Como interpretar as suas experiências durante a meditação

O campo das experiências interiores é vasto e, para a mente, inconcebível, pois elas acontecem num plano muito mais profundo e real do que a mente – o coração, ou mesmo na alma.

Um buscador pode ter experiências mentais ou emocionais e considerar que são espirituais; ou pode ter experiências espirituais e considerar elas apenas coisas superficiais. Há um perigo em errar no seu julgamento em ambos os casos. Apenas um Mestre espiritual verdadeiro pode dizer a um buscador se as suas experiências são reais e espirituais ou se são fruto da sua imaginação ou emoção.
Traduzimos aqui algumas interpretações de experiências de meditação feitas por Sri Chinmoy, em geral verdadeiras. Esperamos que sirvam de inspiração ou esclarecimento.

Uma regra geral é que as experiências interiores são sublimes, sutis, energizantes e delicadas – no entanto, você sente uma paz sólida e repara que a sua vida muda rapidamente. As experiências “inventadas” ou “emocionais” costumam ser manifestações de desejos conscientes ou subconscientes, e instigam-nos a buscar reconhecimento, repetição da experiência, etc.

Em geral, há uma outra recomendação, de Sri Chinmoy, que pode sempre servir-nos. Quando tiver uma experiência, apenas procure ficar em silêncio, sem julgar, sem reagir. Deixe os dias passarem. O que importa é o que está mais dentro de nós. Se a experiência ocorreu lá, isso basta; você não precisa saber o significado. Se foi superficial, não dar atenção desnecessária também o protegerá de iludir-se.

Você pode ler sobre mais algumas experiências e como lidar com elas no livro impresso Meditação.

 

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Perguntas, respostas e interpretações das experiências que temos durante a meditação

A experiência divina é alcançada através da meditação?

Sri Chinmoy: Através da meditação certamente teremos experiências divinas. A meditação é o meio. Meditando, certamente haverá experiências divinas. Sem meditar, haverá apenas experiências humanas, comuns. A meditação é a única resposta. A meditação é a chave para adentrar o mundo divino.

 

Na meditação profunda, às vezes sinto o meu corpo inteiro ficando dormente, como se fosse anestesiado. Só consigo mexer os olhos.

Sri Chinmoy: Essa é uma experiência muito boa, a experiência do silêncio. A mente se rendeu completamente ao coração durante a sua meditação. O coração leva a mente consigo, e ambas se entregam à alma. Então você tem o sentimento de silêncio estático. Tente permanecer nesse silêncio; não o tema. Você pode ficar nele por alguns dias ou mesmo um mês sem medo. Esse silêncio se tornará silêncio dinâmico. Você sentirá que no silêncio há uma criatividade espontânea, um movimento espontâneo, uma vida espontânea – a vida do despertar espiritual, experiência espiritual e revelação espiritual.

 

As pequenas experiências esporádicas que temos durante a meditação são partes da realização, ou são pequenos passos para a realização?

Sri Chinmoy: De uma certa forma, cada experiência o leva para a realização; cada experiência é um passo em direção à realização. Mas se, ao invés de andar devagar, pudermos correr muito rápido, não precisaremos de milhares ou milhões de experiências antes de realizar Deus. Cada experiência certamente nos auxilia; elas nos trazem confiança, alegria. Alguém pode dizer que quer comer uma manga hoje, uma laranja amanhã e outra fruta depois de amanhã. Antes de ele obter a fruta que considera a sua meta, terá várias pequenas sensações da fruta. Mas apenas quando comer a fruta que é a sua meta é que ele terá a satisfação plena. Se alguém é absolutamente sincero em dizer que não quer nada senão realização, essa pessoa dirá: “Não quero outra fruta. Quero apenas a fruta que é para mim, a fruta que é a minha meta, a fruta que me oferecerá a completa satisfação.

 

Quando medito, às vezes tenho a sensação de que estou olhando para todo lado. O que isso significa?

Sri Chinmoy: Quando medita, você está mesmo olhando para todo lado. A sua consciência está expandida. Você não é uma só pessoa dentre muitas na Terra; você sente que o mundo inteiro pertence a você e que você pertence ao mundo. O mundo pode considerar você como parte dele. Neste exato momento você não consegue reivindicar o mundo como parte de si. O seu irmão, irmã, o resto da sua família – eles são seus, mas é só. No entanto, quando sente que está enxergando tudo a seu redor durante a meditação, tudo é seu, todos são seus. Interiormente, tudo faz parte de si, e tudo que está ao redor você pode considerar parte de si. É uma ótima experiência.

 

Como posso ter uma experiência transcendental na minha meditação?

Sri Chinmoy: Se quer ter experiências transcendentais, precisará de uma meditação especial além de disciplina interior. Simplesmente fazendo algo intensamente não necessariamente alcançará o que procura. Digamos que cave num lugar onde não tem água. Você pode cavar e cavar, mas, se não houver água, de que adiantará? No entanto, ao cavar num lugar adequado onde há água, você a encontrará. Se tiver a meditação correta, a orientação correta e a auto-disciplina correta, certamente terá a experiência transcendental.

 

Durante a meditação, certa vez tive a experiência de que não estava dentro nem fora. Não havia solidez, nada concreto, objetivo ou real. Eu não sabia onde estava ou o que estava acontecendo.

