Introdução à meditação 7 – sabedoria ou conhecimento interior?

Introdução à meditação 7 – sabedoria ou conhecimento interior?

Negligenciamos a palavra ‘sabedoria’, mas isso é infelizmente um erro. Conhecimento e sabedoria são coisas diferentes. Conhecimento é como um livro da biblioteca. Conhecimento lida com fatos. Sabedoria lida com realidades interiores e coisas divinas interiores. Quando falamos sobre amor, devoção e entrega, sabemos que o amor, devoção e entrega são fundamentados na sabedoria. Deixamos a vida comum, mundana, humana – por quê? Porque a sabedoria despertou em nós. Não é que imediatamente o amor por Deus surge, a devoção surge, não. A sabedoria nos compele ou nos inspira a deixar a vida comum mundana, a vida familiar, a vida-desejo. A sabedoria nos mostra que a vida desejo é como mastigar espinhos.

-Sri Chinmoy, do livro Light Language, Vidagdha Bennett.

Muitas pessoas nos ligam ou comparecem aos nossos cursos buscando ‘auto-conhecimento’ ou ‘conhecimento interior’. O que gostaríamos de compartilhar aqui é que o uso dessa palavra conhecimento pode nos dar a impressão de que é algo que você pode obter vindo no curso ou que alguém pode passar a você.

Na verdade, não pode. A sua alma ou o seu Mestre espiritual podem infundí-lo de sabedoria, e você pode nunca ter lido um livro. Sri Ramakrishna, por exemplo, era praticamente analfabeto.

No entanto, para não cerrar as portas da nossa alma e para iluminar nossa mente na busca por um Caminho ou Mestre espiritual que abrirá as portas da nossa consciência para a sabedoria divina que é nosso direito de nascimento, é de utilidade você ter contato com escritos de um Mestre diariamente, lendo seus livros e tentando, ao invés de aprender o conhecimento ali apenas, absorver a luminosidade da consciência do Mestre que ali permeiam. Quando você fala sobre um Mestre espiritual ou lê ou comenta seus ensinamentos, isso não lhe traz uma abertura, um certo deleite? Pois é, quer dizer que sua consciência está se elevando, ficando mais próxima da sabedoria. Não é a discussão em si do tema, mas sim a luz que permeia o nome do Mestre e seus atos o que importa principalmente.

Introdução à meditação, parte 6 – como escolher um caminho ou Mestre

curso em carapicuiba

 

“Uma palavra pode mudar a vida inteira de uma pessoa.”

– Sri Chinmoy

 

No curso de conversas informais com seus discípulos, Sri Chinmoy mencionou a visita que fez ao lugar onde viveram os Mestres espirituais Ramana Maharshi e Sri Ramakrishna. Aqui traduzo um trecho onde Sri Chinmoy menciona a sensação que pode ter ao ouvir o nome de um lugar sagrado ou do seu próprio Mestre ou caminho:

 

“Muito, muito antes de Ramana Maharshi ir para lá, Arunachala [N.d.T.: a montanha onde o Maharshi viveu e alcançou a iluminação] já era sagrada. Muitos sábios viveram lá por séculos e séculos antes da chegada de Ramana Maharshi. É por isso que esse nome o encantou. Tão logo ouviu o nome, ele sentiu algo em seu coração. Ele sentiu uma alegria indescritível, tal êxtase.

“… De forma parecida, quando alguém diz Dakshineshwar [N.d.T.: onde morou Sri Ramakrishna], sinto algo verdadeiro imediatamente. Não sinto a mesma coisa quando ouço outros nomes. Os outros lugares são todos grandiosos, importantes lugares, mas infelizmente eu não sinto a mesma coisa.

“Eu fui para o Ashram Sri Aurobindo quando tinha um ano e alguns meses de idade. A partir dos quatro anos de idade, se qualquer pessoa dissesse o nome “Sri Aurobindo”, pronto! Eu sentia tanta alegria, algo tão sagrado. Algo dentro de mim nadava no mar de deleite.

“Aconteceu quando vocês ouviram “Sri Chinmoy”? Quantos podem dizer algo assim? A minha filosofia é que deve-se pegar as fotos dos Mestres espirituais e olhar para este, para aquele. Sinta qual mais o atrai, qual deles possui uma atração magnética. E então vá.

