Quando leio algumas histórias de Sri Chinmoy ou quando me recordo das minhas memórias com ele, uma coisa que sempre vejo repetir com seus discípulos é que ter uma consciência doce e infantil (não me refiro a ser infantil como sendo bobo) é uma importante e talvez uma vantagem essencial.

Quando eu estou em uma consciência mais infantil, tudo parece mais espiritual, naturalmente espiritual ou divino. Quando eu estou em uma consciência mais séria, as coisas podem facilmente parecer como um problema ou eu sinto como se estivesse tendo uma febre mental.

Descobri que existem alguns caminhos que me ajudam a entrar em uma consciência mais infantil, como:

● Meditação. Quando realmente acontece funciona muito bem. Porém, eu não posso contar que eu vou ter boas meditações a qualquer hora que eu quiser. Eu as tenho, mas me parece que elas vêm mais como presentes incondicionais do que por conta do meu know-how de meditação.
● Outra forma é passar um tempo com crianças. Isso realmente funciona pra mim.
● E uma terceira forma é fazer atividades que crianças gostam de fazer, fazendo de mim uma criança, por assim dizer.

Sri Chinmoy desafiou suas capacidades com vários projetos (como sua série Sonhadores-Arco-íris), os quais incluem feitos como corrida, pulos, malabarismos, pinturas e etc. Mas não foi só isso, em seus feitos também incluem jogos de crianças, como piões, bolinha de gude e por aí vai.

Parece que sempre gostei de brincar desses jogos (mesmo depois de já ter passado dos meus 30 anos), mas talvez a falta de companhia ou excesso de rigidez mental não me deixou ver a ação da disciplina benéfica do ato de jogar regularmente.
Identificando-se com crianças
De uns anos pra cá, tivemos alguns pais começando a participar dos encontros em nosso centro de meditação Sri Chinmoy em São Paulo.

Eu naturalmente percebi e entendi, considerando a perspectiva do longo e solene silêncio de meditação e sérias conversas espirituais, que as crianças também se sentiam em casa.

Mas não há tanta coisa que você você pode conversar com crianças. Crianças parecem não ter, na maioria das vezes, interesses nas discussões, conclusões, finais e raciocínios que nós muitas vezes tentamos alcançar enquanto estamos conversando com outros sobre assuntos espirituais ou não.

Eu gosto muito de ouvir sobre experiências de outras pessoas no caminho espiritual, mas acho que quando eu mesmo ou outros tentamos raciocinar ou explicar ou ensinar alguém sobre tópicos espirituais, há geralmente raciocínio desnecessário e às vezes viagem do ego. Nós somos todos buscadores, está tudo perfeitamente bem em apenas tentar e falhar…

Mas sempre procuro simplesmente faz algo que me faz sentir realizado, infantil e espontâneo, isso me parece muito mais alinhado com os ensinamentos de Sri Chinmoy e um melhor uso de tempo e energia.

Então, a fim de nos identificarmos com nossas crianças recém-chegadas, nós criamos um interesse comum: jogar jogos!

Finalmente eu encontrei alguém que realmente entendia quão importante é jogar e eles também encontraram um adulto (talvez isso seja uma afirmação qualificada) em mim alguém que realmente entendia o quanto jogar era mais importante do que outras coisas chatas e sérias que não fazem ninguém realmente feliz.

A propósito, existe uma anedota interessante dita por Sri Chinmoy em seu livro “Asas da Alegria”, na qual um reconhecido e sábio cientista cujo nome era Dr. Satyendranath Bose declina em presidir um conselho científico porque ele havia prometido jogar com as crianças – um de seus passatempos favoritos, o qual deu a ele mais satisfação do que presidir conselhos científicos.

Quanto a mim, eu sinto que venho aprendendo com as crianças e seus pais lições que estavam atrasadas há um tempo em meus anos como um buscador espiritual e discípulo de Sri Chinmoy.

Então, simplesmente por ficar com eles eu pego muito mais espontaneidade, alegria e bons sentimentos. Às vezes, quando eu penso nas crianças com quem eu brinco, eu uso um apelido secreto: professores.

Pois acho que aprendo mais e mais rápido com a honestidade e busca sincera de alegria e felicidade delas do que quando tenho conversas espirituais ou um pouco espirituais – embora eu ache as conversas muitas vezes elevadas, importantes e gratificantes. Quero dizer apenas que a experiência com as crianças nos últimos anos tem aparentemente me proporcionado mais oportunidades de progresso do que as conversas.

