Experiências com o trabalho ou serviço voluntário

(acima, curso na Unicamp)

Experiências com o trabalho voluntário

Faz vinte anos que comecei a fazer trabalho voluntário. Esse tipo de serviço traz uma espécie de satisfação incomum quando vem do interior; não com o desejo de ser bonzinho, de mostrar que você tem algo para dar, mas sim quando você sente que lhe foi dada uma chance de se tornar quem você é através da autodoação.

Fica difícil hoje contar mais do que o superficial, porque, na verdade, as experiências são profundas. Mas tentarei compartilhar ao menos o superficial:

Traduções do inglês (na verdade, escrever português)

A primeira coisa que fiz foi traduzir livros do inglês. Mas meu português escrito era tão ruim que não servia muito para ninguém os livros que traduzi. Mas isso me fez ter vontade de estudar português de verdade (algo que eu havia bloqueado durante a escola). A partir de então, todos os meus empregos eu consegui por ter gabaritado a prova de português. De repente, meu maior inimigo na escola, o português, se tornou um aliado nos campos de batalha. Sem falar no fato de eu ter quase decorado os livros que traduzi, pois tive de revisá-los muitas vezes. Mesmo que ninguém lesse as traduções, elas me construíram muito melhor do que eu era antes.

Distribuir livros gratuitamente

Uns quinze anos depois de traduzir esses livros, alguns tinham sido publicados e vendidos, mas eu separei um orçamento para fazer um desses livros em grande quantidade (e baixo preço, portanto). Sempre que tinha a chance, eu gostava de dar de presente o livro. Um colega que joga jogos de tabuleiro um dia foi em casa pegar um jogo que vendi, e eu dei o livro para ele. Ele entrou rápido no carro e foi embora. No dia seguinte, recebi uma mensagem: “Desculpe não ter mais tempo aquele dia. Mas queria contar duas coisas. Eu senti muita paz na sua casa. E, quando coloquei o livro no colo da minha esposa, que estava no carro, os olhos dela brilharam! Foi muito especial.” Outro colega também dos jogos de tabuleiro, quando viu o autor, Sri Chinmoy, na capa, exclamou: “Sri Chinmoy! Eu fui num Concerto da Paz dele na Alemanha, nos anos 90!” Para mim foi muito legal ver pessoas que haviam visto o Mestre muito antes de eu pensar em qualquer coisa de espiritualidade. Uma colega me contou que uma pessoa que ganhou um desses livros teve sua vida transformada completamente – trabalho, família, dieta, etc.

Cursos de meditação gratuitos

Essa foi a atividade onde mais me dediquei, e onde mais me transformei. É algo tão importante e sagrado que, simplesmente ao se colocar disponível para isso, você precisa mudar, melhorar, se permitir ser um instrumento, com todas as consequências. Eu sinto que é como se fosse um fio de eletricidade. A energia precisa ir de A para B, mas por você ser o fio que só conduz a eletricidade, você também fica eletrizado, na mesma proporção que A e B. Em alguns momentos me vi dizendo as coisas como se fosse um observador. Em alguns desses casos, lembro até de começar a contar uma história espiritual, mas eu não sabia qual era o fim da história, o que ela tinha a ver com o que estávamos falando, e nem qual seria a próxima parte. Era como se as palavras fossem colocadas na minha boca, e eu só não resisti, fiquei observando. Ao final, eu mesmo pensei: “Nossa, que história incrível e iluminadora!” Olhando para as pessoas que estavam ouvindo, todas estavam transfixadas, imóveis. Acho que a moral disso tudo é que tem Alguém que faz certas coisas para a humanidade, e temos a oportunidade de participar disso de forma humilde e ainda sendo elevado por Ele ao mesmo tempo.

O que faz você feliz

foto curso centro Sri Chinmoy

O que faz você feliz?

 

O que faz você feliz? Ficar no celular, ou ler um livro?

O que faz você se sentir feliz? Assistir mais um episódio da série, ou fazer algo divertido com seus amigos?

O que faz você se sentir bem? Ficar acordado até tarde usando a internet, ou sair cedo para correr?

O que lhe traz paz? Olhar as redes sociais dos outros, ou viajar olhando pela janela?

O que lhe dá esperança? Obter algo cobiçado para si, ou doar-se em serviço aos outros?

O que faz você sentir progresso? Tentar se convencer que tudo está bem na sua vida do jeito que está, ou sentar-se para meditar?

Se você perceber, todas as “primeiras coisas” são coisas que vêm como impulso irracional, rotina advinda do hábito ou são produtos comerciais feitos para prender sua atenção, e são quase todas passivas. Todas as “segundas coisas” são coisas testadas por milênios pela humanidade, e são quase todas ativas.