Sri Chinmoy: Essa é uma boa experiência. Você não estava dentro nem fora. Onde estava então? Quando não está dentro, quer dizer que não está na sua realidade mais elevada. Quando não está fora, quer dizer que não está na sua energia que flui para o exterior. O interior leva a mensagem da pureza, e o exterior traz a mensagem da beleza. Você não entrou nas profundezas maiores, onde a pureza está grandemente presente, e também não entrou nas profundezas externas, onde a beleza se manifesta. Quando o interior se torna pureza, o exterior se torna beleza. É uma forma de vivenciar a verdade. Outra forma de vivenciar essa verdade é sentir que está num lugar segurando o mundo exterior de imperfeição e o mundo interior de perfeição. Você é a ponte entre a sua vida entre o mundo interior e exterior, onde não é nem o mundo interior e nem o mundo exterior. Você está trazendo o mundo interior para o mundo exterior para que possa se manifestar e está levando o mundo exterior para o mundo interior para que possa se realizar.

 

Ocasionalmente, vejo um pequeno lampejo, uma luzinha que vai até os seus olhos e viaja a todo o redor. Às vezes, ela viaja num padrão definido e eu a vejo enquanto estou meditando na sua foto. O que isso significa?

Sri Chinmoy: O significado espiritual eu posso dar, e se não o satisfizer, então você pode ir ao médico e ver se a sua vista está em ordem. Mas eu gostaria de lhe dizer que a luz que você vê é uma luz interior, e você a está vendo com a sua visão interior. Está vendo uma luz sutil ao redor das minhas sobrancelhas ou dos meus olhos, que pertencem ao físico em mim. Isso indica que a sua visão interior aceitou o físico e também está encorajando o físico. Ao ver a luz circulando em volta do meu olho, você precisa saber que a minha parte física se tornou uma com a sua aspiração. Eu incorporo a aspiração do físico em você e em todos os discípulos. Enquanto aspira, você vê o físico em mim assim como o espiritual em mim. Os dois não podem ser separados. A luz é o espiritual em mim e os olhos são o físico. Portanto, a sua aspiração, o seu clamor interior agora mesmo está clamando para ser apoiado ou encorajado ou satisfeito pelo espiritual.

Ao pensar em si mesma, pense que no físico está o seu clamor interior, a sua aspiração e a sua dedicação. Essa aspiração e essa dedicação não serão à toa. Serão coroadas com o sucesso. Serão premiadas pelo físico e pelo espiritual. O físico dentro de você está aspirando e a realidade de cima, do profundo interior, virá e premiará a aspiração do físico.

Portanto, a luz que você vê é a luz do Além. Quando você a vê circulando em volta do olho, significa que o espiritual está encorajando o físico para elevá-lo, transformá-lo e satisfazer a mensagem da realidade mais elevada O físico está aspirando e uma resposta está vindo da realidade e da divindade além do físico. Experiência muito boa, maravilhosa!

 

Se nós, discípulos seus, temos dúvidas quanto ao decorrer de uma ação e não sabemos qual é a vontade do senhor, como podemos decidir o que fazer? Meditar na foto do senhor vai solucionar a questão?

Sri Chinmoy: Vocês podem meditar na minha foto. Durante a meditação, conseguirão a resposta ou não. Não há uma regra predeterminada. Mas se conseguirem um tipo de alegria interior com uma resposta, então será a resposta correta. Se não há alegria, então a resposta não está vindo da foto. Está vindo da mente.

Há outra coisa importante que gostaria de dizer. Sempre que tiverem sonhos ou visões, por favor, não tentem interpretá-los ou pedir a outras pessoas que os interpretem, pois vocês vão cometer um erro terrível. Se vocês tiverem uma visão ou uma experiência interior, mergulhem profundamente em seus interiores e descubram o significado ou me perguntem sobre o significado. Se tiverem uma experiência maravilhosa, escrevam para mim. Posso não responder exteriormente ou dar uma mensagem interior específica, mas vou abençoá-los e apreciarei suas experiências. Se tiverem uma experiência realmente divina, meu ser interior saberá imediatamente.

 

Venho tendo experiências telepáticas com pessoas que se chamam de mágicos. Converso com eles enquanto estão em outros lugares. Posso entrar nesse reino quando quiser. Estou curioso em saber como você responderia a essas experiências.  

Sri Chinmoy: Do mais elevado ponto de vista espiritual eu gostaria de responder à sua questão. Essas experiências o ajudarão a ir mais rápido em direção à sua meta? Não, não ajudarão. Essas experiências são fascinantes, indubitavelmente, mas nunca o levarão à realidade. Pelo contrário: elas são tentações noseu caminho para a realização em Deus, a elevadíssima Verdade. Em nossa vida espiritual, muitas vezes temos experiências fascinantes e não queremos mais aspirar. É verdade que essas experiências podem nos incentivar, mas muitas vezes, quando temos experiências demais, entramos no mundo vital. Vemos um caleidoscópio: vemos todos os tipos de coisas belas, mas elas são só tentações. Suponha que você esteja andando por uma rua em direção a um lugar específico. Se vê árvores, flores e lagos bonitos pela rua, o que acontece? O cenário é tão bonito que você acaba descansando. Você diz: “Deixe-me ficar aqui e apreciar isso,” e então para e aprecia a paisagem. Mas o seu destino permanece uma meta distante.

