(acima, curso na Unicamp)
Experiências com o trabalho voluntário
Faz vinte anos que comecei a fazer trabalho voluntário. Esse tipo de serviço traz uma espécie de satisfação incomum quando vem do interior; não com o desejo de ser bonzinho, de mostrar que você tem algo para dar, mas sim quando você sente que lhe foi dada uma chance de se tornar quem você é através da autodoação.
Fica difícil hoje contar mais do que o superficial, porque, na verdade, as experiências são profundas. Mas tentarei compartilhar ao menos o superficial:
Traduções do inglês (na verdade, escrever português)
A primeira coisa que fiz foi traduzir livros do inglês. Mas meu português escrito era tão ruim que não servia muito para ninguém os livros que traduzi. Mas isso me fez ter vontade de estudar português de verdade (algo que eu havia bloqueado durante a escola). A partir de então, todos os meus empregos eu consegui por ter gabaritado a prova de português. De repente, meu maior inimigo na escola, o português, se tornou um aliado nos campos de batalha. Sem falar no fato de eu ter quase decorado os livros que traduzi, pois tive de revisá-los muitas vezes. Mesmo que ninguém lesse as traduções, elas me construíram muito melhor do que eu era antes.
Distribuir livros gratuitamente
Uns quinze anos depois de traduzir esses livros, alguns tinham sido publicados e vendidos, mas eu separei um orçamento para fazer um desses livros em grande quantidade (e baixo preço, portanto). Sempre que tinha a chance, eu gostava de dar de presente o livro. Um colega que joga jogos de tabuleiro um dia foi em casa pegar um jogo que vendi, e eu dei o livro para ele. Ele entrou rápido no carro e foi embora. No dia seguinte, recebi uma mensagem: “Desculpe não ter mais tempo aquele dia. Mas queria contar duas coisas. Eu senti muita paz na sua casa. E, quando coloquei o livro no colo da minha esposa, que estava no carro, os olhos dela brilharam! Foi muito especial.” Outro colega também dos jogos de tabuleiro, quando viu o autor, Sri Chinmoy, na capa, exclamou: “Sri Chinmoy! Eu fui num Concerto da Paz dele na Alemanha, nos anos 90!” Para mim foi muito legal ver pessoas que haviam visto o Mestre muito antes de eu pensar em qualquer coisa de espiritualidade. Uma colega me contou que uma pessoa que ganhou um desses livros teve sua vida transformada completamente – trabalho, família, dieta, etc.
Cursos de meditação gratuitos
Essa foi a atividade onde mais me dediquei, e onde mais me transformei. É algo tão importante e sagrado que, simplesmente ao se colocar disponível para isso, você precisa mudar, melhorar, se permitir ser um instrumento, com todas as consequências. Eu sinto que é como se fosse um fio de eletricidade. A energia precisa ir de A para B, mas por você ser o fio que só conduz a eletricidade, você também fica eletrizado, na mesma proporção que A e B. Em alguns momentos me vi dizendo as coisas como se fosse um observador. Em alguns desses casos, lembro até de começar a contar uma história espiritual, mas eu não sabia qual era o fim da história, o que ela tinha a ver com o que estávamos falando, e nem qual seria a próxima parte. Era como se as palavras fossem colocadas na minha boca, e eu só não resisti, fiquei observando. Ao final, eu mesmo pensei: “Nossa, que história incrível e iluminadora!” Olhando para as pessoas que estavam ouvindo, todas estavam transfixadas, imóveis. Acho que a moral disso tudo é que tem Alguém que faz certas coisas para a humanidade, e temos a oportunidade de participar disso de forma humilde e ainda sendo elevado por Ele ao mesmo tempo.