Quanto mais nos afastamos da nossa busca, da nossa vontade de realizar algo e se tornar algo mais elevado, mas difícil fica a nossa vida. A comodidade diz que deveria ser o contrário – quanto mais confortável, melhor. Mas é uma armadilha do conforto, da nossa natureza animal. O resultado desse prazer é certo: um segundo de satisfação superficial seguido de uma longa frustração ou sentimento de vazio (vocês podem ter certeza que sei o que é isso do que estou falando).

Mas a realidade diz que, quanto mais dedicação, mais resultado. A aspiração que temos é o que nos instiga a buscar a Realidade. Ela anseia para nos unir uma vez mais com quem realmente somos – nossa alma, nosso Piloto Interior, o Realizador de todos os nossos sonhos, até mesmo dos que não sabemos ainda que temos.

 

Minimize os seus desejos.

Você será feliz.

Satisfaça suas necessidades.

Você será feliz.

Divinize seus pensamentos.

Você será feliz.

Imortalize a sua fé.

Você será feliz.

Corrija seus erros.

Você será feliz.

Intensifique seu anseio.

Você será feliz.

Sri Chinmoy, The Wings of Light, part 11, Aum Press, Puerto Rico, 1974

Como eu cheguei no Caminho – Patanga

por Patanga Cordeiro

Com uns 16 anos, comecei a mudar algumas coisas na minha vida, sem saber o porquê. Acho que era um “bom menino”, tinha uma boa família, estudava numa boa universidade. Mas a vida não me satisfazia. Aos 18 anos, um colega me entregou um livro e disse “acho que você vai gostar.” Eu li o livro, sobre yoga e um estilo de vida oriental, e quase tudo fazia sentido. Parei de comer carnes, comecei a praticar esportes, etc. Mas, ainda assim, aquele vazio profundo continuava.

A vida era tediosa, e eu me sentia absorvendo as coisas ao redor simplesmente por não ter outras opções. Por não ter algo maior para fazer, inconscientemente comecei a acumular gradualmente fardos e mais fardos que mais tarde teria de remover – ideias, responsabilidades, apego. Achei que ia me formar na faculdade, comprar casa, carro, casar, ter filhos, etc. Nada que eu quisesse fazer de verdade – mas, por acaso, existia algo na vida além disso? Eu nunca havia cogitado haver outra possibilidade. 

curso meditação UFSCar São CarlosQuando tinha 19 anos, fui numa palestra sobre meditação. Eu não estava procurando por isso, mas, quando vi o cartaz na universidade, senti – por algum motivo – que deveria ir. As duas coisas que mais me tocaram – e as únicas que lembro até hoje – foram, primeiro, o sorriso do palestrante; era alguém que parecia ter uma satisfação e felicidade mais verdadeiras do que as pessoas do meu convívio. Era um sorriso singelo, mas que demonstrava uma vida interior que florescia;

A segunda, e maior, foi ver a foto de Sri Chinmoy na mesa do auditório. Quando olhei para ela com atenção, parecia que era a foto de diversas pessoas alternadamente, como se todas as coisas existissem dentro da foto. (Hoje eu chamaria isso de “consciência universal”.) Alguns momentos depois, quando me concentrei nela por mais tempo para um exercício de meditação, eu senti que o semblante da foto ficou sério, e ela me passava uma mensagem interior, que me fazia sentir “Moleque, você tem que tomar jeito na sua vida!” Era como se a foto, a consciência de Sri Chinmoy, tivesse responsabilidade por mim, pela minha vida. Eu nunca tinha cogitado essa possibilidade e nem achava que tinha ou precisava de um Mestre espiritual, mas hoje vejo que esse é o cuidado que o Mestre tem pelos seus alunos. Era como se ele estivesse me esperando e me guiado nos acontecimentos da minha vida até aquele momento onde o encontrei.

Levou uns meses e algumas experiências interiores e exteriores para eu começar a entender com a minha cabeça o que estava acontecendo na minha vida e no meu interior – ou, poderia dizer, para começar a viver mais no coração ao invés da mente. Comecei a praticar a vida espiritual de acordo com os ensinamentos exteriores e interiores de Sri Chinmoy. Meditação, canto, leitura, trabalho, serviço abnegado, me divertir como uma criança, conversar com outros buscadores; tudo fazia sentido, mas agora de forma espontânea, sem explicação. Comecei a me sentir feliz DE VERDADE. Na verdade, eu mesmo passei a fazer sentido, então as coisas ao meu redor também passaram a ter um significado – só que agora transformadas em algo mais divino.