“Uma palavra pode mudar a vida inteira de uma pessoa.”

-do livro Light Language, Vidagdha Bennett

Introdução à meditação, parte 5 – o despertar interior

Introdução à meditação, parte 5 – o despertar interior

-Sri Chinmoy, do livro Aspiration-Flames

 

Na vida espiritual, utiliza-se o termpo “despertar interior”. Se alguém está desperto, é natural que essa pessoa corra em direção à sua Meta. Quando você está pronto, quando chega a sua hora, você se levanta e corre em direção à Meta. Depois de um certo tempo, outra pessoa estará pronta e correrá em direção à Meta dela. A vida espiritual não é como a vida do militar, onde todos são forçados a seguir na mesma ordem de marcha. Não há compulsoriedade; não há forçar. A vida espiritual é voluntária, algo de nossa escolha pessoal. Podemos aceitar ou rejeitar Deus a nosso bel-prazer. Se aceitarmos Deus, sentiremos que cedo ou tarde seremos verdadeiramente satisfeitos. Se não aceitarmos Deus hoje de forma consciente, chegará o dia em que Ele nos obrigará a aceitá-Lo, pois não permitirá que continuemos insatisfeitos e sem realização; isso é assim justamente porque o propósito da criação de Deus é a satisfação.

 

Tenho uma história para contar. Dois filhos estavam diante de um lago, e a mãe os observava. Um filho é muito bom e obediente e quer agradar a mãe. Ele sabe que, se entrar na água, todo o seu corpo será renovado; ele terá uma sensação de pureza. Portanto ele salta no lago e fica limpo e refrescado. Mas o outro filho é preguiçoso. A água ainda está muito fria, e ele tem medo. Fica esperando, esperando, esperando. A mãe aguarda um certo tempo, mas então fica irritada e empurra o filho na água.

 

O primeiro filho foi obediente e conhecia a necessidade de se banhar, e portanto o fez. Na vida espiritual, aqueles que estão despertos – os filhos obedientes, os filhos espirituais – naturalmente farão o que é necessário para agradar ao seu Piloto Interior, Deus. Eles sabem que, ao agradar seu Piloto Interior, estão adiantando sua marcha a Deus. Os que não sentem essa necessidade, que estão com medo ou relutantes, farão Deus esperar por algumas centenas ou milhares de anos. E então Deus os compelirá, porque Deus, como a mãe, sabe da necessidade da limpar, purificar e iluminar os indivíduos.

 

A vida espiritual não é como uma corrida, onde todos começam do mesmo ponto de partida na mesma hora. Quando estiver pronto, você terá o seu ponto de largada; quando eu estiver pronto, terei o meu próprio. Mas a Meta é sempre a mesma. Você pode começar a sua jornada poucas horas ou anos antes de mim, mas quando alcançarmos nosso destino, será o mesmo lugar.

 

Mas isso só é verdade no caso da meta derradeira, a Meta altíssima. Ao invés, seu objetivo pode ser apenas uma gota de Paz, Luz e Deleite. Quando chegar lá, ficará satisfeito e não desejará nada mais. No seu caminho até o destino derradeiro você encontrará um objetivo parcial e talvez acredite que seja a Meta final. Então ficará lá por um tempo, porque o seu ser interior ou exterior não quer ir mais longe, mais algo e mais fundo. Mas quando eu alcançar essa meta, que também deverei alcançar, talvez eu queira ir mais longe.

 

Enquanto caminha pela rua, você enxerga uma bela árvore com flores e frutos. Você para e aprecia os frutos e pensa que chegou na sua Meta. Mas no caminho para a minha Meta eu posso dizer: “Deve haver algo mais belo, mais poderoso, mas significativo do que isto.” É natural que eu queira ir mais longe e percorrer uma distância maior. Você também irá mais alto e mais longe depois de alcançar a sua meta, pois a Meta derradeira deve ser alcançada. Mas, quando eu chegar na minha Meta última, e você chegar na sua Meta última, serão iguais; a Meta derradeira é a mesma para todos.

 

-Sri Chinmoy, Aspiration-Flames

Introdução à meditação, parte 4 – largando para trás o bom por algo melhor ainda

The light in the heart of man

Can easily guide

The eyes of man.