Um buscador sincero sabe que a meta dele é a Verdade mais elevada. Ele não adiará a jornada. Mas, no seu caso, posso ver que você aprecia essas experiências; você dá a elas a sua atenção consciente. Isso é muito errado. Na vida espiritual, aspiramos pela mais alta Verdade, por Deus, e por nada mais. Essas experiências são verdadeiras tentações para você. Você deveria sentir: “Tendo realizado Deus, terei experiências infinitamente mais belas, significantes e frutíferas”. Com essa idéia, você deveria deixar de lado essas experiências telepáticas. Se sente que entrando nessas experiências ou permitindo que elas entrem em você, acalentando-as, conseguirá experiências mais elevadas, está enganado. Você não irá nem um pouco mais adiante. Se insistir nelas a toda hora, se estiver constantemente fascinado por elas e sentir que é parte delas, será pego por essas experiências. Muitas pessoas cometeram esse engano, e para elas a realização em Deus permaneceu uma meta distante.

Buscadores sinceros tomam essas experiências como obstruções no caminho. Por favor, não dê atenção a esses tipos de experiências. Elas são fascinantes, mas não estão satisfazendo a sua vida de dedicação, realização e manifestação. De manhã cedo, tente silenciar a sua mente. Se conseguir silenciar a sua mente, não terá essas experiências. Elas estão vindo do mundo vital até você. Você está acalentando essas criações do mundo vital e tentando colocá-las à sua disposição, como se fossem muito suas. Mas elas não podem levá-lo à Meta mais elevada. Se a sua intenção é o Altíssimo, então essas coisas têm de ser descartadas. Quero que você vá até alguém que o inspire a entrar no reino da pura aspiração. Você será capaz de trazer à tona a luz da sua alma e correr o mais rápido possível em direção à Meta mais elevada.

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Meditação e o esforço pessoal (ou “A Disciplina e a Graça”)

Nesta semana voltei de viagem de Nova Iorque, onde meu Mestre viveu fisicamente até 2007. Foi um encontro internacional com meus amigos e colegas, e com o Mestre, interiormente. Pude compartilhar um certo tempo com meus amigos que correram as 3100 milhas, meditar, cantar diversas canções espirituais várias horas por dia, correr uma maratona e uma ultramaratona, e meditar (e mais).

Ao ir para o aeroporto para voltar para o Brasil depois de doze dias lá, eu estava no táxi e não me sentia particularmente sublime. Normalmente (acontece todos os anos) eu sentiria algo incrível, uma mudança drástica de perspectiva se comparado com antes da viagem a NY, por conta do progresso e das meditações que temos durante o período do encontro. Tudo sempre parece mais belo, e luminoso, e tranquilo, e perfeito, e preenchedor. Mas desta vez conseguia perceber claramente que eu parecia muito pouco diferente da pessoa que tinha saído de casa para vir para NY. Eu havia feito algumas meditações extras, ainda que curtas, enquanto havia poucas pessoas no nosso jardim de meditação (eu até prefiro assim, vazio, durante o por do sol, etc.). Mas parecia que não tive a disciplina, profundidade, dedicação ou alguma coisa que fizesse com que a “mágica” acontecesse.

No entanto, cheguei em casa no Brasil, descansei uma hora e fui para o trabalho. Estava bem cansado pelas atividades (nunca tirei férias para descansar) e ainda teve o voo noturno. Mas estava feliz. Tudo parecia mais belo, e luminoso, e tranquilo, e perfeito, e preenchedor. (É a mesma frase que usei mais acima no texto, que faltava). Hoje já faz três dias que voltei, e estou sentindo ainda mais isso.

Cheguei a uma conclusão. Mesmo que eu não consiga meditar direito, mesmo que não consiga tomar as melhores decisões ou manter minha mente ou coração na vibração certa, o meu Mestre não é limitado por isso. Ele faz o que ele tem de fazer e ponto final. Ele não é limitado pela minha falta de intensidade ou receptividade – se ele faz algo, aquilo está feito.

No final das contas, percebi que todo o progresso que sempre fiz veio sempre pela Graça incondicional dele. Que é algo natural, pois eu realmente sinto que não tenho elevadas capacidades. Acho que o melhor papel que eu poderia cumprir seria de simples e completa gratidão.

“Graças a Deus”

Tem algo interessante para completar essa história, mas que aconteceu antes de tudo. Umas semanas atrás tive de ir ao dentista porque estava com muita dor. Quando cheguei no consultório, perguntei à secretária casualmente: “Olá, tudo bem?” Ela respondeu: “Tudo bem, Graças a Deus.”

Bem, parece algo corriqueiro, cotidiano – mas me fisgou profundamente: sim, realmente tudo é “Graças a Deus.” Saí do âmbito cotidiano da frase e realmente senti um fragmento da realidade absoluta dessa afirmação.

E agora, com mais essa experiência, tudo fica ainda mais belo, e luminoso, e tranquilo, e perfeito, e preenchedor.