A cada semana que passou nesses vinte anos desde que encontrei meu Caminho, eu sentia que isso apenas aumentava. Cada vez mais tudo que faço possui mais valor e mais promessa, me faz sentir mais pleno e satisfeito. A cada semana vejo como melhorei em diversos aspectos e me sinto grato. A cada dia também tomo consciência de imperfeições em mim e ganho inspiração e orientação interior para melhorar. A cada ano reparo nas coisas que fiz e sinto que tudo valeu a pena, até mesmo a espera inicial, aquele “vazio” gestante de possibilidade. É como se o Mestre espiritual fosse aquele príncipe encantado das estórias, que com um toque desperta finalmente a minha alma dormente e sonhadora para a vida real.

A vida dele é cheia de barulho,
A vida dele é cheia de correria,
A vida dele é cheia de pressa.
Ele é uma imagem da insinceridade,
Ele é uma imagem da ingratidão,
Ele é uma imagem do fracasso.
Ele falha em silenciar a tempestade de sua carne,
Ele falha em sair do abismo de sua dúvida,
Ele falha em sepultar o caixão do seu medo.
Ainda assim
Ele será salvo,
Ele será libertado,
Ele será completo.
Pois
Ele ouviu os passos de seu Mestre.

-Sri Chinmoy, o Mestre e o discípulo

Fazendo perguntas ao Mestre espiritual

Um de meus amigos teve a oportunidade de passar longas horas sozinho dirigindo com Sri Chinmoy, nosso Mestre espiritual. Entretanto, muitas vezes ele sentia ser melhor não distrair o Mestre com suas perguntas pessoais, e preferia deixar que Mestre fizesse o que fosse necessário interiormente, e se fosse necessária uma ação externa, que ela deveria acontecer por iniciativa própria do Mestre. Só raramente é que ele iniciava uma conversa.

Uma vez, entretanto, ele fez uma pergunta sobre perguntas: quando não queremos perguntar algo ao Guru no plano externo, como obter respostas às nossas perguntas? Guru respondeu que poderíamos escrever uma carta de forma detalhada com nossas ideias e sentimentos e colocá-la em nosso altar de meditação pessoal.

Certa vez, eu senti muita necessidade de entregar uma das minhas imperfeições, mas ela estava sendo tão recalcitrante! Eu escrevi uma carta sentado em meu altar de meditação. Quando terminei de escrever a carta e decidi começar uma breve meditação, o problema tinha desaparecido totalmente!

Mais tarde, notei que isso voltou lentamente. Até então eu havia percebido que não só precisava de uma graça especial para removê-la, mas que no futuro esta graça também me mostraria como mudar gradualmente minha vida de tal forma que esta imperfeição não encontraria seu caminho de volta. Por isso, tive duas lições com uma pergunta, duas lições com uma oração! Quem ousaria dizer que nós fazemos o trabalho e Deus dá os retoques finais?

Postagem original

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Perguntas e respostas

Textos por Patanga Cordeiro, servidor público, ultramaratonista, voluntário. Instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004.

Na presença do Mestre espiritual

Quando me tornei discípulo de Sri Chinmoy, senti que qualquer orientação interior que obtinha tinha aumentado em quantidade, qualidade, clareza e propósito. Essa orientação interior viria na forma de inspiração para fazer algo, um ideal prático ou um desejo inexplicável de estar em algum lugar. Quanto mais eu ouvia essa orientação interior, mais frequentemente podia ouvi-la, e mais harmoniosa, realizadora, interessante e cheia de propósito minha vida se tornava. Quanto mais eu meditava com a foto do meu Mestre, melhor se tornava meu dia. De repente eu me lembraria de coisas muito importantes que eu havia esquecido depois de olhar a foto dele por um minuto. Uma pequena fonte de gratidão estava brotando em meu coração. Esse pequeno sentimento de gratidão que eu sentia também me ajudou a me sentir próximo a ele e amado por Deus.

Lembrem-se que eu vivia a mais de 7.000 km de distância de meu Mestre.

No entanto, eu o sentia caminhar comigo nas ruas, visitando o mercado comigo, ajudando-me com meus deveres de casa, correndo comigo pela manhã, colocando-me para dormir à noite.

Tendo sido seu aluno por dois anos, tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente.

Eu não tinha nenhuma expectativa – nesses anos eu já soube o quanto ele cuidava de mim. Quando realmente o vi, não havia nenhuma experiência espiritual externa, como ver a luz, etc. Era uma mera continuação do que eu sentia em casa todos os dias. (Mas era definitivamente mais divertido!) Guru não é apenas um verdadeiro mestre espiritual, mas também é desenvolvido em todas as qualidades humanas – inteligente, educado, espontâneo, divertido, poderoso, incansável, inspirador, meigo, carinhoso, etc.