Jogos que jogamos

Nós temos um grande número de jogos, e escolhemos jogar de acordo com a idade e afinidades pessoais.

Meus jogos favoritos são os jogos esportivos infantis que eu jogava na rua quando eu era criança: o número um é definitivamente esconde-esconde (no qual um dos nossos pais está invicto até hoje); o número dois talvez seja futebol; nós também temos uma variação de críquete que somente as crianças jogam aqui no Brasil; nós também fazemos batalhas usando elásticos como munição para serem jogados um no outro (eles não machucam de forma alguma).

Então, vem as atividades internas, como os jogos de tabuleiro. Se você conhece somente Monopoly, Palavras-cruzadas, eu posso assegurar que você está perdendo algo muito divertido e inspirador nos dias atuais, chamados de jogos de tabuleiro “modernos”.

Eu poderia recomendar alguns títulos básicos que vão levar sua mente longe quando você jogar, como:
– Jogos competitivos:
● Ticket to Ride
● One Night Ultimate Werewolf
● Tresure Island

– Jogos cooperativos:
● Ubongo
● Animal Upon Animal (ou Rhino Hero Super Battle)

– Jogos de adivinhar:
● Concept
● Mysterium (ou Dixit ou ao invés desse, o When I Dream)

– Jogos storytellings:
● Stuffed Fables
● Mice and Mystics

– Para as crianças mais “crescidas” existem alguns jogos sérios, históricos e temáticos, como:
● Freedom: The Underground Railroad (como contemporâneos de Lincoln fazendo sua parte para abolir a escravidão)
● Black Orchestra (sobre patriotas alemães tentando parar com as atrocidades do Nazismo na Segunda Guerra Mundial)
Esses jogos fazem você pensar na situação do mundo e no cuidado do Supremo para isso, entrando em contato com a história e possíveis mecanismos e desafios que os herois históricos encontraram.

Eu amo todos esses jogos, então eu poderia explicar um por um. Mas, primeiro, basta dizer que eles são totalmente divertidos e envolventes, e eles nos fazem sentir bem e construir ótimas memórias com nossos amigos.

Segundo, cada tipo de jogo vai trazer às crianças novos conceitos ou aguçar aqueles já existentes (como cooperação para um objetivo, habilidades de leitura, destreza, história do mundo, etc).

Eu também gosto às vezes de colorir desenhos de animais. Eu posso tentar desenhar também, mas isso não me atrai tanto quanto um bom jogo de tabuleiro ou brincar de esconde-esconde.

Resultados de jogar jogos na vida cotidiana

Nós também tivemos experiências que as crianças começaram as ter melhores relacionamentos e uma melhora em situações difíceis na escola simplesmente por pegarem alguns de nossos jogos de tabuleiro para usá-los durante um momento de recreação. De repente, todos se tornaram amigos e isso deixou todos felizes!

Com os jogos de tabuleiro, você terá uma biblioteca não de livros, mas de desculpas para ter alegrias inocentes com pessoas que você gosta. E, como uma biblioteca de livros, e diferente dos video games, depois de 40 anos, você ainda será capaz de pegar seus jogos da prateleira e ter um momento perfeitamente bom.

Eu joguei tanto video game na minha fase de crescimento que acho que isso atrapalhou meu desenvolvimento como criança e mais tarde como um buscador da vida espiritual. Isso mais me parece agora como uma tremenda perda de tempo (quando eu olho pra trás, eu não aprendi nenhuma habilidade cultural na minha fase de crescimento: nenhuma música, línguas, nenhum esporte, nem artes – apenas vídeo games).

Eu imagino que equipamentos eletrônicos deixam a mente tão inquieta e reativa que o coração acha difícil vir à tona – completamente o oposto da meditação. É o que parece para mim.

Mesmo nos dias atuais, eu acho que se eu ler muitos livros eu me sinto muito bem em vários aspectos, mas se eu gasto um longo tempo no computador ou no telefone celular eu me sinto muito cansado ou inquieto.

De qualquer forma, em uma nota positiva.. eu gostaria de convidar você a olhar em volta e talvez perceber que você está envolto por crianças agora mesmo… eles podem não parecer crianças, mas, assim como eu, eles podem ser apenas uma grande e crescida criança que esqueceu quem ela realmente é. Eu não acho que teria essa noção se não fosse pelo constante exemplo e orientação interior de Sri Chinmoy.