renome, riquezas e outras coisas e, ao mesmo tempo, clama pela Luz interior, pela Luz abundante e pela Luz infinita, haverá uma contradição grave. De um lado, você está alimentando desejos ordinários dentro de você, desejando, digamos, uma casa, depois mais uma; Do outro lado, você está buscando o caminho da aspiração, a partir da qual você pode entrar no Infinito. Lá você não entra de pouco em pouco – você apenas entra. Você quer entrar no Infinito e você pode fazê-lo. Você simplesmente entrar e o seu clamor interior traz a Graça de Deus.
Quando você caminha através dos desejos, não há fim para eles. Hoje o seu desejo é satisfeito e amanhã você será vítima de um novo desejo. Primeiro você fica um pouco famoso; depois um pouco mais. O desejo de hoje aumenta amanhã em medida infinita. Não há fim. Hoje você é satisfeito, mas amanhã será possuído por um novo desejo.
No caso da aspiração, não funciona assim. A sua natureza, a sua própria natureza, deseja permanecer no Infinito. Quando alguém permanece na Luz altíssima, na Luz tudo-preenchedora, a Luz é quem decide dar uma experiência específica ao buscador ao lhe conceder renome e outras coisas. Mas se o buscador em si quiser ter ambos desejo e aspiração, fama e renome mundanos e mais a verdadeira aspiração pelo Altíssimo, ele não ficará nem no caminho espiritual e nem no mundo material ordinário, pois será constantemente atraído por essas duas forças contraditórias. Uma força dirá que a outra é inútil. O desejo dirá: “A aspiração é inútil. Você construirá castelos no ar.” A aspiração dirá: “O desejo é estupidez, uma estupidez sem fim.” É como um camelo no deserto. Ele come arbustos espinhosos e sua boca sangra profusamente. Mas ele volta e come mais espinhos.
Essas são as duas forças contraditórias que existem: o desejo o leva à frustração e a aspiração o leva à satisfação. Mas existe um outro ponto sutil que devemos tocar. É o mundo material, o mundo físico. Não podemos rejeitar o mundo físico. Por quê? É porque nosso mundo espiritual está dentro do mundo físico. Quando é uma questão do mundo interior e exterior, temos de entender que a Realização do mundo interior deve ser expresada no mundo exterior. Não podemos separar o mundo interior do mundo exterior. Essa é a nossa visão, a nossa filosofia. Esse é o nosso caminho. Outros caminhos são diferentes. Se deixamos o mundo exterior e ficamos nas cavernas dos himalaias, não realizaremos a Verdade Absoluta aqui na Terra.
Se dissermos “Os seres humanos são muito maus; eu quero fugir disso”, estaremos separando o mundo interior do mundo exterior. Nossa filosofia é que o mundo exterior deve ser uma manifestação ou uma expressão do mundo interior. Para manifestar a Verdade, é preciso primeiro ter a Verdade e, para isso, a aspiração é necessária.
Como eu disse no início, se tentarmos unir o desejo e a aspiração, seremos arruinados. Porque eles são como o pólo norte e pólo sul, nem a aspiração e nem o desejo terão interesse em nós ou em nos satisfazer, pois não conseguem caminhar juntos. Uma vez que, através da aspiração, a Realização seja estabelecida, você poderá adentrar o campo da manifestação. Talvez isso lhe seja confiado. Ninguém o culpará por entrar no mundo exterior, porque haverá um Poder superior que trará o “resultado exterior” para você. Esse Poder superior só está interessado na sua Realização, na sua unicidade com o Absoluto altíssimo. O Poder estará em você e por você. Isso é o que Deus quer de você. Isso é o que Deus precisa de você.
Para um buscador, se ele é um verdadeiro buscador, ele deve passar pela aspiração e não pelo desejo. Se agora mesmo alguém tem aspiração e desejo, essa pessoa deveria abandonar o caminho espiritual? Não. Ela deve trilhá-lo. É preciso ver as porcentagens. Se ela tem 50% aspiração e 50% desejo, então o que deve fazer? Ela não deve renunciar a vida humana comum, mas também deveria prestar mais atenção ao caminho da aspiração. Gradualmente, gradualmente, a porcentegem de desejo diminuirá. Chegará o dia em que essa pessoa realmente verá que é a aspiração quem o satisfaz, que traz a ele toda alegria que ele sente. Ela verá que a aspiração irá satisfazê-lo para sempre. Nessa hora, a vida-desejo automaticamente ressecará e a vida de aspiração a carregará até o fim da estrada, a verdadeira Meta.

Qual o lugar do trabalho na vida espiritual?
Sri Chinmoy: Há alguns Mestres espirituais que permitem que seus discípulos vivam errantes. Eles são como parasitas; hoje estão aqui, amanhã estão em outro lugar. Nosso caminho não é assim. Eu peço que meus alunos trabalhem ou estudem. Se você trabalhar, se tiver uma padrão de vida modesto e decente e tiver uma vida normal, eu ficarei muito feliz. É absolutamente necessário ter uma vida normal.
Sinta que o trabalho, se feito devotadamente, é a oração do corpo. A oração do corpo é necessária, absolutamente necessária, para satisfazer Deus. Assim como o coração ora, a mente, o vital e o corpo também devem orar. Quando dizemos que o corpo deve orar, sabemos que essa oração só pode ser realizada através de serviço abnegado.
Sri Chinmoy, Service-boat and love-boatman, part 1, Agni Press, 1974

Como voltar a ser criança, ou “como desaprendemos os ensinamentos da mente?”