Nunca tive vontade de fazer-lhe pessoalmente ou por carta qualquer pergunta sobre minha vida espiritual. Elas foram respondidas diariamente durante minha meditação, durante minhas horas de trabalho, durante meu sono e minhas leituras. Os dois anos de distância física só me fizeram sentir com certeza que ele era meu Mestre, e eu só rezo para que eu possa ser seu discípulo por todos os anos que se seguem.

Postagem original

Textos por Patanga Cordeiro, servidor público, ultramaratonista, voluntário. Instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004.

Experiências de meditação: meditar antes de trabalhar

meditacao trabalho

Meditando antes de trabalhar

Por muitos anos, tive o hábito de meditar por sete minutos antes de começar e depois de terminar o expediente de trabalho. Sempre pareceu algo natural. Para me preparar, para agradecer, para trabalhar direito – tem tantos motivos.

Lentamente, como muita coisa que depende de disciplina, minha mente foi criando desculpas, e a meditação foi diminuindo, ficando mais informal, até um minuto apenas nos últimos anos.

Nesses dias, me lembrei como era bom e proveitoso fazer uma meditação um pouco mais longa, mais dedicada. Voltei a me propor os sete minutos que eram o hábito de anos anteriores.

Ontem tive uma experiência muito interessante. Os sete minutos de meditação passaram, e a meditação não foi nada fora do comum, talvez até um pouco mais superficial que o de costume. Mas, enquanto trabalhava, sentia claramente que a meditação estava comigo – como se estivesse guiando a minha mão que segurava o mouse do computador. Era uma sensação de ter a companhia muito preciosa de alguém que faz com que tudo mude. E eu estava trabalhando feliz, com segurança, sentindo-me útil não tanto pelo serviço em si, mas pela postura com que eu o fazia. (A ideia por trás das palavras de Madre Teresa pode servir para explicar um pouco: “Não precisamos fazer grandes coisas, mas sim pequenas coisas com grande amor.”)

Isso mudou inclusive os dias seguintes. A partir desse dia, fui ao trabalho mais motivado, mais feliz, mais espontâneo. Não é que os problemas lá mudaram – eu mudei (um pouquinho).

Já tive diversas boas experiências meditando por alguns minutinhos no trabalho.

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Texto por Patanga Cordeiro, instrutor de meditação voluntário no Centro Sri Chinmoy em São Paulo e outras cidades do Brasil desde 2004.

O que é meditar para mim

Pelos textos de Sri Chinmoy, sei que meditar é várias coisas: um processo de identificação, um mergulho fundo, um voo alto, uma forma de ouvir Deus. E é muito mais, de acordo com a sua capacidade de meditar. Um instrumento para se tornar Deus.

Sou iniciante na meditação, acredito sinceramente, apesar de ter praticado sem falta por dezoito anos hoje. Hoje é domingo, então resolvi fazer uma meditação de uma hora no fim da tarde.

Cada vez que olho para a foto de Sri Chinmoy ao meditar – eu medito na foto do meu Mestre, que é uma das formas mais tradicionais de meditação – sinto algo mais vivo, mas próximo. Vou descrever minha meditação com essa referência, da foto. Mas é certo que outras pessoas devem ter experiências similares de outras formas.

 

Às vezes a foto parece tão viva – mais viva do que eu.

Mais viva do que qualquer coisa, na verdade, no sentido de que consciência define vida. Ela é mais consciente do que as coisas vivas que costumo enxergar.

 

Às vezes ela é tão profunda, vasta.

Meditar nela é como um salto, um pulo num poço à la Alice no País das Maravilhas – como se pudesse mergulhar lá em queda livre por dias sem alcançar o fundo.

 

Às vezes é tão elevada, sublime.

Observá-la é como lembrar-se da sua Meta altíssima.

 

Às vezes a foto parece se preocupar, cuidar de mim.

Isso foi, inclusive a minha primeira experiência ao ver a foto de Sri Chinmoy dezoito anos atrás. Ela era muito séria, rigorosa, e parecia se importar profundamente com o rumo que eu dava para a minha vida. Eu sentia que ela queria que eu tivesse a melhor vida possível e, ao mesmo tempo, que ela sabia que eu não sabia como fazer isso. E percebi que, com o passar do tempo, as coisas que deveria fazer ou me tornar para ter essa vida foram-me sendo ensinadas, na maior parte do tempo, a partir do interior.

Levando a sério os escritos de um Mestre

por Patanga Cordeiro

Levando a sério os escritos de um Mestre

Hoje de manhã tive uma meditação que posso considerar boa ou satisfatória. Depois, estava lendo o seguinte trecho:

Pergunta: Como trazemos o Espírito para o nosso dia a dia?