Correr é uma forma de meditação

por Thamara Paiva

Correr é uma forma de meditação. Quando você está correndo, é só você com seu piloto interior. É seu piloto interior com Deus. É uma profunda entrega a você mesmo, e quanto mais você corre mais forte você fica – tanto fisicamente como interiormente.

A corrida é algo que nos leva pra outro lugar. A gente sente uma felicidade tão genuína que muitas vezes é difícil tentar explicar para outras pessoas. Só quem corre sabe, é preciso correr pra entender. Depois que eu comecei a meditar eu passei a entender melhor o que acontece.

Corrida e meditação são duas ações que estão profundamente relacionadas. Quando comecei a fazer o curso de meditação no centro Sri Chinmoy em Dublin aprendi na prática o significado de que correr é uma forma de meditação.

Eu estava em fase de treinamento para minha primeira maratona. Era o sonho da minha vida de corredora, e eu ia realizá-lo naquele ano. Eu era extremamente dedicada aos treinos, seguia minha planilha sem faltar nenhum dia. Podia estar chovendo, podia estar um friiiio de congelar, naquela capital cinza e gelada que é Dublin, que eu ia, sem desculpa e muito feliz. Cada dia era um novo passo que estava me levando ao meu sonho.

Nos primeiros dias de curso eu achava curioso – quando os alunos de Sri Chinmoy perguntavam como estava nossa meditação diária ao chegar na minha vez uma das meninas já logo falava: “Ah! Você nem conta, você corre todos os dias!”. E eu corria mesmo, mas além de correr eu também meditava. No início eu não entendia muito bem porque ela falava aquilo… eu ainda não tinha feito a associação profunda da corrida com a meditação.

Talvez porque eu estivesse tentando pensar racionalmente. Não dá para pensar apenas: meditação, antes ou depois da corrida? Meditação não é alongamento. Você medita antes, durante e depois da corrida.

E foi só depois de alguns meses de prática diária de meditação e uma entrega profunda aos ensinamentos de Sri Chinmoy que eu pude realmente sentir o que ela quis dizer quando falou que correr é uma forma de meditação.

O efeitos dos exercícios de meditação durante a corrida

A primeira prova que fiz na Irlanda foi em Dingle. Uma meia maratona em uma paisagem simplesmente deslumbrante. Eu sonhava há meses com essa meia maratona. Ela acontece numa estrada que é um dos cartões postais da Irlanda. O único dia do ano em que ela é fechada pra carros é no dia dessa prova. Só atletas correndo por aquele cenário que é um quadro divino. Era mesmo um sonho.

Eu não conhecia ninguém que estava fazendo a prova. Foi uma das viagens que eu adoro fazer com minha única companhia: Deus, e o desafio de me conhecer ainda mais.

O percurso da prova tinha algumas boas subidas e eu fui fazê-la apenas com uma certeza: aproveitar cada instante daquela oportunidade. E nem nos meus mais lindos sonhos poderia ter tido a criatividade de imaginar tudo que Deus me proporcionou naquele dia.

Enquanto eu corria percebi que estava fazendo um dos exercícios de meditação que eu tinha aprendido em um livro de Sri Chinmoy.

Comecei a olhar para a vastidão do céu e imaginava que eu era o céu, que eu fazia parte dele. Depois eu olhava toda a natureza à minha volta e sentia que eu também era cada uma das árvores, das folhas, do verde. Depois o percurso me levou até aquele oceano lindo e azul que passava do meu lado esquerdo. E eu sentia que eu me tornava uma com o oceano. Quanto mais eu imaginava que eu era cada um desses elementos, eu me tornava um com eles, eu ficava mais forte.

Em alguns momentos eu não sentia que estava correndo, eu estava voando, leve como um pássaro. E comecei a imaginar então que não era eu quem estava correndo. Quem corria era a minha alma e alma não sente dor, alma não cansa… a alma simplesmente voa. Voa de uma forma sublime. Então, Deus começou a correr por mim. E cada vez que eu mergulhava nisso tudo eu sentia mesmo meu corpo desaparecer. Não tinha dor. Nem mesmo nas subidas. Era uma sensação de leveza e aquela felicidade que já tomava conta de mim sempre que eu corria ficava ainda maior, ela tomava conta de todo o meu ser.

Eu corri praticamente sem olhar o tempo no relógio. Eu me entreguei ao melhor que eu poderia ser, à minha força interior, à Deus. E quando vi eu tinha feito meu melhor tempo em meia maratona da vida. Com vontade e pernas para correr ainda alguns outros quilômetros. Foi inesquecível. Foi maravilhoso. E para os meus treinos de maratona foi ainda mais inspirador. Lembro que no dia seguinte eu cheguei em Dublin e corri outros 21km pela cidade. Aquela felicidade ainda tomava conta de mim.

Meditação diária e treinos para maratona

Os treinos para a maratona estavam apenas começando. Estavam por vir aqueles dias mais cansativos. Assim como nem todo dia ganhamos ótimas meditações, na corrida também é igual: nem sempre a gente tem um ótimo dia de treino. Até para quem ama correr, alguns dias são difíceis de conciliar no trabalho, na família, ou até mesmo pela (falta de) motivação.