 

A luz no coração do homem

Pode facilmente guiar

Os olhos do homem.

 

-Sri Chinmoy

 

 

Hoje estava meditando e tive diversos pensamentos bons e agradáveis no início da meditação. Por sorte ou Providência, imediatamente lembrei do que Sri Chinmoy fala sobre os pensamentos durante a meditação:

 

” A melhor coisa é procurar não permitir que nenhum pensamento entre na sua mente, seja ele bom ou ruim. Seria como se você estivesse no seu quarto e alguém batesse à sua porta. Você não sabe se se trata de um amigo ou de um inimigo. Os pensamentos divinos são os seus verdadeiros amigos, e os pensamentos não-divinos são os seus inimigos. Você gostaria de deixar seus amigos entrarem, mas não sabe quem eles são. E, mesmo que saiba, ao abrir a porta para eles, talvez veja seus inimigos ali também. ” (continua no fim do artigo)

 

Mesmo bons pensamentos o distraem da sua meditação. Tentei render, entregar esses bons pensamentos ao Supremo durante a meditação. Pensei algo como “Pode ficar com isto, e por favor me dê aquilo que Você queira me dar.” A meditação foi muito melhor!

 

Isso me fez lembrar também coisas “boas” que deixei para trás durante a vida, numa analogia à essa experiência. Estava fazendo faculdade, mas a abandonei para poder aproveitar oportunidades únicas na minha vida espiritual. Não me fez falta alguma. Tinha uma namorada, mas chegamos à conclusão que seria melhor nos separar para que cada um pudesse buscar as coisas da vida que considerasse mais importante. Foi um presente – eu nunca imaginaria o quão importante e de quanto auxílio essas decisões foram na minha vida espiritual. Na época eu não achava essas coisas ruins – elas eram boas -, mas tinha algo melhor ainda. Há uma outra parábola a se contar:

 

Um lenhador se embrenhou numa floresta, até que encontrou árvores de sândalo. A casca dessa árvore é muito valiosa. Ele pensou: “fiquei rico!”. Mas, em seguida, pensou: “Se aqui tem sândalo, será que não há algo mais valioso ainda mais adiante?”

Ele seguiu em frente, e encontrou prata. E seguiu mais em frente, e encontrou ouro. E seguiu mais em frente e encontrou diamantes.

Sândalo, ouro e almíscar – nossa busca espiritual

 

Sri Chinmoy sobre a importância de afastar os pensamentos durante a meditação

O ideal durante a meditação seria que rejeitássemos todos os pensamentos?

A melhor coisa é procurar não permitir que nenhum pensamento entre na sua mente, seja ele bom ou ruim. Seria como se você estivesse no seu quarto e alguém batesse à sua porta. Você não sabe se se trata de um amigo ou de um inimigo. Os pensamentos divinos são os seus verdadeiros amigos, e os pensamentos não-divinos são os seus inimigos. Você gostaria de deixar seus amigos entrarem, mas não sabe quem eles são. E, mesmo que saiba, ao abrir a porta para eles, talvez veja seus inimigos ali também.

Então, antes que seus amigos possam passar pela entrada, seus inimigos também entrarão. Pode ser até que você não perceba nenhum pensamento que não seja divino. No entanto, enquanto os pensamentos divinos estão entrando, os não-divinos, como ladrões, vão entrar em segredo e causar uma enorme confusão. Uma vez que tenham entrado, será muito difícil expulsá-los. Para tanto, você precisará da força de uma disciplina espiritual sólida. Por quinze minutos, você pode acalentar pensamentos espirituais e então, num mísero segundo, um pensamento não-divino pode aparecer. Portanto, a melhor coisa é não permitir nenhum pensamento durante a meditação. Apenas mantenha a porta trancada por dentro.