Sri Chinmoy: Com o despertar do dia, sinta que Deus vem primeiro na sua vida. Por alguns minutos, invoque a Presença de Deus. A Presença de Deus está sempre dentro de nós, mas se você sente que Deus está em outro lugar, no Céu altíssimo, então invoque a sua Presença…

Esse conceito eu conheço bem e comento com os buscadores interessados. E, hoje em dia, sinto que a meditação faz parte da minha vida, mas tendo feito a meditação matinal por 18 anos hoje, parece que ficou um pouco mecânica. Antes, cada dia era uma oportunidade única, algo a se desbravar. Hoje, é mais um dia, um bom dia e uma boa oportunidade. Percebem a diferença?

Ao ler o texto hoje, “Com o despertar do dia, sinta que Deus vem primeiro na sua vida”, lembrei de como era a minha aspiração ao acordar bem cedo para meditar assim que comecei a meditar em 2003. (Eu costumava acordar 3:45, e fazia uma preparação muito especial, tanto exterior quanto interior.) Fiquei inspirado a retomar aquela intensidade inicial. Fiquei tão inspirado que quis até mesmo escrever.

É por isso que devemos levar tão a sério os escritos de um Mestre.

A fé é o alimento do sábio

por Patanga Cordeiro

A experiência é o alimento do tolo. A fé é o alimento do sábio.

Chinmoy, Chandelier, Sri Aurobindo Ashram, 1959

 

Você obtém um falso senso de segurança de qualquer coisa a que está acostumado. Você vive numa casa. Logo na próxima porta, seus vizinhos são o medo, a dúvida e a destruição. A qualquer hora eles podem prejudicá-lo. No entanto, só porque vive perto deles por tanto tempo, obtém um tipo de falsa segurança.

Sri Chinmoy, Illumination-World, p. 14-15

 

 

Tive e observei algumas experiências na minha vida, de meus colegas e também pessoas que comparecem aos cursos de meditação. Todas essas experiências me lembram da importância da fé, e como ela é superior ao nosso sentimento de segurança que vem da experiência.

 

Esse sentimento de segurança é um paliativo para a nossa insegurança, e não uma solução. Ficamos amarrados a ele e não saimos do lugar, para não nos arriscarmos. É um estágio da nossa evolução, e possui um papel a cumprir, apesar disso.

Já, no caso do buscador espiritual, sua fé é sublime – ela mostra de formas sutis o seu destino maior. Se você estiver com o coração aberto para sentir, ela lhe levará às margens de um além mais dourado do que o que seus olhos enxergam agora – além das brumas.

 

É como o Cristo disse ao seu discípulo Tomás: “Você viu, portanto acreditou. Mas bem-aventurados são aqueles que acreditaram sem ver.”

 

 

A fé deve ser bela.

A fé deve ter alma.

A fé deve ser devotada.

A fé deve ser sincera.

Por fim, a fé deve ser vivente.

Apenas então o buscador alcança

Um progresso espiritual ilimitado.

Sri Chinmoy, Seventy-Seven Thousand Service-Trees, part 12, Agni Press, 1999

 

Como meditar bem mesmo sem uma postura física ideal

Como meditar bem mesmo sem uma postura física ideal

Para mim, alguns dos ensinamentos mais sublimes de Sri Chinmoy sobre a postura para meditar não são técnicos, mas sim iluminadores, como por exemplo:

“Durante a sua meditação, automaticamente o seu ser interior ou consciência o levará a uma posição confortável, e então fica a seu encargo mantê-la.”

Sri Chinmoy, Two divine instruments: Master and disciple, Agni Press, 1976

 

Há muitas pessoas que têm praticado asanas, posturas físicas, por muitos anos, sem nunca ter tido mesmo uma única experiência. Por quê? Não é a postura o que vale. Não é a postura ou como você se senta. É a aspiração. Se você tivesse a capacidade, poderia até mesmo deitar e ainda meditar. Poderia correr e meditar.

Sri Chinmoy, Meditation: humanity’s race and Divinity’s Grace, part 1, Agni Press, 1974

No seu caso particular, posso ver claramente que a sua postura está correta, mas que a coisa que é de fato necessária na posição de lótus está faltando. Quando estiver sentado de pernas cruzadas e inspirando ar, o corpo todo deveria sentir conscientemente um rio de Amor divino fluindo em e através dele. Sem Amor não há Deus, e também não há existência humana. Você se ama, você ama Deus, você ama seus entes mais queridos e próximos e você ama a humanidade inteira. Por favor, tente primeiro trazer à tona o aspecto do Amor de Deus, e, uma vez que tiver firmado dentro de si esse aspecto de Amor, verá que todos os outros aspectos estão destinados a vir. O amor é a qualidade pioneira. Portanto, quando você chorar por Deus, sinta Amor – Amor imediato, espontâneo, sem reservas e devotado. Todas as qualidades divinas de Deus virão a seguir esse Amor divino.