E foi num desses dias difíceis que eu recebi mais um presente da meditação na minha corrida.

Eu trabalhava em Dublin em uma lanchonete, geralmente minha escala era nos finais de semana, mas alguns dias me pediam para ir durante a semana também. Como eu precisava muito daquele dinheiro, eu aceitava. Mesmo sabendo que isso poderia comprometer minhas aulas na escola e meu treino para a maratona – já que meus treinos eram sempre de manhã.

Fui escalada pra abrir a lanchonete, entrei às 6h e (para a minha não sorte) acabei tendo que fechar também e ficar até 16h30. O trabalho era em pé, andando de um lado pro outro. Talvez eu tenha sentado uns 30 minutos para almoçar, e só. Era início da semana e meu corpo ainda estava sentindo o trabalho do fim de semana.

Por coincidência, era o mesmo dia do curso de meditação e eu ainda tinha um treino de tiro para fazer (10km). Comecei a fazer as contas: sempre que eu ia correr 10km eu separava 1h, mesmo que precisasse de menos. O curso ia terminar às 21h e depois disso eu ia treinar, ia chegar em casa umas 23h para acordar cedinho no dia seguinte. Não estava disposta a perder nem a meditação nem o treino. Para otimizar o tempo eu fui para o curso de meditação com a roupa de treino para começar a correr de lá mesmo.

Naquele dia a minha mente estava cansada. Além disso, aquele trabalho baixava muito as minhas energias. Mas meu corpo estava pedindo para correr.

Nesse dia eu recebi mais um presente porque a minha meditação foi tão boa que dela eu tirei uma força que eu nem sabia que tinha. O treino foi um dos melhores que eu tinha feito nas últimas semanas. Depois que eu vi a minha velocidade no relógio e a média da velocidade do treino eu fiquei assustada comigo mesma e no quão rápido eu podia correr. Eu só agradeci, agradeci e agradeci por toda aquela graça que eu estava recebendo.

Se eu tivesse deixado espaço para a minha mente ganhar voz das duas uma: ou eu não teria ido na meditação ou eu não teria feito o treino. Depois de fazer tudo que fiz, se fosse pensar muito naquilo que ainda tinha que fazer e no amanhã, minha mente teria desculpas suficientes para me fazer desistir de algum deles. Porque tudo isso pode ser demais pra uma mente que pensa apenas no mundo exterior.

Eu fui pra casa depois do treino explodindo de alegria e de gratidão no coração. Eu vi que realmente o nosso limite está apenas na nossa mente. Muitas vezes nós não sabemos a força que temos, mas ela está lá no fundo do nosso coração, às vezes escondida… só querendo um espacinho para vir à tona. E a meditação te ajuda a encontrá-la, te ajuda a tirar todas as camadas que estão encobrindo-a. Cada uma no seu tempo. Mas hoje vejo que apenas com a meditação e com os ensinamentos de Sri Chinmoy eu consegui abrir meu coração para tudo isso.

Com Sri Chinmoy eu aprendi que a corrida interna é a mais importante, mas a corrida
externa ajuda nesse caminho espiritual e que cada vez que corremos mais rápido na corrida interior mais resultados vemos em nossa vida exterior. É só termos coragem para nos entregarmos.

O que a meditação me ensinou

 

Meu professor-curiosidade me ensinou

Por muito tempo.

Do que agora preciso dentro de mim

É um aluno-necessidade

E um professor-sinceridade.

-Sri Chinmoy

Sensação de oportunidade

Que a vida é inestimável: todo dia pode ser uma fonte de experiências e intenso progresso interior, contanto que estejamos despertos para elas e dispostos a nos disciplinar. O tempo é uma dádiva. A meditação é a coisa absolutamente mais satisfatória do meu dia. Prefiro dez vezes ficar sem comer a não meditar ao acordar. Primeiro o mais importante.

 

A minha meditação me ensinou

Como escapar

Da prisão-mente-desejo.

-Sri Chinmoy

Despertar interior

Que o mundo é lindo: tudo é repleto de beleza, e toda essa beleza é, por vezes, ofuscante. Não é a toa que não entendemos tudo – tem coisas que brilham tanto que ainda precisamos desviar os olhos. Mas chega o dia em que você está pronto e pode olhar para essas coisas de frente. Vale a pena o esforço e a paciência.

pássaro inscricao meditacao

O meu Mestre me ensinou

A arte da vida.

-Sri Chinmoy

 

Sentimento de unicidade

Que quase tudo é maior do que nós: na verdade, só esquecemos que fazemos parte de um todo. Com a sua meditação, você lentamente começa a viver mais no coração, e então se identificar com o todo, e enxergar todas as coisas como um plano maior, e muito perfeito.

O céu me ensinou,

Gentilmente,

A sonhar com Deus.

-Sri Chinmoy

Sabedoria prática

Que as diferenças estão na superfície: melhor lutar por crescimento interior do que por igualdade ou padronização. Todo mundo tem algo precioso dentro de si, e não vale a pena esquecer disso para tentar mudar o mundo. Os casos onde você precisa lutar também ficarão claros para você, na hora certa para você saber que estava certo.

Meu Senhor,

Eu me ensinei

A orar.

Você não me ensinaria

A meditar?

