trecho do livro O Mundo Interior e o Mundo Exterior

Donna Halper: Você tem diversos alunos, entendo eu, que seriam considerados de classe média, no sentido de serem produtos de um lar norte-americano padrão. Os seus alunos continuam por muito tempo com você, ou passam a enxergar a meditação como uma moda e logo se cansam dela?

Sri Chinmoy: Ah, não. No meu caso, tenho sorte suficiente para dizer-lhe que os meus alunos encaram a espiritualidade e meditação com muita seriedade. Mas é claro que algumas pessoas vão embora. Contudo, comparando-se o número de pessoas que vieram com os que foram, estes foram muito poucos. A meditação não é algo que se torna tedioso após alguns anos. É porque as pessoas possuem formas fixas de pensamento, ou porque possuem problemas pessoais ou vitais, que elas vão embora. Por fim, elas acabam sentindo que essa forma de meditação não lhes é adequada mais. Mas isso não é porque a meditação chegou para elas como uma moda. Elas encararam a meditação com seriedade. Mas muitos pensamentos, muitos desejos, muitas fantasias e muitas idiossincrasias podem aparecer, e as pessoas sentem que o caminho não lhes é mais adequado. Então elas vão embora.

 

Donna Halper: Compreendo. Enquanto conversamos com Sri Chinmoy, se tiverem perguntas que gostariam de lhe fazer, vocês podem ligar para o programa. Se gostariam de falar com Sri Chinmoy e perguntar-lhe sobre meditação, Yoga ou sobre a vida em geral, por gentileza nos liguem. Vocês estão ouvindo “The Other Hour” aqui na WRVR.

Enquanto isso, continuaremos conversando. Sri Chinmoy, sei que você teve um número de músicos como seus alunos. A nossa audiência estaria interessada em saber por que você pensa que músicos que estiveram tão envolvidos no que se considera a vida material – drogas e coisas do tipo – poderiam buscar um Guru.

Sri Chinmoy: A resposta é bastante simples. As coisas que fizeram antes não os ajudaram a encontrar a verdadeira divindade dentro de si mesmos. Eles não encontraram o que estavam procurando e, portanto, quiseram buscar um Mestre espiritual que pudesse lhes auxiliar.

 

Donna Halper: Parece-me que você está dizendo que proporciona aos seus alunos aquilo que sente ser o que eles buscam.

Sri Chinmoy: Eu não dou nada; eu me torno um instrumento. Eu medito em Deus e oro a Ele para que conceda aos meus alunos aquilo que buscam, contato que sejam coisas boas, coisas divinas, coisas espirituais, coisas que valham a pena. Se o aluno anseia por algo muito terreno, por algo que o prenderá, serei a última pessoa a ajudá-lo a obter tal coisa.

 

Ouvinte: Como posso entrar em contato com Sri Chinmoy ou me tornar seu aluno?

Sri Chinmoy: Há diversas maneiras de me encontrar. Por exemplo, hoje à noite oferecerei um concerto aberto ao público. Se o buscador vier me ver e ficar inspirado, poderá perguntar como fazê-lo.

 

Pergunta: Qual é o principal fator contribuinte da sua fé e como ela difere das outras fés?

Sri Chinmoy: Primeiro de tudo, na vida espiritual não há um espírito competitivo e, portanto, eu não comparo o nosso caminho com os demais. Cada caminho tem seu valor. Cada caminho possui uma forma específica de guiar o aspirante à sua Meta destinada. O nosso caminho é o caminho do amor, devoção e entrega à Vontade do Supremo. É o que enfatizamos. Não posso dizer de que formas este caminho é diferente dos outros, pois não estou familiarizado com os outros caminhos.

Se alguém segue o nosso caminho, ele tenta desenvolver ou trazer à tona o seu amor interior, amor espiritual. Diferente do amor humano, que aprisiona, o amor divino expande e ilumina a nossa consciência interior e exterior.

Quando oferecemos devoção, o que oferecemos é a nossa devoção uni direcionada ao Supremo, o Piloto Interior dentro de nós. Na vida humana comum, o que chamamos de devoção nada é senão apego. Mas a devoção divina é completamente diferente. Estamos nos oferecendo à causa certa, ao divino em nós, para que possamos nos tornar um mar de Paz, Luz e Deleite.

A entrega que tentamos alcançar no nosso caminho não é aquela de um escravo ao seu senhor. O escravo sempre teme o seu proprietário. Ele sente que, se não agradar o senhor, este o ferirá. Sempre há um sentimento de medo no coração e mente do escravo. Já, na vida espiritual, quando o buscador se entrega à sua divindade interior, ao Supremo dentro dele, sente que está se entregando à sua própria parte mais elevada e iluminada. O buscador se entrega à sua parte mais elevada, à sua altitude mais elevada e à sua luz mais interior.

Num resumo, essa é a base do nosso caminho. Se eu comparar o nosso caminho com os outros, entrarei em tristes desavenças. Os outros caminhos também podem ser certos e perfeitos. Os principais são o caminho da mente e o caminho do coração. O nosso caminho é um caminho do coração. É uma questão individual do buscador decidir qual caminho lhe será mais adequado e então segui-lo. Por fim, quando um buscador alcançar a sua Meta destinada, lá ele também verá os buscadores que seguiram sinceramente outros caminhos. Todos alcançarão o mesmo destino.

 

Ouvinte: Você acredita que Deus está na mente?

Sri Chinmoy: Não apenas na mente; Deus é a mente. Contudo, saibamos primeiro de que mente estamos falando. Falando da mente física, a mente terrena, a mente que acalenta e valoriza inveja, mesquinhez e impureza, não é ela a mente que nos auxiliará na nossa busca por Deus. A mente que é tão ampla e vasta quanto o céu, a mente que aceita e ama o mundo inteiro, tal é a mente verdadeira. Dentro dessa mente Deus consegue agir muito satisfatoriamente. Saibamos primeiro de qual mente estamos falando.

 


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