Sri Chinmoy, Meditation: humanity’s race and Divinity’s Grace, part 1, Agni Press, 1974

 

Uma historinha pessoal sobre a postura interior para meditar bem

Agora que vocês já leram os escritos, posso deixar uma impressão pessoal, ou talvez uma historinha pessoal.

Eu acho que não sei e nem consigo meditar. E nem tenho uma postura física ideal. Mas, de vez em quando, acho que fiz ou me propus sinceramente a fazer uma ou duas coisas certas, algo que era esperado de mim. Muitas vezes nesses dias é que tenho uma boa meditação, seja antes ou depois de fazer (consigo lembrar de vários casos). Só que essas coisas não são minhas próprias ideias, mas sim inspirações que recebi. Parecem ser minhas ideias, mas se me permitir ser mais observador, percebo que elas são de fato coisas que recebi como inspiração, e não fruto da minha diligência ou inteligência. A Compaixão é quem medita em e através de mim, e, portanto, de vez em quando, eu consigo meditar bem.

Meditação, esportes e muito, muito além

patanga

Dezoito anos atrás eu estava me recuperando de um ferimento num dos ossos das pernas e não estava fazendo exercício nenhum, pois acreditava que não conseguiria mais. Eu era um bom rapaz, que não fazia nada de mal, mas também não fazia nada muito significativo ou frutífero. Minha vida era meio vazia. Num daqueles dias, eu fui num curso gratuito de meditação. O palestrante tinha levado uma foto do seu Mestre espiritual, Sri Chinmoy. Em dado momento do curso, parei de prestar atenção no que se falava e comecei a olhar para a foto. Parecia que ela retornava o olhar para mim, um olhar sério – como se aquele Mestre tivesse responsabilidade por mim, como se a minha vida e meu progresso fosse responsabilidade dele também. Foi algo que nunca esqueci.

 

Alguns meses depois, me tornei discípulo dele e também passei a meditar diariamente. Uma das coisas que Sri Chinmoy considera essencial para um buscador espiritual que deseja fazer progresso é o esporte, e deixou exemplo correndo inúmeras maratonas e ultramaratonas. Um dos seus lemas é “Run and become, become and run.” Ele ensina que o esporte é fundamental para termos saúde, purificar nossas emoções e trazer determinação, luminosidade e espontaneidade para o físico e mental. Com isso, a sua prática intrinsecamente espiritual de meditação e oração também se beneficia, pois o instrumento (que é você todo, todas as suas partes do ser) está em boas condições. Lembro que bem no dia que recebi a notícia de que tinha sido aceito, eu fiquei tão inspirado que saí para correr pela primeira vez, já que era a recomendação do Mestre.

 

Passados uns dez anos, tive um caso de dengue muito sério. Não conseguia me recuperar. Todos os dias eu ficava muito fraco, a ponto de querer perder a consciência. Nenhum médico conseguia descobrir o que era. Depois de meses e anos piorando gradualmente, no trabalho (eu era obrigado a ir, por não ter diagnóstico), eu lembro que queria muito desmaiar, para não precisar mais ficar resistindo. Nos dias não tão ruins, eu pensava “Vou tentar viver só mais uma semana.” Nos dias ruins, pensava “Vou tentar viver só mais amanhã.”

 

Em 2013, um médico de ayurveda pegou o meu pulso e viu tudo o que acontecia. Ele recomendou que eu me mantivesse fisicamente ativo durante o dia, por mais difícil que fosse. Eu já tentava correr o quanto eu conseguia de manhã, que era quase nada, mas adicionei pausas no trabalho para subir e descer escadas, etc. Não pareceu adiantar. Até que um dia fiquei sabendo da corrida que o meu Mestre (sim, ele novamente) havia criado em em Nova Iorque, com opção de seis ou de dez dias de duração. (Isso mesmo, você corre por até dez dias dentro de um parque, como se fossem dez corridas de 24h uma em seguida da outra.) Eu pensei, “vou ficar fisicamente ativo bastante tempo se fizer essa corrida!” Eu já não tinha mais nenhuma ideia do que fazer e estava piorando ainda. Eu me inscrevi para a corrida de dez dias. Foi a decisão de investir a minha vida inteira naquele único momento. Se não desse certo e fosse a minha última aventura por aqui, muito bem! – pelo menos eu haveria tentado tudo.

 

Alguns me perguntaram porque eu comecei com a corrida de dez dias, ao invés da de seis. Um dos motivos é que eu havia perdido o medo de tudo. Outro é porque não achava que haveria diferença treinar para correr seis ou dez dias. (O que você faria de diferente se fosse “treinar” (se é que é possível) para correr seis dias e se fosse para treinar para dez dias?)