-Sri Chinmoy

 

Jeito de criança

Não tentar entender tudo é um ótimo jeito de entender as coisas. Tudo é mais claro do que parece; somos nós que complicamos tudo. O coração é o céu,  os pensamentos são nuvens que a encobrem. As coisas importantes são as mais simples. Coisas complicadas complicam a nossa vida.

Menos & Mais

Menos computador, menos telefone celular, menos internet, menos correria. Mais livros, mais esportes, mais silêncio, mais música sublime, mais serviço voluntário. Menos coisas que não preciso, mais coisas que são tesouros.

O diário de uma buscadora: uma vida de busca

por Thamara Paiva

Alguma vez você já parou para fazer uma reflexão sobre sua vida espiritual?

Há algum tempo me peguei pensando sobre a minha e vi que religião e espiritualidade sempre estiveram presentes nela, em algumas épocas mais ativamente, outras menos.

Posso dizer que eu tive a sorte de nascer em um lar no qual a religiosidade nunca me foi imposta. Meus pais nunca foram muito religiosos, embora meu avô materno tenha sido pastor de igreja evangélica e meu pai seja devoto de Nossa Senhora Aparecida. Essas foram minhas referências de espiritualidade na família.

Me sinto abençoada por isso, porque fui livre para escolher meu caminho desde criança. Eles sempre me deixaram ir para os cultos e cerimônias das mais diversas religiões. Lembro que quando era bem pequena um dia eu ia na Igreja Metodista com a amiga da minha irmã, no outro ia para escolinha espírita com uma amiga minha e em um outro dia eu ainda ia à catequese na Igreja Católica. Tudo numa mesma semana. Uma confusão danada para a cabeça de uma criança? Talvez não para a minha.

Buscando um caminho

Hoje vejo que já naquela época eu estava em busca do meu caminho, mesmo sem saber. Antes eu achava que estava indo só porque minhas amigas iam, pra ficar mais junto delas. Talvez naquela época a explicação fosse essa e fosse suficiente para uma criança de, sei lá, 8 anos. Hoje, com 30, sei perfeitamente que estava mesmo era querendo ficar mais próxima de Deus, o maior tempo possível.

Meus pais nunca me levaram à missa, mas eu contribuía com o dízimo, de um salário que eu nem tinha, porque eu achava que era importante. Por isso, eu era chamada de “beata” pela minha irmã. Cheguei até a crismar na Igreja Católica.

Mas naquela época eu já entendia mais sobre espiritualidade e a igreja não respondia todas as perguntas que eu tinha. Terminei os estudos para fechar o ciclo. Depois disso nunca mais voltei a frequentar a Igreja Católica, eu já não me sentia católica.

Se podemos chamar de uma transição, foi nessa época que comecei a descobrir a energia, comecei a entender sobre os outros planos. Eu era muito curiosa e fiz vários testes “físicos” para sentir essa energia e tentar entender o que acontecia naquele plano que eu não conseguia ver. Comecei a ler bastante e a estudar um pouco sobre isso.

Nesse tempo não tinha internet e eu morava numa cidade bem pequena, então eu encontrava algumas novidades nas revistas na banca de jornal.

Tive várias descobertas e cada vez mais aquilo fazia sentido pra mim e eu me sentia parte de tudo e minhas perguntas começavam a ser respondidas. Encontrei muitas delas no espiritismo, religião que segui desde quando fechei o ciclo da Igreja Católica. Me envolvia em tudo que eu podia: viagens, encontros, estudos.
Sempre que mudava para uma cidade era o primeiro lugar que eu buscava, como se fosse um refúgio. E por anos e anos eu frequentei palestras por toda cidade onde eu ia. Tive a chance de conhecer várias casas espíritas.

Houve tempo em que eu saía da minha cidade, viajava por duas horas só pra assistir à palestra de uma médium excepcional e pra tomar o passe dela. Chegava na cidade por volta das 13h para entrar pra fila. A reunião só começava umas 17h30 e terminava às vezes às 22h, outras 23h, não tinha um horário certo para terminar. Dependia do seu lugar na fila e do quanto cada passe demorava… No final eu sentia que valia cada minuto.

Quando me mudei pra São Paulo o primeiro lugar que procurei, antes de ter um emprego, foi um centro espírita. E tinha um bem na frente da minha casa. Eu me senti tão agradecida, fiquei tão feliz por aquilo. Chegando do interior do interior de Minas Gerais para a selva de pedra pela primeira vez. Isso só podia ser um sinal de que estava no lugar certo.

Como eu estava ali pertinho, virei a papa-passe. Tinha semana que eu ia 3 vezes para a palestra e pra tomar o passe. Ia quando estava feliz, ia para agradecer, ia quando estava triste, ia porque estava sol ou porque estava chovendo. Eu ia porque me fazia bem.

Então descobri que lá eles davam cursos. Já há um tempo vinha sentindo que precisava me aprofundar. Quando entrava na salinha do passe minha vontade era de estar ali sendo o instrumento para a transfusão das energias dos bons espíritos. Muitas vezes eu não precisava do passe, mas queria estar ali, sendo parte daquilo.