Seus verdadeiros amigos não irão embora. Eles vão pensar: “Ele não está bem. Geralmente ele é tão gentil conosco. Deve haver alguma razão especial para ele não abrir a porta”. Eles têm uma unicidade compreensiva, de modo que irão esperar indefinidamente. Entretanto, os seus inimigos vão aguardar só por alguns minutos. Então, perderão toda a paciência: “Está abaixo de nossa dignidade perder o nosso tempo aqui”. Esses inimigos são orgulhosos. Eles dirão: “E daí? Quem precisa dele? Vamos embora para atacar outra pessoa”. Se você não der atenção a um macaquinho, ele no fim das contas irá embora e morderá outra pessoa. Mas os seus amigos dirão: “Precisamos dele, e ele precisa de nós. Vamos esperar por ele indefinidamente”. Depois de alguns minutos, os seus inimigos irão embora. Você poderá abrir a porta e seus queridos amigos estarão ali, a sua espera.

Se você meditar com assiduidade e devoção, depois de algum tempo ficará forte interiormente. Então será capaz de acolher os pensamentos divinos e expulsar os não-divinos. Se estiver recebendo um pensamento de amor divino, paz divina ou poder divino, deixará que ele entre e você e se expanda. Você vai deixá-lo brincar e crescer no jardim da sua mente. Enquanto você e o pensamento estiverem brincando juntos, você perceberá que está se tornando esse pensamento. Cada pensamento divino que você deixa entrar cria um mundo novo e satisfatório, bem como preenche todo o seu ser com divindade.

Depois que tiver meditado durante alguns anos, você terá força interior suficiente para deixar que entrem até mesmo os pensamentos não-divinos. Quando um pensamento não-divino vier até a sua mente, você não vai rejeitá-lo, mas sim transformá-lo. Quando alguém que não é divino bate à sua porta, se você tiver força suficiente para exigir que ele se comporte bem ao entrar, então poderá abrir a porta. Finalmente, você terá de aceitar o desafio e vencer esses pensamentos inadequados. Caso contrário, eles voltarão a incomodá-lo repetidas vezes.

Você precisa ser um oleiro divino. Se o oleiro tiver medo de tocar na argila, então a argila nunca mudará, e ele não será capaz de oferecer nada para o mundo. Contudo, se não tiver medo, poderá transformá-la em algo belo e útil. É seu dever inevitável transformar pensamentos não-divinos, mas só quando puder fazer isso com segurança.

 

Sou um iniciante na meditação e acho que não consigo controlar meus pensamentos. Como posso tornar a minha meditação bem-sucedida?

Se você estiver começando agora, procure deixar que entrem apenas pensamentos divinos, e não pensamentos que não sejam divinos. É melhor não ter nenhum pensamento durante a meditação, mas é quase impossível para um iniciante não pensar. Portanto, você pode começar com bons pensamentos: “Quero ser bom, quero ser mais espiritual, quero amar mais a Deus, quero viver só para Ele”. Deixe que essas ideias cresçam dentro de você. Comece com uma ou duas ideias divinas: “Hoje serei completamente puro. Não vou permitir que nenhum pensamento mau, mas apenas a paz, entre em mim”. Ao permitir que um pensamento divino cresça dentro de você, verá imediatamente que a sua consciência muda para melhor.

Comece com propósitos divinos: “Hoje quero sentir que sou realmente um filho de Deus”. Isso não deve ser um mero sentimento, mas sim uma realidade. Imagine que a Virgem Maria está segurando Cristo em seus braços. Sinta que a Mãe Divina está acalentando você nos braços dela, como um bebê. Sinta: “Eu realmente quero ter luz-sabedoria. Quero caminhar com meu Pai. Aonde quer que Ele vá, quero ir junto. Receberei luz Dele”.

Algumas pessoas não têm esses tipos de propósitos. Não surgem ideias e pensamentos criativos. Tudo o que há é um vácuo. Talvez você pergunte o que é melhor: ter várias mensagens bobas ou nenhuma mensagem na mente. Todavia, existe uma maneira de negativa, inconsciente de meditar, que não tem vida. Essa não é a mente silenciosa. Ela não é produtiva. Na meditação de verdade, a mente fica em silêncio, mas, ao mesmo tempo, consciente.

 

Estou muito orgulhoso da minha mente. Por quê? Porque ela começou a apreciar coisas singelas: um pensamento simples, um coração puro, uma vida humilde.

 

Houve um tempo em que eu o amava, ó meu mundo-pensamento. Mas agora eu amo a beleza de uma mente-silêncio e a pureza de um coração-gratidão.