 

Durante a corrida, as experiências acontecem de hora em hora. Tive muitos problemas biomecânicos – pés, joelhos, costas, canela. Sempre tinha que me adaptar, cortar os tênis para dar espaço para os pés inchados, cuidar de bolhas, etc. Mas o fato é que nem tudo tem conserto. Já no meu segundo dia, depois de uma pausa, pensei “Isto aqui não é para mim. Isto aqui é para atletas, etc. Eu não sou ninguém.” Chega uma hora, onde o cansaço, os ferimentos, a dor, a dúvida de si, tudo isso se junta, e não há algo que você possa fazer para resolver. Só há duas estradas. Desistir, ou continuar.Neste exato momento, você tem que ficar mais forte do que é, ou então desistir.

 

Felizmente, diversas vezes pude cantar com o poeta: “Duas estradas divergiram num bosque, e eu – eu tomei a estrada menos viajada. Isso fez toda a diferença.”

 

São coisas que vêm de dentro de nosso do nosso coração espiritual. Sinto que foi a prática diária de meditação que me deixou aberto para essas experiências. Eu era muito fechado para tudo, minha vida era mecânica; quando comecei a meditar com dezenove anos, minha vida era só o andar dos ponteiros do relógio e o que mais aparecesse no dia a dia da faculdade. Não tinha um propósito maior.

 

Já, na corrida, por mais que pareça impossível, inflamações que me deixariam de cama por dias (e não me deixariam sair para correr cinco minutos) passaram a ser meros inconvenientes, e eu corria três, seis, dez, doze horas em cima delas. Correndo dois ou três dias por cima de um machucado, o seu corpo muda algo na forma de reagir, e o problema passa. Provavelmente um médico me recomendaria semanas de descanso para recuperar. Mas o problema se cura com doze horas de corrida e muito pouco sono! Algumas experiências como a canelite, que foi a mais terrível, fez com que, primeiro sentisse toda a pena de mim. Lembro de sentar-me no meio fio e ficar vários minutos parado, criando coragem para encarar a dor caminhar mais dez metros até a minha barraca para descansar de fato. Depois de um tempo, aceitei a experiência num nível mais alto, enfrentei-a e, para a minha surpresa, a dor imediatamente diminuiu muito.

 

Depois de uns seis dias, minhas pernas estavam ficando mais fortes (sem descanso algum), e comecei a correr mais rápido. Comecei a comer menos. Comecei a dormir menos. Parecia que o corpo estava funcionando com base em outras leis que não vivenciamos no nosso cotidiano de acorda-trabalho-escola-dorme.

 

Desafios exclusivamente psicológicos também acontecem. Num dos dias, acho que esqueceram de contar uma ou duas voltas minhas na pista do parque. Minha mente se revoltou. Mas eu sabia que não estava lá pela quilometragem. Para mim, era algo exclusivamente entre eu e algo maior, um destino aonde precisava chegar. Mas, ainda assim, os pensamentos me mordiam: “Eles esqueceram!” Depois de muitas horas insistindo com a mente, um vai-e-volta constante, dizendo que nada daquilo importava de fato, ela por fim se rendeu. Tive uma experiência incrível! Fiquei livre daquele fardo e estava correndo como uma criança que brincava num parque! Nunca mais tive esse problema!

 

Mais no final da corrida, pelo sétimo dia, tudo era um paraíso. Eu enxergava mais cores nos pássaros. Eu sorria mais sinceramente. Eu me identificava com as pessoas. Eu sentia algo genuíno pelos ajudantes voluntários organizando a corrida. Sorria com sinceridade para eles, para encorajá-los, pois também estavam fazendo algo difícil. O mundo ficou muito maior, mais belo e, ao mesmo tempo, cabia muito mais coisas dentro do meu coração. Essa não foi uma experiência que acabou depois de algumas horas. Ela ficou para sempre dentro de mim.

 

Cada dia nessa corrida parecia uma semana. Acho que é por causa do progresso que fazemos. Aprendemos tantas coisas, temos de nos tornar tão mais fortes de um momento para o outro, que a sensação é a de anos de aprendizado.

 

Alguns dias depois da corrida, comecei a ficar mais forte. As crises de fraqueza começaram a diminuir em intensidade e regularidade. Tive esperança novamente. Depois de um ano, comecei a ficar fraco de novo, mas repeti a corrida nos anos seguintes, com melhoras evidentes. Hoje, quase tudo já passou – o que ficou mais foram as memórias.

 

Até hoje, já fiz essa corrida oito vezes, e ano que vem a farei novamente! Tudo começou naquele dia, no curso de meditação.