Mas os cursos eram muito concorridos. Só consegui minha suada vaga depois de 4 anos frequentando aquele centro espírita. E então comecei a estudar. Ainda bem que comecei a estudar e o estudo começava a completar aquele vazio que eu sentia. Porém, para eu conseguir dar o tão sonhado passe demoraria alguns bons anos (3 anos ou mais). Eu estava disposta a estudar o quanto fosse preciso.

“Thamara, você precisa meditar”

Nessa época, a vida me brindou com mais um feliz encontro com um amigo. Após várias e longas conversas sobre espiritualidade, ótima troca de conhecimento ele me fez uma afirmação que mudaria minha vida completamente e para sempre: Thamara, você precisa meditar.

Meditar pra mim era silenciar a mente. Logo a minha que naquele momento estava um turbilhão de pensamentos. Eu não sabia nada do que era meditar. Mas eu disse: eu sei que tenho, mas não é esse o momento ainda, não me sinto preparada.

Sabe aquelas voltas que a gente faz a nossa vida dar? Essa foi uma delas. Talvez, para eu me confortar, tenha acontecido para eu me fortalecer interiormente.

Passaram-se alguns meses e eu estava conversando com uma amiga. Eu me sentia perdida, com várias perguntas na minha mente e sentindo um grande vazio dentro de mim. Conversando com ela falei que precisava encontrar algo que me completasse e que talvez deveria procurar uma aula de meditação ou algo do tipo. Eu não sabia explicar essa necessidade, era algo que vinha de dentro, como se meu coração pedisse por um alimento. Mas como eu poderia buscar por algo que eu não sabia exatamente o que era?

Foi então que ela me falou de um curso de meditação gratuito que tinha em São Paulo que ela fez e amou, só que não pode continuar. Lembro exatamente do brilho no olho dela ao me falar: “Nossa, amiga, você vai amar! É a sua cara!! E além de tudo o mestre de espiritual deles, Sri Chinmoy, corre, todo mundo lá corre! Você vai amar!” (Porque eu sempre pratiquei corrida.)

Ela me conhece muito bem para dizer isso. E me explicou como funcionava, que depois da primeira parte do curso tinha a continuação. Falou de tudo que era necessário para seguir naquele caminho, como dieta vegetariana, a não utilização de álcool e drogas. Eu quase não acreditei. Naquele momento era tudo perfeito para mim.

Na mesma hora ela me passou o número de telefone e tinha uma ressalva: você tem que ligar para saber sobre o horário e o dia, não pode mandar mensagem de texto ou WhatsApp. E foi o que fiz. Naquele mesmo dia na hora do almoço liguei para o número de um homem com nome diferente.

Sabe quando você fica tentando descobrir como é a pessoa do outro lado? Eu fiquei imaginando pelo nome em como ele deveria ser, era um nome diferente, me passava um certo tom de autoridade, não autoridade no sentido que conhecemos, de poder, mas no sentido de evolução espiritual mesmo.

Quando liguei falei com todo cuidado pra não incomodá-lo. Atendeu uma voz calma, muito simpática que transmitia alegria, lembro até hoje desse dia, uma pessoa que você poderia ouvir por horas e horas falando.

Para minha sorte o curso daquele mês começava na sexta-feira. Na mesma hora pensei: nossa, é um bom sinal. E lá fui eu para a primeira aula do curso. O salão estava lotado, quanta gente buscando meditação, pensei.

Durante o curso ouvi algumas histórias que me marcaram, as quais lembro até hoje. Eu senti que estava mesmo em busca de algo maior e ao mesmo tempo tentava me imaginar naquelas histórias e se algum dia conseguiria estar naquele lugar que até então me parecia muito distante.

A próxima aula seria na segunda-feira. Mesmo dia do meu curso no centro espírita – que suei tanto pra conseguir a vaga. Fui conversar com o moço da voz suave, aura de paz e nome diferente.

Eu não podia faltar no curso espírita e também não queria perder a meditação. Ele foi simples e categórico: “faça o que for mais importante para você”. Meu olho encheu de lágrimas. Virei e saí refletindo. Tive que fazer a difícil escolha e optei por terminar o curso espírita.

Mais uma daquelas voltas que gente faz a vida dar.

Fiz as contas: era novembro, meu curso terminaria em dezembro, então em dezembro começaria de novo o curso de meditação. Seria como se mais um ciclo estivesse fechando em minha vida para começar outro.

Só que em dezembro não teve curso. O próximo seria em janeiro.

No início de janeiro, junto com o início do curso eu comecei a namorar. Convidei ele para começar a meditar e a ir ao curso, mas era muito pra ele. Ele dizia que tinha muita coisa na cabeça para conseguir meditar. Ele tentava me apoiar, me buscou algumas vezes no curso, mas não meditava.

Era tão mágico ir para o curso que não consigo explicar. Um dia eu não estava muito bem e quase desisti de ir. Mas eu fui e lembro que depois que coloquei o pé naquela casinha tão abençoada e com uma energia tão maravilhosa eu mudei completamente o que estava sentindo. E me senti agradecida por ter ido.

No último dia do curso a gente pede ao mestre Sri Chinmoy para continuar no caminho, se aprofundar na meditação e no caminho espiritual.