Como voltar a ser criança, ou “como desaprendemos os ensinamentos da mente?”

Sri Chinmoy: A maneira principal é trazendo a luz da alma para a mente e também para os ensinamentos da mente. Então a luz da alma irá iluminar ou obliterar tudo que a mente, a mente física, a mente duvidosa e suspeita nos ensinou. A mente humana comum nos ensinou muitas coisas. A mente está constantemente suspeitando, a mente está constantemente duvidando, constantemente trazendo a verdade até nós de sua própria maneira. Mas com a luz da alma as coisas que aprendemos podem ser facilmente deixadas de lado ou iluminadas.

Ou então, se tentarmos constantemente trazer o coração à tona e não dermos nenhuma atenção à mente física, automaticamente desaprenderemos o que a mente nos ensinou. Essa é a segunda melhor forma. É como o ditado de que “o que os olhos não vêem, o coração não sente.” Se não revermos os ensinamentos da mente, naturalmente esqueceremos deles. Ao mesmo tempo, para desaprender coisas antigas, os ensinamentos da mente, devemos dar atenção às coisas novas, aos ensinamentos do coração. Quanto mais aprendemos coisas no coração e do coração, mais cedo esquecemos as coisas antigas que aprendemos com a mente de dúvida e suspeita.

Sri Chinmoy, Self-discovery and world-mastery, p 27, Agni Press.

Coloque a mente dentro do coração. Pegue a mente e coloque-a no rio do coração. A mente é como uma criança travessa. Antes, ela estava dormindo. Assim, a mãe podia ficar em silêncio e orar a Deus. Entretanto, a criança agora acordou e quer fazer traquinagens. Ela não quer mais deixar que a mãe aspire. O que a mãe vai fará? Ela ameaçará a criança, dizendo: “Ainda estou orando, ainda estou meditando. Se você me perturbar, terei de puni-la”. Enquanto a mente deixar que você medite, você não precisa se preocupar. Mas quando ela começar a incomodá-lo e a causar dor, isso significa que ela não quer que você receba mais paz, luz e bem-aventurança sublimes. Você precisa usar o poder de sua alma e colocá-la no coração.

Se puder permanecer no coração, começará a sentir um clamor interior. Essa súplica interior – que é a aspiração – é o segredo da meditação. Quando um adulto chora, o seu choro geralmente não é sincero. No entanto, quando uma criança chora, mesmo que esteja chorando só por um doce, ela é muito sincera. Nessa hora, o doce é o mundo inteiro para ela. Se você lhe der uma nota de 100 dólares, ela não vai ficar contente. Ela está interessada apenas no doce. Quando uma criança chora, o pai ou a mãe imediatamente vai até ela. Se você puder suplicar do seu mais profundo interior por paz, luz e verdade, e se essa for a única coisa que irá satisfazê-lo, então é certo que Deus, que é o seu Pai e sua Mãe eternos, virá para ajudá-lo.

Você sempre deveria sentir que está tão desamparado quanto uma criança. Assim que você sentir que está desamparado, alguém virá para ajudá-lo. Se uma criança estiver perdida na rua e começar a chorar, alguém de bom coração vai mostrar onde é a casa dela. Sinta que você está perdido na rua, e uma tempestade está chegando. Dúvida, medo, ansiedade, preocupação, insegurança e outras qualidades não-divinas estão vindo até você. Entretanto, se você chorar com sinceridade, alguém virá para socorrê-lo e mostrará como chegar até a sua casa, que é o seu coração. E quem é essa pessoa? Deus, o seu Piloto interior.

Hoje você pode ser um principiante na vida espiritual, mas não sinta que será um iniciante para sempre. Em algum momento, todos foram iniciantes. Se praticar concentração e meditação diariamente, se for sincero de verdade na sua busca espiritual, então é certo que fará progresso. O importante é não desanimar. A realização-Deus não acontece da noite para o dia. Se você meditar com regularidade e devoção, se puder clamar por Deus como uma criança que chora pela mãe dela, então não vai precisar correr até a meta. A meta virá e se colocará diante de você, considerando-o como uma parte dela mesma.

Uma maneira de aumentar a sua receptividade é ser como uma criança. Se a mãe diz para ela: “Isso é bom”, a criança não tem nenhuma tendência a pensar que aquilo é ruim. Não importa o quão evoluído você seja na vida espiritual, poderá progredir do modo mais rápido possível se tiver uma atitude de criança, um sentimento de criança inocente autêntico e sincero.

Sri Chinmoy, Meditação. Leão Livros

O nosso progresso será mais rápido se meditarmos no coração. Quando meditamos na mente ou dentro da mente, sentimos que já sabemos bastante sobre a vida espiritual. Porém, quando olhamos para o interior profundo, descobrimos que não sabemos quase nada sobre a vida espiritual. Só acumulamos informação nas nossas mentes – informação, nada mais. Mas, quando meditamos no coração, sentimos que somos como crianças que realmente querem aprender tudo de novo com a sua mãe ou pai. A criança sente que não sabe nada, mas quer aprender tudo da forma correta.

Portanto, o meu conselho aos buscadores que desejam seguir o nosso caminho é que se concentrem e meditem no coração. E mesmo aqueles que não se encaixam no nosso caminho podem tentar meditar no coração. Não é só o nosso caminho que enfatiza a importância de meditar no coração. Há outros caminhos e outros Mestres espirituais que defendem a mesma ideia.

Sri Chinmoy, A Aventura da Vida, Leão Livros.