 

Se você acredita que correr dez dias é incrível (e estaria certo), já ouviu falar da corrida de 5000km? O tempo limite é 52 dias, mas você precisa fazer quase 100km por dia em média para terminar nesse tempo.

 

 

 

Corrida Sri Chinmoy de 10 dias

um poema em três partes descrevendo a minha experiência na primeira corrida de 10 dias que fiz.

 

Infernos – preâmbulo

 

Vida fraca,

vontade esvai,

corpo fraqueja,

a mente entrega –

é o início do encontramento:

Treino,

barreiras,

provas.

 

Purgatório

 

Dez dias

correndo

sofrendo

doendo

sorrindo

caminhando

continuando

amando.

 

Calçados cortados,

fracasso cortado

tempo cortado

morte cortada

 

Campos Elíseos

 

Sétimo dia.

O céu, o lago, flores de grama

os campos elíseos.

Penas do pássaro negro

mostrando cores arco-íris.

Se é sonho

ou realidade,

o sonho-realidade é mais real

juntando duas realidades

num sonho só.

 

Dez dias.

Gratidão,

coragem

e fé.

 

Um singelo olhar

Um singelo olhar do meu Senhor Supremo me traz uma felicidade inimaginável.

-Sri Chinmoy

Nos dias passados eu estava muito inquieto, irritado, vazio. Em parte acredito ser por estar trabalhando mais e, ainda por cima, no computador quase que exclusivamente. Sinto que o computador deixa a mente ativa e, por não ter equilíbrio suficiente, ela acaba desestabilizando todo o resto do ser. Outro motivo é que me machuquei e fiquei uns dois ou três dias sem correr. Pode haver outros motivos que não soube dizer.

Chegou a quarta-feira que é o dia de meditação do nosso Centro. Durante, eu já senti alguma coisa que não sabia dizer o que era mudando, como se fossem bons presságios. Ao final, assistimos um vídeo de Sri Chinmoy numa meditação pública. Eu me senti como se estivesse lá presente, naquela hora, naquele lugar da meditação. Sri Chinmoy se virava para diferentes partes da plateia, e eu conseguia sentir o seu olhar passando por mim, assim como acontecia quando eu o via pessoalmente antes. Seu olhar silencioso abriu portas interiores, assim como acontecia antes.

Eu me senti uma pessoa completamente diferente. Toda aquela sensação que descrevi no início do texto tinha sido jogada fora e, em seu lugar, fiquei feliz, alegre, grato. Tudo ficou muito mais bonito. Não só espiritualmente falando, mas até minhas tarefas diárias eu fiz me sentindo muito feliz.

O olhar silencioso

Um verdadeiro Mestre espiritual é aquele que tem unicidade inseparável com o Altíssimo. Por via de sua unicidade, ele pode facilmente entrar no buscador, ver seu desenvolvimento e aspiração, e saber tudo sobre sua vida interior e exterior. Quando o Mestre medita em frente aos seus discípulos, está trazendo Paz, Luz e Beatitude das Alturas, e isso entra neles. E do interior eles aprendem automaticamente como meditar. Todos os verdadeiros Mestres espirituais ensinam meditação em silêncio. Um Mestre genuíno não precisa explicar exteriormente como meditar ou dar-lhe uma forma específica de meditação. Ele pode simplesmente meditar em você, e seu olhar silencioso o ensinará como meditar. A sua alma entra na alma dele e traz dela a mensagem, o conhecimento de como meditar. -Sri Chinmoy, do livro O Mestre e o Discípulo

Um real e um abacate – tem Alguém cuidando de mim

Hoje estava correndo, e uma moeda de um real caiu da sacola. Só ouvi o barulho da queda de um metal. Sri Chinmoy costuma contar que ele pega todas as moedinhas que acha na rua, mesmo de um centavo. A intenção é não esnobar o presente de prosperidade. Eu peguei esse costume também.

Então fiquei procurando a moeda na calçada, mas não consegui achar. Um senhor passou caminhando e perguntou, “Perdeu algo?” Enquanto caminhamos alguns metros, ele passou bem do lado da moeda, que estava bem mais para frente de onde eu estava procurando. Ele disse: “Ah, você a achou por causa de mim!” Parece algo engraçado, mas achei que Alguém tinha mandado ele, ou era Ele mesmo Alguém que foi me mostrar onde estava a moeda, pois eu justamente não tinha conseguido achar e estava prestes a me conciliar com a perda.

Agora já bem grato e feliz com a experiência e a sensação de cuidado por mim, na quadra seguinte encontrei um abacate caído para dentro de um terreno público meio abandonado. Estava verde ainda e devia ter caído na grama e rolado até a grade. Levei-o para casa como um presente também e vou esperá-lo amadurecer junto com a minha percepção das coisas!