Antigamente, quem quisesse entrar para o caminho espiritual de Sri Chinmoy deveria mandar uma foto. Ele meditava sobre ela e sabia se era o caminho daquela pessoa. Depois que ele deixou o corpo físico deveríamos escrever uma carta com todo nosso coração pedindo permissão a ele para seguirmos no caminho.

Mesmo sabendo de tudo que eu deveria fazer para continuar no caminho espiritual, eu escrevi minha cartinha. Com todo o amor do meu coração, eu queria muito estar ali. Pedi com meu coração que Sri Chinmoy me aceitasse. Fiquei imaginando a minha carta sendo entregue a ele e que queria que ele sentisse toda minha sinceridade em fazer parte daquilo.

Mas eu fiz minha vida dar outra volta. Saí de lá com o coração apertado por não poder continuar naquele momento, saí quase fugida, porque eu não ia conseguir falar com palavras que não ia continuar.

Hoje vejo que eu estava preparada naquele momento para seguir esse lindo caminho, mas não fui forte o suficiente. Naquela época eu ainda não sabia ouvir meu coração, então preferi “fugir”. Mas eu continuei meditando regularmente.

“A partir daquele dia, eu já sabia… e me entreguei”

rosa sonhosEu estava passando por uma transformação na minha vida. O emprego que eu tinha já não fazia mais sentido. Eu tinha acabado de ser promovida, mas não me sentia feliz lá, nada me completava. Minha vida estava sem propósito. A única coisa que me deixava feliz era correr, só correndo eu conseguia ser eu mesma. Por isso, há alguns meses estava me programando para “me dar um tempo”, ir para a Irlanda estudar inglês.

Pedi demissão, o namoro acabou e eu fui pra Irlanda. Tudo isso em quatro meses.
Chegando em Dublin, a primeira coisa que fiz foi buscar um centro espírita. Encontrei, tinha um dia de palestra, outro de estudo. Fui primeiro no estudo. Não encontrei exatamente o que eu buscava. Era bem diferente, aliás, do que eu estava acostumada ou do que eu esperava. Saí de lá pensando: terei muito trabalho pela frente, vou precisar estudar dobrado para conseguir o que quero.

Continuei indo ainda que não fosse o que eu procurava, achava que não tinha outra opção, porque era o único centro espírita Kardecista de Dublin, e eu precisava fazer parte de algo espiritual.

Como Deus faz tudo certo e a gente não precisa pedir nada, só agradecer pelo que tem e aceitar tudo que vem, um dia eu estava andando pelas ruas de Dublin e me deparei com um cartaz: Festival de Meditação Gratuito. Eu quase não acreditei no que estava vendo. Logo, pensei: aqui também tem meditação de graça.

No cartaz tinha um número de telefone e um site. Entrei no site para ver a programação e com quem me deparo? Sri Chinmoy. Aquele mesmo mestre espiritual que meu coração tinha pedido tanto para ser sua discípula. Foi mágico, foi inesquecível.

Lá o procedimento para ir no curso era mandar uma mensagem de texto com suas informações. Enviei, mas a mensagem não chegou. Fui mesmo assim, se me perguntassem porque meu nome não estava na lista, mostraria que tinha tentado enviá-la. Meu coração estava em festa.

Cheguei na loja de instrumentos musicais, onde foi o curso, falando toda orgulhosa que já conhecia eles, que eu já tinha feito o curso. Nem pediram para confirmar se meu nome estava na lista. Estava tudo certo, eu estava onde deveria estar.

O salão estava lotado de gente de tudo quanto é lugar. Foi tanta gente que no primeiro dia eles deram duas aulas ao mesmo tempo. Foi lindo, eu me senti como se tivesse encontrado o que eu procurava.

A partir daquele dia eu já sabia que dessa vez nada me tiraria daquele caminho, e eu me entreguei.

Ao mesmo tempo que achava que já sabia de tudo, era tudo novo. Cada dia uma nova descoberta. Novas experiências. E um novo mundo se abriu pra mim. Um mundo de mais luz e mais sinceridade. A cada passo que eu dava eu agradecia mais a Deus por ter me dado a chance de encontrar o caminho de Sri Chinmoy.

Quanto mais eu me abria, mais coisas aconteciam. Quanto mais eu me permitia, mais feliz eu me sentia. Agora sim, tinha encontrado minha família, meu propósito, eu estava completa.

O caminho de Sri Chinmoy é um caminho de muita luz. Nele, eu encontrei o que eu buscava desde quando era criança, porque no caminho espiritual você não vai a um lugar apenas para meditar e ponto, acabou. A meditação está em tudo, ela se torna sua vida.

Se você segue o caminho da devoção, se você se entrega com todo o coração, você não se sente vazio e você vê que não está sozinho. Existem muitos outros buscadores, assim como você, que levam a vida espiritual plenamente e isso te ajuda a ficar ainda mais forte. Tudo que você passa a fazer na vida faz mais sentido e tem um propósito.

Acredito que tudo acontece no tempo que deve acontecer, no tempo de Deus. Meu coração encontrou esse caminho com 29 anos e hoje sou eternamente grata por ter sido aceita por Sri Chinmoy e por não ter demorado tanto tempo a aprender a ouvir meu coração e a entender que esse era o caminho certo.