por Thamara Paiva

Quando aprendi a perceber os sinais na minha vida

Se você pudesse voltar no tempo o que você diria para seu antigo eu de quase 30 anos? Eu diria: calma, minha filha, você não controla a sua vida e você vai nascer de novo aqui mesmo nesta vida.

Embora a gente tenha de viver o presente, o aqui e o agora, como Sri Chinmoy nos ensina, às vezes eu gosto de olhar para trás para fazer uma análise da pessoa que eu me tornei. Não é viver o que aconteceu lá atrás e sim perceber o quanto eu mudei e ainda posso mudar.

Quando nascemos esquecemos de tudo que já vivemos em outras vidas e na medida que vamos crescendo podemos “desaprender” o que antes já tínhamos conquistado ou evoluir seguindo o que já começamos antes. Mas muitas vezes não conseguimos entender os sinais que Deus faz pra gente, indicando esse caminho de seguir o plano que já havíamos começado muito antes de estar aqui nesse planeta.

Comecei este texto com essa pergunta porque hoje, 26 de julho, é um dia muito significativo para mim, há dois anos eu oficialmente nascia para uma nova vida. Eu conheci os ensinamentos de Sri Chinmoy em novembro de 2017 em São Paulo e desde então posso dizer que a minha busca por algo maior só aumentou. É engraçado analisar tudo que eu sempre vivi antes e todas as vezes que não consegui sentir o sinal divino falando comigo. Sabe quando você ouve “alguém” sussurrando para fazer algo? Eu não sabia o que era…

No primeiro dia que participei do curso de meditação eu sentia que devia continuar, porém eu fiz a escolha de não seguir naquele curso. Eu poderia fazer em dezembro, já que acontecia todo mês. Só que naquele dezembro não aconteceu. Ah, quanta coisa acontece em um mês… Mas a minha sede por esse mundo da meditação estava aguçada e nada me impediria de começar o curso novamente em janeiro, nem mesmo um namoro recém-começado.

E eu fui e fiz até o final. Lembro que um dia, talvez o penúltimo, eu não estava muito bem e quase faltei, mas algo dentro de mim, que era mais forte do que eu me fez chegar até aquela casinha branquinha tão especial na Vila Mariana. E só de pisar lá dentro eu mudei e saí tão bem que só agradeci por essa força ter me guiado.

No último dia de curso eu poderia ter continuado. Eu sabia que deveria ter continuado. Aquela “voz” dizia para meu coração que era o certo a se fazer. Mas eu não conseguia ouvi-la, como não a ouvi tantas outras vezes em minha vida ao longo daqueles 30 anos. E saí correndo, como se estivesse fugindo de alguém, na verdade eu estava fugindo de mim mesma, de quem eu me tornaria. Só escrevi minha carta pedindo a Sri Chinmoy que me aceitasse como sua aluna e depois fugi.

Só hoje quando aprendi a ouvi-la e senti-la em meu coração que posso saber disso, porque eu olho pra trás e vejo quantas vezes Deus tentou falar comigo, mas eu não sabia ouvi-lo.

Nos meses seguintes minha vida mudou completamente, terminei o namoro e me mudei de país. Eu não estava feliz com a minha vida e nada me preenchia. Na verdade, a única coisa que me fazia feliz era a corrida. Acho que porque enquanto estava correndo, poderia ser eu mesma e não precisava me preocupar com nada. Era tudo tão simples e natural…

Mudança de vida

Fui para Dublin porque eu precisava muito melhorar meu inglês que não avançava no Brasil. Mas fui também em busca de algo que eu não sabia, queria uma mudança em minha vida.

Chegando lá, como sempre faço em todos os lugares para onde me mudo, busquei Deus na referência de religião que tinha. Mas lá não era como aqui no Brasil, não me completava. Eu não encontrava as respostas que queria lá. Mas onde mais procurar? Eu não sabia. E por não saber continuei frequentando o lugar onde eu conseguiria estudar as formas de me encontrar com Deus. Eu sabia que continuando lá o caminho seria mais longo… Mas eu não tinha encontrado outra escolha, sozinha seria ainda mais difícil.

Foi quando, andando no centro de Dublin um dia à tarde eu me deparei com um desses sinais que tanto ignorei na minha vida. Era um cartaz que dizia: “Curso de meditação gratuito – acesse o site e veja todas as informações”. Na mesma hora eu tirei uma foto e guardei. Ali estava a resposta que eu tanto buscava: a meditação. Como pude não lembrar dela antes?

Abri o site e me deparei com Sri Chinmoy sorrindo pra mim. Era como se ele dissesse: “seja bem-vinda, minha filha. Eu aceito você como minha aluna. Não precisa mais procurar outro caminho para encontrar Deus.”

Foi tudo tão mágico e me arrepio cada vez que lembro. Cheguei na loja de música, bem no Centro de Dublin, onde aconteceriam as aulas. Era como se eu estivesse chegando em casa. Não conhecia ninguém ali, mas eu falava pra eles: eu já fiz o curso, conheço vocês, sei quem é Sri Chinmoy. Eu fiz quatro aulas em São Paulo e já me sentia da família. Quando pisei ali na loja eu já sabia que era aquele caminho que eu ia seguir. Dessa vez eu não ia fugir.

É engraçado que para minha surpresa, acho que para eu ter certeza da escolha que estava fazendo para minha vida, aquele ex namorado que deixei lá atrás no Brasil foi também para a Irlanda. Eu senti naquele momento que era realmente uma escolha importante que deveria fazer para minha vida: ou eu seguiria o caminho “imposto” pela sociedade, o caminho que diz para gente se formar em uma boa faculdade, ter um bom emprego, casar e ter filhos; ou então seguiria o caminho espiritual, o caminho do coração, da alegria interior, da luz e de Deus. Como eu já tinha aprendido a sentir e a ouvir aquela voz que falava comigo várias vezes, escolhi o caminho do meu coração. Foi então que nasci de novo, para uma “nova” vida.

E com um aforismo de Sri Chinmoy concluo:

“Tenho tanto orgulho da minha mente.
Por quê?
Porque ela começou a apreciar pequenas coisas:
– um pensamento simples;
– um coração puro.
– uma vida humilde.”